quarta-feira, 11 de novembro de 2020

NO TEMPO DO VINIL! Num balcão de loja de discos

 




NO TEMPO DO VINIL!
Num balcão de loja de discos

Luizinho na Top-Som (eu mesmo)
Meu primeiro emprego... E coincidentemente um local de boas lembranças para muita gente.

Estou falando da Top-Som Foto Discos,  loja de discos e fotos, que ficava na rua General Sezefredo, ao lado da praça Padre Miguel em frente ao ponto de taxi e na época também de caminhões de mudanças.


Ali começou minha vida profissional, tive contato com dois tipos de artes que marcaram minha vida, Musica e Fotos. Fiz muitas amizades e algumas, preservo até hoje graças a Deus.

discos saiam com o selo da loja

 nas capas quanto nos rótulos

Sempre fui apaixonado por musica, ouvia desde criança com meu pai uma variedade de estilos, pois ele tinha o gosto muito eclético (sou igual a ele). Por força do trabalho tinha que colocar para tocar o que era mais apelativo para as vendas, sem vendas, sem lucro, sem salario... e provavelmente sem emprego.

 Luizinho com 14 anos em frente
 a loja - foto Tiãozinho.

Iniciei lá com 14 anos (1974) como encerador do estúdio fotográfico, onde eram tiradas as fotos para documentos. 

E aproveitava para ficar conversando com o balconista na época, Ariovaldo Tadeu. E fui aprendendo a tirar fotos, e também revelar, eu fui ficando, ficando. E por ocasião das férias do Tadeu, os donos, Tiãozinho e Mauro me perguntaram se eu queria ficar cobrindo neste período.  E fiquei super feliz, ia ouvir musica e receber por isso... maravilha!.

Ocorreu de neste mês eu vender mais que o titular da posição, depois analisando com calma certamente calhou de ser um mês bom de vendas, não teria como eu superar um vendedor com mais experiência. Mas eles gostaram, e fiquei como segundo funcionário, mas também na função de retratista e ajudante de fotografo em casamentos, aniversários de 15 anos, formaturas etc... 

Foram anos maravilhosos, conhecia de antemão todos os sucessos que iriam estourar nos rádios, ganhava muitos discos dos divulgadores, além de ingressos para shows, coquetéis de lançamentos, visitas a estúdios nas gravadoras, lembro de ver o Wagner Tiso, na Odeon  (se não me engano em Botafogo) com um aparato de orquestra.

Assisti shows de lançamento de discos das Frenéticas, Novos Baianos entre muitos outros... ingressos para os festivais de MPB, mas um  me dá uma dor de corno até hoje, acabei não indo assistir ao Raul Seixas (lançamento do LP “ o Dia que a terra parou”, era muito tarde na Zona Sul e durante a semana, não tinha como voltar e tinha de trabalhar cedo no dia seguinte.... não se pode ter tudo.

Época boa ganhava um salario mínimo e era feliz e não sabia, não gastava com transporte, (trabalhava no mesmo quarteirão, nem atravessava a rua), almoçava  em casa só tinha despesa com roupa e farras de fim de semana, e até ajudava em casa pagando a conta de luz, pois tava podendo(rs).  O que  sobrava eu comprava muitos discos, claro que diferentes do que escutava todo dia, que eram as mesmas que tocavam no radio e na televisão. Então passei a curtir musicas diferentes, minha mãe dizia “estranhas”. 

MAS QUE UM EMPREGO, ERA A EXTENSÃO DO LAR.

   Tião Fortes (Velho Tião meu pai)
 foto : Luiz Fortes     

Mas o que gostaria de destacar, era a nossa integração, existia a relação Patrão/empregado claro, cobranças na postura, orientavam para não ficar cantando as garotas (era passagem obrigatória de muitos estudantes, Souza Lima, Corsino, Nicaraguá, Gil Vicente, Colegio Paulo Gissoni, Estado de Israel entre outras, depois a Castelo Branco na época ainda Faculdade , era imprescindível  colocar os sucessos, tocar as musicas dos artistas mais vendáveis, etc.

Claro que atendia vários pedidos...as gatinhas queriam ouvir o sucesso...

Mas a amizade com meu pai era anterior a minha chegada a loja, pois foi ele quem construiu o estúdio acima da loja, (velho Tião Fortes era um faz tudo). E essa amizade só foi aumentando, tanto que ele e minha mãe foram padrinhos dos filhos do Tiãozinho Minha mãe foi madrinha de casamento de uma delas. E saíamos algumas vezes aos domingos, para passeios, Paquetá, Mangaratiba, onde acampamos algumas vezes, muitas pescarias e almoços juntos.

Posso dizer com muita emoção era uma continuação da nossa casa.

FORAM QUAE SETE ANOS DE APRENDIZADO.

  Ig. Ns. Conceição- 1979
 foto Wagner Chagas

Trabalhei na Top-Som Foto Discos até ela encerrar as atividades em 31 e maio de 1981 em consequência de um incêndio, que vitimou fatalmente um outro vendedor Edilson (era um domingo e estava de folga ensaiando com o Grupo S.I.M [mas está é uma outra historia]) . Os Bombeiros praticamente na esquina (o quartel ficava a 200m) não tinham água. Muitas pessoas que posteriormente me viam na rua se assustavam... você não morreu ?? tive que explicar isso muitas vezes, passei um bom tempo sem coragem de passar em frente a loja, como disse era como um lar. Mas aos poucos fui superando. Mas aprendi muito, trabalhar com o publico, lhe dá um jogo de cintura enorme, ouvir sem reclamar ( o cliente tem sempre razão), nunca discutir gosto musical, cada um tem o seu e fim de papo. Aturar bêbado e saber que se tocar o que ele quer e facilmente depois educadamente convencer para ele deixar você trabalhar... Era um ponto de ônibus a General Sezefredo na época era mão dupla, tinha ponto dos ônibus, 744, 739, 391 (inicialmente na praça), do 383...todos subindo e descendo. Os funcionários da fabrica de Cartucho (até 1978)se aglomeravam ali, e os soldados também. Era um fluxo de pessoas muito grande, conheci muita gente, e com essa rotatividade e uma péssima memoria, não guardava o nome de muitos, ao contrario até hoje um ou outro me chama e fala que comprava disco lá ou ficava imitando guitarristas ( e bateristas) imaginários na porta.

Ah, e tinha que praticar malabarismo para entender o que o cliente pedia cantando naquele inglês macarrônico... (kkk) ou decifrar o nome da musica escrito em qualquer papel, era difícil, as pessoas ouviam no radio e tascavam no papel o que entendiam... sobrava pra mim.

Essas são boas lembranças, você tem alguma em especial conta aqui nos comentários..

Por, Luizinho  em 10/11/2020

 
Obs: Três coisas aconteceram recentemente que formam uma coincidência enorme.  

1) Encontrei uma foto preto e branca tirada dentro da loja e decidi colorizar ela relembrando as cores que estavam na minha memoria, quatro capas estavam incompreensíveis de se decifrar, então substitui por outras do mesmo ano (1975) e com ela ótimas lembranças vieram a tona. 

2) Tenho me encontrado com os parentes dos donos, principalmente com a filha mais velha do Tiãozinho a Maura, que nasceu no ano que eu comecei na loja.

 3) Encontrei um artigo do blogueiro Marcos Santos, que menciona a loja de discos exatamente nessa época. (segue o link:     http://bocadiurna.blogspot.com/2020/06/rato-de-loja-de-discos-death-on-two-legs.html


Velho Tião, Tiãozinho e Mauro
descrição das fotos:  1) Velho Tião , Tiãozinho e Mauro numa barca a caminho de Paquetá (foto Luiz fortes) 

2) Velho Tião na loja 3) Eu e uma estudante amiga até hoje, Selma Terzi. 4) Zé Russo (dono de outra Loja de discos e eletrônica Jetor Discos onde hoje é a Faculdade São José, Tiãozinho, Luizinho, Mauro e Luiz Carlos Batera (baterista da Banda Black Rio) na casa do Zé Russo onde íamos escutar boas musicas ao fim do expediente sempre que possivél. 5) Lateral da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Exatamente a posição que avistava nestes 7 anos . foto Wagner Chagas 1979.


 

Eu e Selma Terzi

Zé Russo, Tiãozinho, eu, Mauro e Luiz Carlos
Zé Russo, Tiãozinho. eu, Mauro e Luiz Carlos