NO TEMPO DO VINIL! Num balcão de loja de discos
Luizinho na Top-Som (eu mesmo) |
Estou falando da Top-Som Foto Discos, loja de discos e fotos, que ficava na rua
General Sezefredo, ao lado da praça Padre Miguel em frente ao ponto de taxi e
na época também de caminhões de mudanças.
nas capas quanto nos rótulos |
Sempre fui apaixonado por musica, ouvia desde criança com meu pai uma variedade de estilos, pois ele tinha o gosto muito eclético (sou igual a ele). Por força do trabalho tinha que colocar para tocar o que era mais apelativo para as vendas, sem vendas, sem lucro, sem salario... e provavelmente sem emprego.
Luizinho com 14 anos em frente a loja - foto Tiãozinho. |
Iniciei lá com 14 anos (1974) como encerador do estúdio fotográfico, onde eram tiradas as fotos para documentos.
E aproveitava para ficar conversando com o balconista na época, Ariovaldo Tadeu. E fui aprendendo a tirar fotos, e também revelar, eu fui ficando, ficando. E por ocasião das férias do Tadeu, os donos, Tiãozinho e Mauro me perguntaram se eu queria ficar cobrindo neste período. E fiquei super feliz, ia ouvir musica e receber por isso... maravilha!.
Ocorreu de neste mês eu vender
mais que o titular da posição, depois analisando com calma certamente calhou de
ser um mês bom de vendas, não teria como eu superar um vendedor com mais
experiência. Mas eles gostaram, e fiquei como segundo funcionário, mas também
na função de retratista e ajudante de fotografo em casamentos, aniversários de
15 anos, formaturas etc...
Foram anos maravilhosos, conhecia de antemão todos os sucessos que iriam estourar nos rádios, ganhava muitos discos dos divulgadores, além de ingressos para shows, coquetéis de lançamentos, visitas a estúdios nas gravadoras, lembro de ver o Wagner Tiso, na Odeon (se não me engano em Botafogo) com um aparato de orquestra.
Assisti shows de lançamento de
discos das Frenéticas, Novos Baianos entre muitos outros... ingressos para os
festivais de MPB, mas um me dá uma dor
de corno até hoje, acabei não indo assistir ao Raul Seixas (lançamento do LP “
o Dia que a terra parou”, era muito tarde na Zona Sul e durante a semana, não
tinha como voltar e tinha de trabalhar cedo no dia seguinte.... não se pode ter
tudo.
Época boa ganhava um salario
mínimo e era feliz e não sabia, não gastava com transporte, (trabalhava no
mesmo quarteirão, nem atravessava a rua), almoçava em casa só tinha despesa com roupa e farras
de fim de semana, e até ajudava em casa pagando a conta de luz, pois tava podendo(rs). O que sobrava eu comprava muitos discos, claro que
diferentes do que escutava todo dia, que eram as mesmas que tocavam no radio e
na televisão. Então passei a curtir musicas diferentes, minha mãe dizia
“estranhas”.
MAS QUE UM EMPREGO, ERA A EXTENSÃO DO LAR.
Tião Fortes (Velho Tião meu pai) foto : Luiz Fortes |
Claro que atendia vários
pedidos...as gatinhas queriam ouvir o sucesso...
Mas a amizade com meu pai era
anterior a minha chegada a loja, pois foi ele quem construiu o estúdio acima da
loja, (velho Tião Fortes era um faz tudo). E essa amizade só foi aumentando,
tanto que ele e minha mãe foram padrinhos dos filhos do Tiãozinho Minha mãe foi
madrinha de casamento de uma delas. E saíamos algumas vezes aos domingos, para
passeios, Paquetá, Mangaratiba, onde acampamos algumas vezes, muitas pescarias
e almoços juntos.
Posso dizer com muita emoção era uma continuação da nossa casa.
FORAM QUAE SETE ANOS DE APRENDIZADO.
Ig. Ns. Conceição- 1979 foto Wagner Chagas |
Trabalhei na Top-Som Foto Discos até ela encerrar as atividades em 31 e maio de
1981 em consequência de um incêndio, que vitimou fatalmente um outro vendedor
Edilson (era um domingo e estava de folga ensaiando com o Grupo S.I.M [mas está
é uma outra historia]) . Os Bombeiros praticamente na esquina (o quartel ficava a 200m) não tinham água.
Muitas pessoas que posteriormente me viam na rua se assustavam... você não
morreu ?? tive que explicar isso muitas vezes, passei um bom tempo sem coragem
de passar em frente a loja, como disse era como um lar. Mas aos poucos fui
superando. Mas aprendi muito, trabalhar com o publico, lhe dá um jogo de cintura
enorme, ouvir sem reclamar ( o cliente tem sempre razão), nunca discutir gosto
musical, cada um tem o seu e fim de papo. Aturar bêbado e saber que se tocar o
que ele quer e facilmente depois educadamente convencer para ele deixar você
trabalhar... Era um ponto de ônibus a General Sezefredo na época era mão dupla,
tinha ponto dos ônibus, 744, 739, 391 (inicialmente na praça), do 383...todos
subindo e descendo. Os funcionários da fabrica de Cartucho (até 1978)se
aglomeravam ali, e os soldados também. Era um fluxo de pessoas muito grande,
conheci muita gente, e com essa rotatividade e uma péssima memoria, não guardava
o nome de muitos, ao contrario até hoje um ou outro me chama e fala que
comprava disco lá ou ficava imitando guitarristas ( e bateristas) imaginários
na porta.
Ah, e tinha que praticar
malabarismo para entender o que o cliente pedia cantando naquele inglês
macarrônico... (kkk) ou decifrar o nome da musica escrito em qualquer papel,
era difícil, as pessoas ouviam no radio e tascavam no papel o que entendiam...
sobrava pra mim.
Essas são boas lembranças, você
tem alguma em especial conta aqui nos comentários..
Por, Luizinho em
10/11/2020
1) Encontrei uma foto preto e branca tirada dentro da loja e
decidi colorizar ela relembrando as cores que estavam na minha memoria, quatro
capas estavam incompreensíveis de se decifrar, então substitui por outras do
mesmo ano (1975) e com ela ótimas lembranças vieram a tona.
2) Tenho me encontrado com os parentes dos donos,
principalmente com a filha mais velha do Tiãozinho a Maura, que nasceu no ano
que eu comecei na loja.
3) Encontrei um
artigo do blogueiro Marcos Santos, que menciona a loja de discos exatamente nessa época.
(segue o link: http://bocadiurna.blogspot.com/2020/06/rato-de-loja-de-discos-death-on-two-legs.html
Velho Tião, Tiãozinho e Mauro |
2) Velho Tião na loja 3) Eu e uma estudante amiga até hoje, Selma Terzi. 4) Zé Russo (dono de outra Loja de discos e eletrônica Jetor Discos onde hoje é a Faculdade São José, Tiãozinho, Luizinho, Mauro e Luiz Carlos Batera (baterista da Banda Black Rio) na casa do Zé Russo onde íamos escutar boas musicas ao fim do expediente sempre que possivél. 5) Lateral da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Exatamente a posição que avistava nestes 7 anos . foto Wagner Chagas 1979.
Eu e Selma Terzi |
Zé Russo, Tiãozinho. eu, Mauro e Luiz Carlos |