
Ela contava que ele periodicamente aparecia na Escola
Nicarágua onde ela estudava, e reunia os alunos no pátio e ensinava como cantar
em corais (canto orfeônico).
E comprovadamente anos mais tarde encontrei este monografia
premiada da pesquisadora Ermelinda A. Paz - Heitor Villa-Lobos - O Educador

Tudo muito bem organizado com ônibus com local e hora marcados e lanche para todos.
Sobre a apresentação.
Foi também em São Januário que ocorreram os corais
do maestro Heitor Villa-Lobos, que em 1940 reuniu 40.000 estudantes
das escolas do Distrito Federal num coral de canto orfeônico. Naquele
mesmo ano, o estádio serviu como palco do comício de 1o. de maio que o
presidente Getúlio Vargas anunciou a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), as primeiras leis trabalhistas do Brasil. Getúlio usaria
durante toda a década de 1940 São Januário como palco de seus
discursos.
As demonstrações tinham lugar, geralmente, nos dias da Independência,
da Bandeira, Pan-americano, da Musica etc.

Do Mapa Geral das Circunscrições constavam indicações
detalhadas feitas pelos professores especializados, como número de alunos, classificação
das vozes e repertorio por escolas, de modo a possibilitar uma concentração, em
pouco tempo, sem prejuízo do trabalho letivo de rotina.
Na mesma reportagem, lemos a opinião do musicólogo e
professor José Maria Neves: "Villa-Lobos tirou proveito de sua relação com
Vargas, mas também foi usado pelo Estado Novo, por causa de sua capacidade de
organizar concentrações orfeônicas, que serviam aos objetivos do
populismo".
Sobre o assunto, também a opinião de Mozart de Araújo,
conhecido musicólogo: "Getúlio se utilizou do gênio, do temperamento de
Villa-Lobos para reforçar sua ideia de populismo, educando o Brasil pela
música".

"Villa-Lobos era apolítico: sua única política era o
progresso da música e da educação musical", disse o musicólogo Luís Heitor
Correia de Azevedo. Ainda em depoimento prestado ao Museu da Imagem e do Som,
afirma D. Mindinha: "Infelizmente essa faceta de seu talento não foi
compreendida. Os seus contemporâneos não entenderam que, ao realizar aquelas
concentrações escolares, ele queria despertar na criança o interesse pela nossa
música popular e pelas artes. Para realizar esse trabalho, ele deixou ao final
de sua vida, de se dedicar mais às suas composições. Villa queria alfabetizar
musicalmente as crianças, ensinar preceitos de educação, despertando a
responsabilidade de cada uma. Pode ter sido tachado de fascista ou comunista, mas
esse era o pensamento dele".

No jornal O Globo, encontramos a seguinte observação: “A
grandiosidade de uma festa de educação cívica, de arte e fé”. No campo do
Fluminense vibrou a alma nacional em expressões inéditas. Além da regência
tríplice (a mais suave e doce regência da História do Brasil) dos maestros
Francisco Braga, Joanídia Sodré e Chiafiteli, as mãos dominadoras e os olhos
hipnóticos de Villa-Lobos, o grande educador brasileiro.
Estiveram presentes o Sr. e Sra. Getúlio Vargas, Cardeal D.
Sebastião Leme, professor Anísio Teixeira, Ministro da Marinha, secretários dos
demais ministérios, Dr. Amaral Peixoto, representando o interventor Pedro Ernesto,
e figuras de grande representação social.”.
Depoimento do professor e escritor Guilherme Figueiredo. (irmão do ex-presidente do Brasil João Batista Figueiredo)
“O meu primeiro contato com Villa-Lobos foi quando eu me
formei em direito e resolvemos cantar bem certinho o Hino Nacional”.
Nós éramos trezentos e tantos bacharelandos. Então, pedimos
ao maestro Villa-Lobos que viesse ensinar a gente. Ele veio um homem enérgico,
furioso, cheio de gestos. Exigente, queria a pronúncia exata, o som exato.
Dividiu aquela gente toda em barítonos, sopranos, baixos, contraltos e tal, mas
saiu bonito, saiu muito bonito, realmente.
Mas eu tinha dele certa implicância, por causa do que fez no estádio
do Fluminense, grande manifestação onde reuniu milhares de alunos para cantarem
no coral. Não é que eu não gostasse disso, não gostava da homenagem que ele
estava prestando a Getúlio Vargas, que tinha acabado de se tornar Presidente da
República, ditador. Eu fiquei com muita raiva dele. Hoje compreendo que
Villa-Lobos, para perseguir o que queria, aproximava-se de qualquer governo, de
quaisquer pessoas e pouco se importava com a atitude de cada um ou com o
pensamento e a ideologia. Porque ele tinha uma ideologia própria que não era
uma ideologia política. Era uma ideologia, vamos dizer assim, sentimental. Ele
era um nacionalista sentimental e um homem convencido de que o Brasil inteiro
precisava aprender a cantar.
Achava que a criança devia começar a aprender a cantar desde que
começasse a balbuciar as primeiras sílabas. E para que isso acontecesse, era
preciso que a mãe soubesse cantar. E depois, quando a criança fosse para a
escola maternal ou para a escola pública, encontrasse professores que soubessem
ensinar a cantar. E esta foi a principal razão pela qual ele fundou o Orfeão e,
depois, o Conservatório de Canto Orfeônico, isto é, para treinar professores
que soubessem ensinar canto, música de canto, os princípios da música, a artinha,
a harmonia, o solfejo, a música em conjunto. E foi isto que ele fez durante
muito tempo. Hoje eu acho que todos os governos que não apoiaram Villa-Lobos
cometeram um grave crime contra o país. Nós mesmos não sabemos cantar porque
somos de tradição católica jesuítica, tradição pela qual o padre é que canta e
os fiéis apenas respondem. E além do mais, o canto até a pouco era em latim,
coisa pouco permeável para a maioria dos fiéis que aprendiam aquelas letras sem
conhecer o que estavam dizendo. Villa-Lobos queria que todo mundo cantasse
coisas em português, cantigas de roda, cantigas de brinquedo, cantigas de
cordialidade, cantigas de adeus; ele tem em sua obra uma série de músicas que
são para canto, para canto em conjunto. De tudo isso que Villa-Lobos pretendeu
fazer, ficou muito pouca coisa. Ficaram alguns professores excelentes, fiéis à
obra dele, ficaram alguns cantores, que cantam bem porque ele insistiu nisso.
Ficaram alguns poucos conjuntos, como, por exemplo, o de Cleofe Person de
Mattos, mas são muito poucos.

Obteve bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq, na
categoria IIc, de fevereiro de 1993 a março de 1995, na categoria IIb de março
de 1999 a fevereiro de 2001 e na categoria IIa de agosto de 2001 a julho de
2003. Lider de pesquisa do grupo Música e Educação Brasileira/UFRJ.
Filiada à Sociedade Brasileira de Musicologia, Associação
Brasileira de Educadores Musicais e Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Música.
Além da participação em congressos, encontros, seminários e
cursos de férias, como conferencista, comunicante e/ou professora, desenvolve
intensa e profícua atividade de pesquisa em música, tendo sido laureada nos
concursos de monografias:
Agradeceço a minha mãe Zilda Bastos Fortes, pela belas histórias que me contou. Luiz Fortes