terça-feira, 5 de março de 2024

A FÁBRICA DE REALENGO por Luiz Orlando de Almeida

 

foto cedida por Zé Russo (em memoria)
Hoje vamos resgatar detalhes de como eram ocupados os espaços da antiga Fabrica de cartuchos, que atualmente abriga, o condomínio Parque Real, O Colégio Pedro II, o IFRJ e agora o Parque de Realengo Suzana Naspolini.

A FÁBRICA  DE REALENGO

  (por Luiz Orlando de Almeida)

           

Luiz Orlando - foto Luiz Fortes
O antigo Ministério do Exército tinha no seu organograma, vários Departamentos que dirigiam um grande número de Diretorias. A Diretoria de Fabricação e Recuperação tinha sob a sua subordinação várias Fábricas e Arsenais para cumprirem a tarefa de fabricar e recuperar o Material Bélico do Exército. Dentre as Fábricas havia a muito importante e famosa Fabrica de Realengo.
foto Luiz Fortes

 



 A Fabrica de Realengo tinha   a tarefa de fabricar munição  de infantaria,   para todo o  Exército Brasileiro, a chamada  munição para o  armamento   leve, (fuzil, metralhadora, etc.)

 Iniciou suas atividades com sede em Campinho, Cascadura, e mais tarde   foi transferida para Realengo. Depois de estabelecida em nosso bairro,   ocupou algumas das instalações da Antiga Escola Militar de Realengo,   que haviam ficado desocupadas em virtude da transferência da Escola   Militar para Resende quando se transformou na Academia Militar das Agulhas Negras.

Iniciou com o nome de Fábrica de Cartuchos de Infantaria para mais tarde se tornar Fábrica de Realengo. Com um grande número de funcionários de ambos os sexos e de várias categorias, ocupava quatro grandes áreas onde realizava suas atividades. As áreas eram assim denominadas.


foto Luiz Fortes

Área 1, na Rua Bernardo de Vasconcelos, destinava-se mais a parte administrativa, com o gabinete do Diretor, dos chefes dos Departamentos Técnico e Administrativo, as chefias de vários Serviços e também Tesouraria, Almoxarifado, posto Médico etc. nesta área estavam instaladas as antigas oficinas de munição .30 e 7mm, que depois da segunda grande guerra mundial os armamentos que susavam esse tipo de munição foram caindo em desuso. Havia, também, um Armazém Reembolsável e uma padaria que funcionavam nessa área para atendimento aos funcionários.

Luiz Orlando - foto Luiz Fortes
Área 2, na Avenida Santa Cruz, destinava-se a parte social. Nesta área tínhamos o Serviço de Transportes, a Escola Maternal e a Escola de Aprendizagem Industrial que se destinavam aos filhos dos funcionários, o Serviço Social e um grande Refeitório onde todos os funcionários faziam duas refeições diárias: Tomavam o café da manhã e o almoço, um campo para prática de esportes e duas quadras para futebol de salão, voley e basquete.


Área 3, na Rua Oliveira Braga (atual prof. Carlos Wenceslau) era destinada diretamente à produção industrial da fábrica. Várias oficinas formavam essa  grande área. As duas maiores e de Grande importância eram as que fabricavam munições dos calibres 7,62 e o .

foto Luiz Fortes
foto Luiz Fortes
 50 das quais a Fábrica era especialista em todo os Exército Brasileiro. Além das munições acima citadas, havia a fabricação e o carregamento das cápsulas para essas munições e o carregamento de alguns tipos de granadas, cujos corpos eram fabricados na antiga Fábrica do Andaraí. Essa área, a mais extensa das quatro existentes, além do que foi dito acima havia também uma moderna Casa Balística, onde eram feitas as provas para verificação da eficácia da munição produzida, uma grande granja para atendimento dos funcionários, uma seção de desmancho de munição refugada ou que havia perdido a validade para uso e o contingente Especial com um grupo de , sargentos cabos e soldados que eram escalados para a guarda das quatro áreas da fábrica.

Área 4,  na rua Princesa Imperial. Esta um pouco afastada, se localizava no outro lado da linha férrea da estação de Realengo (lado norte), continha vários Paióis e se destinava ao armazenamento de munições e explosivos.

Pela década de oitenta, foi criada a IMBEL, (Indústria de Material Bélico) uma empresa particular, da qual o Exército era um dos acionistas e fiscalizava a produção do quere era fabricado. Todas as fábricas militares passam a pertencer a IMBEL. Depois de vários estudos, as comissões criadas para esse fim verificaram que não era vantajosa a continuação das atividades em algumas Fábricas sendo incluída nesse grupo a fábrica de Realengo. Em consequência a F.R. foi desativada. Os seus funcionários, militares e civis, foram transferidos para outras Organizações Militares do Exército e as áreas com os imóveis tiveram vários destinos. Podemos dizer que a desativação da F.R. deixou muitas saudades aos seus antigos funcionários e também a todo o povo de Realengo que a tinha com muito orgulho e era uma grande tradição no nosso bairro.

Fonte dessa consulta: Capitão R1 Luiz Orlando de Almeida

Histórico: Em 1951, com 14 anos entrou na Escola de aprendizagem Industrial, em 1953, concluiu o curso de Mecânica Industrial da EsAI, em 1954 iniciou suas atividades como funcionários civil da F.R., em 1957, após concurso foi promovido à graduação de #º Sargento do Quadro de Material Bélico, em 1982, já como oficial, e com a desativação da F.R. foi transferido para outra Unidade Militar.

(Solicitamos que além das redes sociais, deixem aqui também seus comentários)

Aqui um depoimento em vídeo, que tive o prazer de registrar com os ex-funcionários da FR. 

Luiz Orlando e Maria Inês. onde relatam como era o cotidiano da fabrica. 



 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Ao mestre com carinho.

Ao mestre com carinho.
Até breve Dulcelino Silva (Prof. Dudu) 12/07/1951* - 31/10/2023+

"Meu amigo partiu, mas continua onde sempre esteve no lado esquerdo do peito."

Dudu, orgulho dos pais: um homen educado, estudioso, oriundo da comunidade Vila Vintém.
Se enfrentou preconceito? Claro, pois afro descendente com formação universitária nos anos 70 era raro, muitos torciam o nariz para um professor de artes, de inglês, de música. 
Era compositor, arranjador, diretor de teatro...ufa. ele era o cara.
Um cara que transpirava arte e tinha o dom de lapidar novos talentos. Conheci ele tocando órgão na igreja. Nsa. da Conceição em Realengo..que beleza, depois virou meu cliente na loja de discos, comprava principalmente MPB, mas só a nata (como ele falava).
Confesso que quem me apresentou Cartola e Nelson Cavaquinho no fim dos anos 70, foi ele.
De tanto conversarmos sobre música eu já sabia o seu gosto musical, aos poucos virou amigo, minha mãe virou "Tia"...meu pai ganhou até uma composição dele.
Me incentivava a estudar, dizia que eu me e daria bem no inglês. Um tempo depois ele montou um grupo de Teatro amador, chamou alguns membros da igreja do grupo Jovem e alguns alunos seus do Colégio Gissoni e me convocou pra fazer a sonoplastia.
Chamava se Grupo S.I.M (Som Imagem e Movimento). Aí a amizade se consolidou e ainda trouxe um monte de outros amigos junto.
Mas isso é um assunto para uma postagem.

Descanse em paz professor Dudu.
Grande Fila.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

No tempo de Padre Miguel

No tempo de Padre Miguel.
Por Luiz Orlando de Almeida

O blog História de Realengo que tem por missão resgatar e preservar a memória do Realengo, inaugura com este episódio uma nova fase.
Luiz Orlando
"História de Realengo em movimento"
Padre Miguel de Santa Maria Mochon
Em nosso primeiro vídeo, recebemos o morador Luiz Orlando de Almeida, que conviveu com Monsenhor de Santa Maria Mochon e nos conta  detalhes daquele tempo.









#realengo #padremiguel #historiaderealengo #historia #zonaoeste #igrejacatolica #paroquianossasenhoradaconceicao
#prorealengo

domingo, 15 de janeiro de 2023

Obrigado José Soares Ferreira o Zé Russo.

Obrigado José Soares Ferreira o Zé Russo. 

Sua missão na Terra chegou ao fim em 31/12/2022, mas sua estada entre nós foi marcante, pois ensinaste a muitos admiradores de música importantes detalhes.
Conheci Zé Russo, quando eu ainda era adolescente, ele tinha um comércio em Realengo, onde além de consertos eletrônicos vendia discos. *Jettor Eletrônica* eu trabalhava em outra loja de discos a Top-Som Foto discos e os donos Tião e Mauro (na foto) e ele, eram amigos e eu ficava intrigado com aquele homem de grande estatura e porte forte lembrando mesmo um europeu (seria essa a origem do apelido?) .
Pois o Zé apesar desse porte físico, era calmo falava pausado, sem pressa e tinha muito sendo de humor, contava algumas piadas e era sincero..."olha essa marca de som é uma porcaria quer mesmo consertar?"
"Esse disco é péssimo, esse cara não canta nada!" ...ah, ah, ah... só devia falar isso para os amigos, pois do contrário espantaria sua clientela.
O Zé Russo foi um dos grandes incentivadores da música instrumental em Realengo pois tinha contato com diversos músicos que vinham a seu convite tocar de graça no Grêmio de Realengo, nas Segundas instrumentais, conheci vários músicos (como por exemplo o baterista Luiz Carlos (na foto) e Jamil Joanes baixista da Banda Black Rio que vi muitas vezes tocarem aqui em Realengo), ou Robertinho Silva, filho de Bangu e de renome internacional. Lembro que o cantor Carlos Dafé, ao lançar seu primeiro disco pela Warner, convidou-o a ouvir em primeira mão e o Zé me arrastou junto pra Irajá (boas lembranças).
As segundas e depois terças instrumentais tinham o apoio do Beto e Gugu, com quem fui várias vezes ouvir música no grande salão do Zé, lá tinha no mínimo oito caixas de som, aparelhos diversos interligados, gostava de gravar os discos em fitas de rolo, pois a qualidade era bem superior. 
E tinha um detalhe marcante, ele sempre pedia pra sentarmos numa poltrona estrategicamente colocada no centro da sala. Ele explicava que ali era onde você teria a audição de todo o som e sim.. ele estava correto, uma sensação incrível. 
Me ensinou a dar valor ao silêncio aos mínimos detalhes da música, aos instrumentos que não ficam em primeiro plano...ou seja ouvir música pra mim seria como AZ/DZ, (antes e depois) das dicas do Zé Russo.
Lembro que era bem família, volta e meia falava ao telefone com as filhas que já tinham crescido e tinha o maior orgulho delas.
Obrigado por tudo Zé, descanse em paz.

Na foto: Zé Russo, Tiãozinho, Mauro, Luiz Carlos (batera) e eu Luiz (sentado), em uma das muitas audições em sua casa..

Complemento: Se os familiares por um acaso escrevessem em sua lápide: Aqui Jazz... Faria todo o sentido.
 

Palestra 207 anos de Realengo


Venho aqui em público agradecer aos profissionais de educação da Escola Estadual  Carlos Maul a
Diretora Adjunta, Rosanea, a
Coordenadora pedagógica, Flávia ao
Prof João Carlos, que na semana que Realengo comemorou 207 anos, me honraram com o convite para falar um pouco da história de Realengo e de alguns detalhes ligados ao bairro,  fruto de muitas pesquisas e informações recebidas e que estão publicadas no blog História de Realengo criado por mim, após perceber a dificuldade de encontrar material sobre nossa história.
Nesta palestra mostrei livros onde consta fragmentos de nosso passado, livros escritos por realenguenses, mostrei diversas fotos de locais marcantes e de detalhes que no dia a dia passam despercebidos ao nosso olhar.
Pais, alunos e professores ficaram espantados com tantos detalhes mostrados.
E acreditem, nem um terço foi mostrado pois a História de Realengo é riquíssima e isso provocou em mim um desejo de produzir pequenos filmes documentários e registrar o máximo possível deste material. Aguardem !

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Praça Copa 70 (Um monumento em Realengo homenageia a campanha da seleção de futebol tricampeã)

 

Praça Copa 70 (Um monumento em Realengo homenageia a campanha da seleção de futebol tricampeã)

Taça Jules Rimet

“90 milhões em ação, pra frente Brasil....Salve a Seleção!”

Quando conquistamos em definitivo a Taça Jules Rimet

Esse era o refrão da música que embalava as partidas memoráveis que assistimos no ano de 1970, durante o Campeonato Mundial de Futebol Organizado pela FIFA.

A canção foi composta pelo Miguel Gustavo (letra) e (musica) do trombonista Banguense Raul de Souza. 

A canção, nascida em tempos difíceis do regime militar e até bastante ufanista, foi a primeira composição em língua portuguesa admitida pela FIFA como hino oficial do Mundial. Segundo Raul de Souza em entrevista ao Jornal do Brasil em 2002, o hino foi gravado em um estúdio com orquestra da Rádio Globo e sua origem foi um concurso com premiação de dez mil cruzeiros organizado por várias empresas entre elas a própria emissora. 

A homenagem em Realengo.

fotos Luiz Fortes Monumento Copa 70
E por iniciativa dos moradores da rua Nereu Sampaio (Barata-Realengo), através de um abaixo assinado, como nos relatou o Sr. Edson Ribeiro dos Santos, conhecido como Papico. Moradordo Residencial Copa 70 nós encontramos um monumento em homenagem a conquista do Tricampeonato mundial de Futebol.
reprodução
detalhe do monumento
Pro-Realengo: Como se deu a criação deste monumento?

Papico: Isso foi fruto de um requerimento, feito por uma Srª. Neide (já falecida), todos os moradores assinaram e ela encaminhou para a 17ª RA em Bangu e prontamente aprovado e construiu-se esta homenagem.

Parte traseira do Monumento
Segundo ele os Moradores sempre gostaram, sempre aprovaram inclusive depois que colocamos um portão na rua que é sem saída, passamos a chamar de residencial “ COPA 70”, mas este nome sempre foi uma referência.

monumento e ao fundo Jesus Vem e Pedra do Osso

fotos Luiz Fortes ao fundo a Pedra da Fenda



reprodução Google Stret

O Sr.Edson/Papico só lamenta o abandono do poder público pelo local, inclusive quando chove não tem escoamento da águas causando grandes prejuízos aos moradores.

Saudades das reuniões de festas juninas, e outras comemorações coletivas, mas a pandemia esfriou isso tudo, uma pena.

Monumento e o Pico da Pedra Branca

nas fotos vemos vários pontos de referencia de Realengo, um local realemtne privilegiado.

Participe nos comentários...você conhecia esta homenagem?


Saiba mais sobre como foi a campanha da seleção no Wikipédia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_na_Copa_do_Mundo_FIFA_de_1970


sábado, 9 de outubro de 2021

Meu Avô Construtor - Poeta dos Tijolos

 Nos noventa anos do Cristo Redentor, resgatamos a historia de um morador de Realengo, que ajudou a construir esta maravilha mundialmente famosa.

Meu Avô Construtor - Poeta dos Tijolos

Reprodução do Cristo durante a construção


Meu avô Joaquim esteve aqui. Não como um turista português, em cruzeiro pelo Brasil, mas como pedreiro e construtor de chaminés.

 

Todos já devem ter visto espalhadas por todo o mundo, chaminés de tijolos maciços, verdadeiras obras de arte, que erguem-se a altitudes de tirar o fôlego...



Pois meu avô Joaquim era construtor de chaminés.

Algumas erguem-se em tamanha imponência e graciosidade que são poupadas da demolição de uma fábrica fechada. Eternizam-se solitárias. Monumentos do testemunho da capacidade do homem.

Meu avô Joaquim era praticamente analfabeto. Ele era construtor de chaminés.

Aqui na construção da Escola Nicaraguá



Joaquim "Bigode" (O segundo a partir da esquerda), viveu e morreu simples e pobre, mas não sem antes deixar de construir seu mais famoso monumento. O Cristo Redentor!


  Meu avô Joaquim era pedreiro e       praticamente analfabeto. Ele foi   construtor de maravilhas.

 Todos! Absolutamente todos, temos   alguma importância para a história de   nosso País.  Só depende de nós!!

Marcos Santos

Rio de Janeiro

Marcos Santos4 de outubro de 2011 07:36

Joaquim dos Santos
 (em comentário aqui neste blog sobre a contribuição financeira para construir o Monumento.)

Apenas para engrossar essa informação, meu avô Joaquim dos  Santos, conhecido como Joaquim Bigode, construtor de chaminés, pai  de minha tia Hilda, trabalhou como operário na construção do Cristo.  Infelizmente não temos registros documentais desse fato, apenas  histórias que nossa tia Preciosa, filha mais velha de meu avô, contava  para seus filhos.

 

Esta matéria foi originalmente postada no blog Boca Diurna, do neto do Sr. Joaquim.

http://bocadiurna.blogspot.com/2007/11/meu-av-construtor.html?q=redentor

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Seu Tião, um homem simples mas marcante para quem o conheceu.

 

Sebastião da Silva Fortes
16/12/1925 - 23/10/1983


 Minha amiga de infância Sônia Maria, constantemente me desafiava cobrando para escrever sobre meu pai, sempre relutei, pois seria difícil falar de uma pessoa que se admira e idolatra não me sentia bem, mas após muitas insistências joguei a tarefa para ela. Pedi que escrevesse um texto, daí eu complementaria.

Desde já agradeço a todos que colaboraram

                                                                                __________________XXX_____________________



Tião um Artista Anônimo

                                          por prof. Sonia Maria 

Sonia Maria 
 Numa tarde destas de quarentena veio um pouco das lembranças da minha infância aqui no Bairro de Realengo.

 Eu morava com a minha família próximo à antiga Rua Oliveira Braga, hoje Rua Prof. Carlos Wenceslau. E lá morava o senhor Sebastião da Silva Fortes, o seu Tião como era chamado por todos que o conhecia. Seu Tião morava com sua esposa Zilda e seus dois filhos, Júlio e Luiz. Nosso querido administrador do Pró Realengo, o Luiz Fortes.

Um eterno brincalhão. Martelo
 talhadeira e Serrote pra cortar o
 bolo e a esposa entrava na dele
     O Luiz herdou do seu pai o amor pelo bairro de Realengo e o gosto musical. O Júlio herdou um
pouco da sua arte, costurando as famosas calças Jeans, pois muita gente o procurava pra ele dar um jeitinho nas bainhas e na boca sino das mesmas. Enfim, ele transformava as calças jeans como ninguém. E a Dona Zilda mãe e uma mulher maravilhosa...

   Seu Tião era muito amado pela criançada e por todos que o conhecia pelas suas historias e bom humor.

   Luiz teve a sorte de ter um pai que era um artista plástico e amado por muita gente.  O seu dom artístico era nato e nem ele e nem as pessoas que admiravam seu trabalho na época se davam conta da importância do seu Tião no bairro.

25 anos de casados, tem bolo?
 corto com Serrote.
    Eu e minhas irmãs gostávamos de vê-lo costurando, criando na sua incrível e simples máquina de costura. Nela a magia acontecia... Fazia botas e bolsas de couro, fantasias, e etc...

 Ele era um apaixonado pelo Carnaval e pelas Festas Juninas. Nestas festas ele criava fantasia









s e

enfeites inéditos. E todos ficavam extasiados com tanta criação. Seu Tião passava muita emoção e amor em tudo que fazia.

Criava fantasias de mascarados jamais vistas e fazia fantasias em duplicata para enganar os amigos, pois achávamos que era ele que estava ali mascarado e de repente ele aparecia sem fantasia. A criançada saía correndo... Pregava cada peça!!!!

E enfeitava as festas juninas com estrelas e balões feitos por ele.

Como todo artista seu Tião era um sonhador e muito amigo das crianças. Nós gostávamos de ouvir suas histórias de balões que iriam subir tal dia e hora e ficávamos ali esperando na hora marcada de olho nos céus de Realengo. E não é que subia mesmo??? Na época os balões eram muito bem elaborados e artísticos. Lindoooos!!!!!

   É bom dizer que nesta época não era proibido soltar balões.

   E o senhor Tião ficava feliz ao ver todos admirados com suas criações e  por seu trabalho que ele fazia por prazer.

   Enfim, pra que venha mais Tiões, que resolvi trazer um pouco da história deste homem simples que viveu e amou o bairro de Realengo. E para que os leitores deste blog conheçam a história deste artista anônimo, coincidentemente pai do criador deste espaço.

   Enfim, na minha concepção e eu acredito que aqueles que o conheceram concordam comigo, que o seu Tião faz parte da história de Realengo.

                             ---------------------------------XXX----------------------------

Como disse nã queria escrever sozinho, então me ocorreu de também pedir a parentes e amigos que conviveram com ele para darem suas visões.


A coisa foi longe demais, desculpem pelo tamanho do texto, e olha que não peguei depoimentos de muitos, que poderão nos comentários abaixo se expressarem.

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Arte na madeira (10 cm de altura.) 
do Luiz

Lúcia Fortes Fialho

O que eu me lembro do "Tio-Tião" é que ele era uma pessoa incrivelmente maravilhosa, com muito bom  gosto musical.
Que ele e meu pai (Alcides) se entendiam muito bem com as óperas e com as músicas clássicas. Mas confesso que manualmente devido morarmos longe, não sei muito, mas lembro das máscaras de carnaval maravilhosas, cada uma mais bonita que a outra.

Não conheci outras aptidões, mas como tio ele era MA-RA-VI-LHO-SO!!!





Delcius Ojeda Fortes

Zilda e Tião rodeados de sobrinhos
Delcius, Claudia, Lucia, Luiza e Vilma e Andrea
Falar sobre meu tio Sebastião, mas conhecido como “Tio-Tião”, lembro-me dele na infância era pequeno ainda, um cara de chinelo no pé, bermuda, camisa aberta no peito, um cara tranquilo, o semblante dele era de uma pessoa boa, nunca vi ele brabo, sempre tinha uma brincadeira um sorriso. Uma pessoa do bem. Como eu era muito pequeno e os meus pais se mudaram do Rio, eu perdi alguma coisa da minha vida do convívio com Tio-Tião mas o que lembro da minha infância é isso.

Também na sapataria, trabalhando, colocando sola em sapatos, eu ficava olhando para ele, e sempre tinha um sorriso bonito, um cara do bem.

Zebrinha adaptada posteriormente.

Aí como eu disse por conta de meu pai (Vinícius Fortes) ser da Marinha éramos sempre transferidos. Aí perdi um bom período de convivência e quando voltei a conviver com ele era a mesma pessoa, só que envelhecido aquele jeitão o mesmo jeito com chinelo e ficava conversando com ele. Ele lendo, comendo e falando comigo (acho que o almoço levava uns quarenta minutos a uma hora. Tem um cara que faz a mesma coisa, come do mesmo jeito que ele [não sei quem é?])! Também acompanhei ele nos últimos dias, estive lá no hospital é isso, só lembranças boas.

Um cara tranquilo, um cara bom em paz. Falava com todo mundo, as pessoas passavam na rua, oi Tião, bom dia Tião, com vai Tião, sempre respondia com um sorriso.

Lembro de um balão ele me disse esse vai subir e desaparecer um outro no formato de despertador...e muitos outros, uma festa, realmente o Tião marcou história em Realengo.

Um cara bom!


Luizinho (eu) Tião e Zilda.

Por Claudia Fortes.

 Falar do "Tio Tião " é incrível.

Eu o peguei ainda quando bebia pisava no meu pé e minha mãe não deixava brigar com ele. Como aquele que fazia o melhor Carnaval, a melhor Festa Junina, era capaz de tirar a roupa do corpo pra ajudar alguém. Aquele que adotou alguém e não fez diferença do seu filho de sangue.

Aquele que me fez sorrir e quando Deus o levou eu estive lá, mas me limitei a ficar distante por respeito.

Aquele que era tão importante que sua irmã Arlete se foi na mesma data que ele se foi.

Sinto muito a sua falta e seria muito FELIZ se meus filhos o conhecessem, mas o que me conforta é saber que lá de cima ele olha por nós.


 Por Roseneide Camacho

Seu Tião!!!! Que pessoa doce, culta, de uma sabedoria que só pessoas com o coração carregado de bons sentimentos pode ter.

Quantas tardes passamos conversando no quintal da sua casa, o que falávamos, de tudo não vou

A boneca dançante resite ao tempo

lembrar, pois o tempo se encarrega de ficar com algumas de nossas lembranças. Mas lembro que falávamos das flores, da Mariápolis, dos trabalhos do grupo S.I.M. e música não podia faltar.

Ah! Seu Tião, eu só tenho a agradecer pelo imenso carinho que permeou o nosso encontro. Eu o vejo neste momento na minha memória, com um leve sorriso no rosto, que maravilha. Quantas coisas boas seu Tião deixou, depois de muito tempo me alegro ao falar dele. Seu Tião é 10!!!

Por Antonio Zuzarte

 Falar sobre seu Sebastião Fortes é muito   gratificante, pelo fato de eu também ter   custado a entender que Seu Sebastião e Dona   Zilda não eram meus tios biológicos, porque   eu achava que sim, devido àquela convivência   com a nossa família, meu avô seu João   Zuzarte nosso saudoso avô, era um apego   muito grande com seu pai, pra mim realmente   o seu pai era filho biológico de nossa avó, eu   custei a entender essa ficha demorou a cair.   Depois eu comecei a puxar de minha mãe Nilda e tia Maria como eles chegaram até agente e começaram a contar que sua mãe era colega de escola de minhas tias, e graças a isso começaram a frequentar uma a casa da outra, sua mãe abraçou minha avó, minha avó abraçou sua mãe, sua me ajudou a cuidar da minha mãe que era a caçula da turma e enfim depois conheceu seu pai e dai seu pai passou a integrar a família. O nosso avô era seu pai pra tudo, chama Tião, cadê Tião, às vezes ele ficava   esperando seu pai pra tomar café com ele.
Juntos com a Familia Zuzarte :
Aparecida, Iza, Maria, Nilda
 Elizenita
, faz um café que Tião tá chegando   ai! Então lembro que sentava os dois na mesa   e  ficavam de prosa tomando um café   quentinho.  E minha mãe era bem pequena e   teve a visita da imagem peregrina da Santa   Nossa Senhora de Fatima de Portugal , meu   avô tocava tuba na banda, meu pai pegou   minha mãe colocou no ombro na corcunda   para ela assistir. Ela contava isso muito feliz.   Teu pai estava sempre lá puxando um som, ,   ajeitando sempre alguma coisa e meu avô   pegava no pé do teu pai o tempo todo e ambos   gostavam era aquela coisa de amor a primeira   vista e pra sempre. Teu pai ficou muito triste quando o Velho Zuzarte faleceu, segundo minhas tias, Tião dizia que tinha perdido um pai, a coisa era muito forte. Eu também tive uma experiências com teu pai, minha primeira caixa acústica foi ele quem fez pra mim, eu queria botar um sonzinho melhor na vitrola e ele providenciou.

Teve as situações que o Julinho passou, lembro que os levei. Teu pai muito mal quando deixou-o internado numa casa de saúde em Jacarepaguá e eu vi teu pai de coração partido, pois teve que ficar lá um pouco e enfim a gente veio trocando ideia no carro, ele com aquele choro calado dele que você conhece melhor que ninguém. E minha avó ficou muito chateada quando teu pai faleceu, “Perdi um filho”. Falar do seu Tião é só coisa boa sempre atento, chegando junto. Até eu ficava esperando pra tomar o cafezinho da tarde. Foi uma pessoa muito querida, e quando eu falei que vc estava colhendo depoimentos elas ficaram até um pouco emocionadas., lembrar um monte de coisa que nem dá pra colocar neste relato. Ele marcou deixou muita saudade até hoje os dois, foram criados como irmãos realente parte da família. No natal estávamos sempre juntos, vovó ficava esperando ele chegar, se não chegasse, mandava chamar... enfim com certeza ele tem o Galardão dele lá tanto ele quanto sua mãe deixaram uma lembrança muito boa. Com essa família que era praticamente uma só.

Por Flávio da Costa Terzi 

Sr. Sebastião, conhecido por todos como "Seu Tião", uma fala calma e paciente, de bem com a vida, encarava a vida com simplicidade, e sabia divertir-se e aos outros, e o ápice dessa diversão era no carnaval desfilar nos blocos de sujos em Realengo com seus enormes bonecos.

Nilsa Augusta fantasiada
(arquivo pessoal)

Por Nilsa Augusta (ex vizinha)

Sr Tião sempre nos alegrou com sua arte e agora se eterniza na história de Realengo

 Na foto que cedi para esta postagem usando uma fantasia emprestada por ele e que brinquei no carnaval da Av Santa Cruz seguindo um bloco de rua)


É incrível como papai continua vivo na memória de quem o conheceu.

 Por Luiz Carlos Bastos Fortes

Sem ordem cronológica:

UNIÃO e PATERNIDADE.

Zilda e Tião.    

   Meus pais se conheceram ainda crianças nas salas de aula da escola Nicarágua, quando ele    ficava puxando as tranças de sua futura esposa. Depois de casados e gestações frustradas e trágicas, o destino trouxe uma criança até a porta, então Júlio César Bastos Fortes foi adotado em consenso e oficialmente registrado, um neguinho verdadeiro reinava no lar dos Fortes. Deu muita dor de cabeça ao velho, mas era uma missão e cumpriu da melhor forma.

E quatro anos depois vinga Luiz Carlos (eu mesmo) que deveria ser chamado segundo velha Zilda Bastos Fortes: "José Carlos", nascido pelas mãos da parteira Dona Mariinha e  tendo tia Del' Carmen de ajudante, ouviam Tio Vinícius Fortes gritar, corta com dois palmos. (Será que influencia??)


O REGISTRO: No dia seguinte saíram abraçados, alegres e sorridentes meu pai Sebastião da Silva Fortes e seu cunhado, Tio Nilo Oliveira em direção ao cartório mas no caminho encontraram um bar... alguns goles e brindes pelo neguinho nascido (era pardo, mas me chamava de "Neguinho" até a adolescência), continuaram e encontraram amigos numa birosca, mais brindes e agua que passarinho não bebe pela goela abaixo..

Finalmente depois de cambalearem e tropeçaram algumas vezes, chegaram ao cartório. 

Julio Cesar , Zilda e Luiz
E ....esqueceram o nome.... João? Antônio? Entreolharam-se - O escrivão tentou ajudar: Tinha outro nome composto?... -Os dois lembram, Carlos, mas na frente tinha outro.. ?? ...Calma aí, vou lembrar insistiu Tião.

Entre muitas variáveis uma sugestão do escrivão soou bem: Luiz Carlos... Isso mesmo,  registra aí, decreta seu Tião! Felizes retornam, certamente com algumas paradas (e agora mostrando a certidão), esvaziaram outros copos.


A NOTICIA:  Sofia, Sofia...(que era como ele chamava carinhosamente a minha mãe). Mas velha Zilda ralha com os dois,  falem baixo, pois o José tá dormindo... (eles não se deram conta) e seu Tião todo proza comunica, agora tá no papel, mostrando a certidão (já um pouco amassada) Luiz Carlos tá registrado!

Quem é Luiz Carlos??? Meu filho é José... (Por alguns dias o clima certamente foi pesado... se ela tinha feito alguma promessa pra São José, deu ruim, mas minha mãe não guardava rancor de nada.)




A INFANCIA

O menino Tião
em Santissimo
.
Com as Irmãs Nilsa, Jurema e Arlete
: Meu pai filho de Antônio e Margarida Fortes, irmão caçula de Nilsa, Arlete, Jurema e Vinicius Fortes foi criado em Santíssimo mas ainda menino veio para o Realengo, andava de trem (fazia entregas pra minha avó) e me contou que não sabia ler, esticava o pescoço pra ver as fotos nos jornais do passageiro ao lado. Um dia um deles perguntou alto pra todo mundo ouvir o quê estava escrito? ...O menino Tião, não soube responder... Mas doeu lá no fundo, pois dai em diante decidiu não passar essa vergonha novamente.

Aprendeu e lia de tudo, aprendi a gostar de ler com ele, eram gibis, livros, histórias de "faroeste" , comprávamos ou trocávamos 3/1 nas feiras de Realengo, um outro tio o Rubens Lima , nos dava depois de ler, seus exemplares da "Seleções  Read Digest" da qual era assinante e com essa leitura estávamos sempre atualizados com o mundo, mesmo ainda não tendo TV. Lembro que lá em casa tinha um importante livro e que sempre insistia para consultarmos era um dicionário (ele chamava de pai dos burros).



Tinha a mão boa para plantas.   
 
Meu pai sempre me contou de um filme sobre um pescador e um dia achou o livro que contava esta historia e me deu de presente. “ O Velho e o Mar de Ernest Heminghway“ e mantive a trtadição e também dei ao seu neto Pedro Laport Fortes o  mesmo livro.

Amava esportes, mas não tínhamos TV ainda, mas os amigos, (e como ele tinha amigos) deixavam ele assistir sua paixão, o "boxe", entendia, vibrava, assistíamos na casa de dona Deolinda  , pertinho do colégio Souza Lima, voltávamos tarde da noite...ele vinha feliz, também era fã de corridas de carros assistíamos F1 torcendo pro Fittipaldi, depois Piquet, e um tempo depois (quando a TV não passava só o rádio transmitia - era paixão!) ouvimos que um moleque chamado Airton, estava dando show nas categorias de base e certamente iria longe.


Religiosidade:
Era Católico fervoroso, membro dos "Congregados Marianos", mas numa procissão de rua, ele estava carregando o andor de NSa. Senhora da Conceição e uma chuva despencou de repente, não ficou um fiel pra contar a história até o Padre foi pra baixo da marquise. Meu pai bradou: Povo sem fé... Daí em diante era a igreja lá e ele aqui.... Mas mesmo deixando de ser praticante, anos depois cultivou uma grande amizade com o padre Lessa e com as freiras, as quais se utilizavam dos seus serviços diversificados. Lembro que tínhamos um quadro lindo em casa de São Jorge, por dentro tinha uma luz que era acesa a noite, Lindo...lembro também que ele disse ter visto um milagre atrás do altar da Igreja de Santana (no centro do Rio). ...eu tenho fortes razões para acreditar.


LIÇÕES DIÁRIAS: Papai era cativante, não sei explicar... Incrível nada o aborrecia, eu era pequenino caminhávamos de mãos dadas, e se ele tropeçava (ou martelasse o dedo) dava graças a Deus. Eu arregalava os olhos de espanto, um dia perguntei porquê agradece?

- Agradeço pois tenho pé para dar topada, agradeço por não estar numa cadeira de rodas ou de muletas. Eles sim, não podem tropeçar. Então me sinto abençoado (umas das lições que carrego até hoje comigo). "Pequenas coisas que parecem ser banais devem ser valorizadas."

Adorava jogar e assistir futebol.
Meu pai não era de nos bater, era adepto do dialogo mas mantia atrás da porta um chicote (assustador) confeccionado por ele mesmo, que se eu senti na pele foi no máximo duas vezes.




Adorava futebol torcedor do América, jogava bem e dizia ser bom goleiro, mas só "calibrado", chegou a fazer teste num grande clube (não lembro qual) mas sem poder tomar uma branquinha, não pegou nada.


Esse vício, junto com o cigarro (contribuíram para sua partida para outros mundos) que começou ainda criança pois adorava balões, fazia de todos os tipos, e para acender as buchas, gastava muitos fósforos, e com o cigarro na boca acendia mais rapidamente (chegou a fumar 4 maços por dia). Trabalhava num depósito de bebidas da Antártica ao lado de nossa casa, mas uma complicação no coração obrigou a se aposentar por "invalidez". A respeito dos balões ficou alguns anos sem fazer ou solta-los, estava triste alguém próximo espalhou que um balão feito por ele no formato de caixão funerário (com duas buchas) foi agouro pois dias depois sua mãe Margarida vem a falecer num acidente, pisoteada por vários cavalos no bairro de Campo Grande, (ela ia levar o meu irmão Júlio, mas não era a hora dele) demorou a se recuperar confessou um dia (mas nao fez mais caixões). Gostava realmente de soltar balões com hora marcada avisava antes, tal hora vou soltar um balão relógio com hora marcada (três horas) lembro de um na copa de 1970, na hora que ia começar o jogo do Brasil x Itália, afirmava, ele vai voar baixo e cair longe (estudava a bucha com tal precisão que ela não queimava rápido nem forte.) Seus balões com diversos formatos eram facilmente reconhecidos.

 

Bola da copa de 50
MUITAS HABILIDADES: Essa aposentadoria precoce, lhe proporcionou tempo para suas múltiplas habilidades, .batiam no portão: Seu Tião preciso podar uma árvore, ele ia,... meu ferro de passar está ruim, ele resolvia, também era estofador (o que lhe garantia uma renda melhor para casa) costurava com precisão e ensinou a profissão ao meu irmão, no quartel aprendeu a profissão de sapateiro, confeccionava também bolas de futebol (a mão), tinha orgulho de dizer que fez bolas pra Copa de 50,  para a fabrica SUPERBALL, mas não impediu que minha mãe trabalhasse fora, e também se aposentar feliz da vida.

Os vizinhos sempre pediam para ele ajudar seus filhos para confeccionar maquetes para os trabalhos escolares, e eram elaboradas ele não se contentava com o simples. As meninas lhe chamavam de tio antes disso virar moda. E como ele tinha sobrinhas. Tratava como filhas pois sempre quis ter uma e não foi agraciado.


Piranhão no carnaval eu com a boneca dançante

Meus brinquedos a grande maioria eram confeccionados por ele,  e eu com a boneca dançantecarrinhos de rolimã, pião, patinete, futebol de pregos, petecas, skate (um dos primeiros da Zona Oeste, viu numa revista e fez igualzinho), pipas ele fazia de todos os tamanhos e formatos. Pipas que cabiam na palma da mão ou outras do seu tamanho com rabos de panos. Decorava festas juninas, fazia caricatura em cocos secos, esculpia em pedaços de madeira, bolava alegorias ou fantasias exóticas amava carnaval, o normal não lhe atraia.

Velho Tião não teve estudos ou diplomas, aprendeu tudo com a vida, grande observador se arriscava em várias empreitadas e não me recordo de reclamações de um serviço mal feito. Era um pai presente pois aposentado tinha tempo livre pra nós, jogava bola conosco, soltava pipa, ensinava jogos e brincadeiras nas ruas, fazia perna de pau onde víamos todos do alto, telefones de lata, costurava panos compridos enfiava serragem e um arame que de noite na penumbra parecia uma cobra...ah,ah como assustamos muita gente uma vez ganhou uma máquina de filmes manual que passava a noite para alegria da criançada. Na casa dos fundos morava minha prima Claudia Fortes, que ganhou um balanço só seu dentro da varanda.


Bonecão no Bloco das Piranhas 
Bloco das Piranhas: Quando uns sobrinhos postiços, (Jõao, Leoncio, Leó e Tuquinha todos “da Matta”) estavam fundando e organizando um bloco de Carnaval no bairro, eles pediram para ele criar algo para ir à frente do bloco. Era o bloco das Piranhas de Realengo que teve o primeiro "Bonecão de Carnaval" claro que ele deve ter visto em algum lugar só adaptou com as bonecas de peitos amostra (fez duas). Uma loja chamada "Bazar da Moda" encomendou (para fazer marketing), também um bonecão, mas como Papai Noel, imaginem um bom velhinho de três metros de altura pelas ruas de Realengo, era alegria da criançada.

Obs: Essas armações eram feitas de varetas de bambu e arames, e duraram bastante tempo, e posteriormente eu adaptei com outros personagens.

 

Minha mãe visivelmente estava mais feliz com seu homem sóbrio.

 Os vícios foram largados, o cigarro tardiamente, mas o alcoolismo eu ainda era criança, voltávamos de um passeio de Sepetiba e no ônibus minha mãe sentou comigo ao colo, e meu irmão, sentou ao lado. Mamãe pediu: Dê o lugar pro seu pai. - E Júlio retrucou "Eu não mandei ele beber". Todos ouviram, daquele dia em diante meu pai nunca mais bebeu. Entrou pro AA, colecionava as fichas coloridas o seu orgulho, cada côr era um ano, etapas conquistadas, se sentia um vencedor. Tinha tamanha segurança que chegou a trabalhar num Bar na esquina de casa do "Seu Nestor". E resistia a tentação, fazia caricaturas em coco e dentro colocava aguardente os clientes amavam sua arte e saboreavam o mel.


Tinha uma capacidade de desenhar Incrível, adorava música, de todos os ritmos, bolero, forro, samba, samba de breque e o pop, etc, adorava cantar ou assobiar no chuveiro, e hoje eu analiso, como ele com tão pouco estudo ou cultura, ouvia óperas, músicas clássicas e parecia entender e muito... como? eu não sei. Ganhamos do tio Alcides Fialho uma vitrola num móvel enorme, pois comprou uma menor, o radio captava até estações estrangeiras. Assistia domingos pela manhã na TV, concertos para a juventude, comprava discos de óperas e orquestras, anos depois meu irmão trouxe outros sons para casa, ampliou seu gosto musical que já era eclético, ouvíamos de tudo em casa do Clássico ao Rock, uma democracia.

letra do Dudu - Mais que um Amigo


Um de seus últimos trabalhos foi criar cenários e adereços para apresentações teatrais do grupo S.I.M e recebeu uma bela  homenagem póstuma do professor Dudu, que compôs (na missa de sétimo dia) uma versão de "Don't Cry For Me Argentina" da peça Evita e que virou " Mais que um amigo". Nós do grupo S.I.M. tínhamos um espetáculo na semana seguinte com ingressos vendidos antecipadamente e o teatro não tinha mais datas livres para remarcamos. Foi uma noite de muita emoção.  a letra está ao lado.




Seu-Tião brincava dizendo: Pode me chamar de De Millus o amigo do peito

Um ser de luz, obrigado por tudo.

 

abaixo um escrito meu quase um mês apos sua partida.

fragmentos sobre meu pai

Pequenas lembranças

# Me disse que fez uma fantasia de caveira só pra sair de noite, os ossos eram pintados com tinta florescente, imaginem seu efeito a noite.

# Fazia doces e sucos deliciosos.

# Gostava de bailes do Grêmio, onde era sócio e conselheiro. Quando fiz 14 anos começou a me levar junto, (menor só acompanhado eu era alto enganava o juizado) assistimos, Jamelão, Orquestra Tabajara, Copa 7, e os conjuntos de covers de sucessos estrangeiros: The Fevers, Os Famks (que viraram Roupa Nova), os Pholhas, Aeroporto, Casanova (a cronner depois ficou famosa "Rosana" e muitos outros.

# quando podia($), comprávamos discos no centro ou em Madureira, até fazer um serviço de carpintaria numa nova loja de discos em Realengo e que depois veio a ser também meu primeiro emprego.(acredito que ele deu uma força)

# prestou serviços diversos ao Dr. Manoel Gomes (médico referência no bairro na época), tanto no consultório quanto na sua casa e  com o qual tinha boa amizade

E por fim. Em seu velório eu e minha prima Luíza Fialho, conversamos e concordarmos que um ser alegre como ele foi, não merecia uma despedida triste. Todos ao redor concordamos, e decidimos fazer um brinde em homenagem agradecendo por termos tido o privilégio da sua convivência. E assim é feito com todos nossos parentes que partem.

Fim.

obs: as fotos anteriormente preto e brancas, foram colorizadas por Paulo Gotelip um ex vizinho nosso na infancia. obrigado.