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Sebastião da Silva Fortes 16/12/1925 - 23/10/1983 |
Minha amiga de infância Sônia
Maria, constantemente me desafiava cobrando para escrever sobre
meu pai, sempre relutei, pois seria difícil falar de uma pessoa que se admira e
idolatra não me sentia bem, mas após muitas insistências joguei a tarefa para
ela. Pedi que escrevesse um texto, daí eu complementaria.
Desde já agradeço a todos que colaboraram
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Tião um Artista Anônimo
por prof. Sonia Maria
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Sonia Maria |
Numa tarde destas de quarentena veio um
pouco das lembranças da minha infância aqui no Bairro de Realengo.
Eu morava com a minha família próximo à
antiga Rua Oliveira Braga, hoje Rua Prof. Carlos Wenceslau. E lá morava o senhor Sebastião da Silva Fortes, o seu Tião como era chamado por todos que
o conhecia. Seu Tião morava com sua esposa Zilda e seus dois filhos, Júlio e Luiz.
Nosso querido administrador do Pró Realengo, o Luiz Fortes.
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Um eterno brincalhão. Martelo talhadeira e Serrote pra cortar o bolo e a esposa entrava na dele |
O Luiz herdou do seu pai o amor pelo bairro
de Realengo e o gosto musical. O Júlio herdou um
pouco da sua arte, costurando
as famosas calças Jeans, pois muita gente o procurava pra ele dar um jeitinho
nas bainhas e na boca sino das mesmas. Enfim, ele transformava as calças jeans
como ninguém. E a Dona Zilda mãe e uma mulher maravilhosa...
Seu Tião era muito amado pela criançada e por todos que o conhecia pelas
suas historias e bom humor.
Luiz teve a sorte de ter um pai que era um artista plástico e amado por
muita gente. O seu dom artístico era nato
e nem ele e nem as pessoas que admiravam seu trabalho na época se davam conta
da importância do seu Tião no bairro.
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25 anos de casados, tem bolo? corto com Serrote. |
Eu e minhas irmãs gostávamos de vê-lo
costurando, criando na sua incrível e simples máquina de costura. Nela a magia acontecia...
Fazia botas e bolsas de couro, fantasias, e etc...
Ele era um apaixonado pelo Carnaval e pelas Festas
Juninas. Nestas festas ele criava fantasia
s e
enfeites inéditos. E todos
ficavam extasiados com tanta criação. Seu Tião passava muita emoção e amor em
tudo que fazia.
Criava fantasias de mascarados
jamais vistas e fazia fantasias em duplicata para enganar os amigos, pois
achávamos que era ele que estava ali mascarado e de repente ele aparecia sem
fantasia. A criançada saía correndo... Pregava cada peça!!!!
E enfeitava as festas juninas com
estrelas e balões feitos por ele.
Como todo artista seu Tião era um
sonhador e muito amigo das crianças. Nós gostávamos de ouvir suas histórias de
balões que iriam subir tal dia e hora e ficávamos ali esperando na hora marcada
de olho nos céus de Realengo. E não é que subia mesmo??? Na época os balões
eram muito bem elaborados e artísticos. Lindoooos!!!!!
É bom dizer que nesta época não era proibido soltar balões.
E o senhor Tião ficava feliz ao ver todos admirados com suas criações e por seu trabalho que ele fazia por prazer.
Enfim, pra que venha mais Tiões, que resolvi trazer um pouco da história
deste homem simples que viveu e amou o bairro de Realengo. E para que os
leitores deste blog conheçam a história deste artista anônimo, coincidentemente
pai do criador deste espaço.
Enfim, na minha concepção e eu acredito que aqueles que o conheceram
concordam comigo, que o seu Tião faz parte da história de Realengo.
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Como disse nã queria escrever sozinho, então
me ocorreu de também pedir a parentes e amigos que conviveram com ele para darem suas
visões.
A coisa foi longe demais, desculpem pelo tamanho
do texto, e olha que não peguei depoimentos de muitos, que poderão nos
comentários abaixo se expressarem.
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Arte na madeira (10 cm de altura.) do Luiz |
Lúcia Fortes Fialho
O que eu me
lembro do
"Tio-Tião" é que ele era uma pessoa incrivelmente maravilhosa, com muito bom gosto musical.
Que ele e meu pai (Alcides) se entendiam muito bem com
as óperas e com as músicas clássicas. Mas confesso que manualmente devido
morarmos longe, não sei muito, mas lembro das máscaras de carnaval
maravilhosas, cada uma mais bonita que a outra.
Não conheci
outras aptidões, mas como tio ele era
MA-RA-VI-LHO-SO!!!
Delcius Ojeda Fortes
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Zilda e Tião rodeados de sobrinhos Delcius, Claudia, Lucia, Luiza e Vilma e Andrea |
Falar sobre
meu tio Sebastião, mas conhecido como “
Tio-Tião”, lembro-me dele na infância
era pequeno ainda, um cara de chinelo no pé, bermuda, camisa aberta no peito, um cara
tranquilo, o semblante dele era de uma pessoa boa, nunca vi ele brabo, sempre
tinha uma brincadeira um sorriso. Uma pessoa do bem. Como eu era muito pequeno
e os meus pais se mudaram do Rio, eu perdi alguma coisa da minha vida do
convívio com Tio-Tião mas o que lembro da minha infância é isso.
Também na
sapataria, trabalhando, colocando sola em sapatos, eu ficava olhando para ele,
e sempre tinha um sorriso bonito, um cara do bem.
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Zebrinha adaptada posteriormente.
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Aí como eu
disse por conta de meu pai (
Vinícius
Fortes) ser da Marinha éramos sempre transferidos. Aí perdi um bom período
de convivência e quando voltei a conviver com ele era a mesma pessoa, só que
envelhecido aquele jeitão o mesmo jeito com chinelo e ficava conversando com
ele. Ele lendo, comendo e falando comigo (acho que o almoço levava uns quarenta
minutos a uma hora. Tem um cara que faz a mesma coisa, come do mesmo jeito que
ele [não sei quem é?])! Também acompanhei ele nos últimos dias, estive lá no
hospital é isso, só lembranças boas.
Um cara
tranquilo, um cara bom em paz. Falava com todo mundo, as pessoas passavam na
rua, oi Tião, bom dia Tião, com vai Tião, sempre respondia com um sorriso.
Lembro de um
balão ele me disse esse vai subir e desaparecer um outro no formato de
despertador...e muitos outros, uma festa, realmente o Tião marcou história em
Realengo.
Um cara bom!
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Luizinho (eu) Tião e Zilda. |
Por Claudia Fortes.
Falar do "Tio Tião " é incrível.
Eu o peguei ainda quando bebia
pisava no meu pé e minha mãe não deixava brigar com ele. Como aquele que fazia
o melhor Carnaval, a melhor Festa Junina, era capaz de tirar a roupa do corpo
pra ajudar alguém. Aquele que adotou alguém e não fez diferença do seu filho de
sangue.
Aquele que me fez sorrir e quando
Deus o levou eu estive lá, mas me limitei a ficar distante por respeito.
Aquele que era tão importante que
sua irmã Arlete se foi na mesma data que ele se foi.
Sinto muito a sua falta e seria
muito FELIZ se meus filhos o conhecessem, mas o que me conforta é saber que lá
de cima ele olha por nós.
Por Roseneide Camacho
Seu Tião!!!! Que pessoa doce,
culta, de uma sabedoria que só pessoas com o coração carregado de bons
sentimentos pode ter.
Quantas tardes passamos
conversando no quintal da sua casa, o que falávamos, de tudo não vou
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A boneca dançante resite ao tempo |
lembrar,
pois o tempo se encarrega de ficar com algumas de nossas lembranças. Mas lembro
que falávamos das flores, da Mariápolis, dos trabalhos do grupo
S.I.M. e música
não podia faltar.
Ah! Seu Tião, eu só tenho a
agradecer pelo imenso carinho que permeou o nosso encontro. Eu o vejo neste
momento na minha memória, com um leve sorriso no rosto, que maravilha. Quantas
coisas boas seu Tião deixou, depois de muito tempo me alegro ao falar dele. Seu
Tião é 10!!!
Por Antonio
Zuzarte
Falar sobre seu
Sebastião Fortes é muito gratificante,
pelo fato de eu também ter custado a entender que Seu Sebastião e Dona Zilda
não eram meus tios biológicos, porque eu achava que sim, devido àquela
convivência com a nossa família, meu avô seu
João Zuzarte nosso saudoso avô, era um apego muito grande com seu
pai, pra mim realmente o seu pai era filho biológico de nossa avó, eu custei a
entender essa ficha demorou a cair. Depois eu comecei a puxar de minha mãe
Nilda e tia Maria como eles chegaram até agente e começaram a contar que sua
mãe era colega de escola de minhas tias, e graças a isso começaram a frequentar
uma a casa da outra, sua mãe abraçou minha avó, minha avó abraçou sua mãe, sua
me ajudou a cuidar da minha mãe que era a caçula da turma e enfim depois
conheceu seu pai e dai seu pai passou a integrar a família. O nosso avô era seu
pai pra tudo, chama Tião, cadê Tião, às vezes ele ficava esperando seu pai pra
tomar café com ele.
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Juntos com a Familia Zuzarte : Aparecida, Iza, Maria, Nilda |
Elizenita, faz
um café que Tião tá chegando ai! Então lembro que sentava os dois na mesa e ficavam de prosa tomando um café quentinho.
E minha mãe era bem pequena e teve a visita da imagem peregrina da Santa Nossa Senhora de Fatima de Portugal , meu avô tocava tuba na banda, meu pai
pegou minha mãe colocou no ombro na corcunda para ela assistir. Ela contava
isso muito feliz. Teu pai estava sempre lá puxando um som, , ajeitando sempre
alguma coisa e meu avô pegava no pé do teu pai o tempo todo e ambos gostavam
era aquela coisa de amor a primeira vista e pra sempre. Teu pai ficou muito
triste quando o Velho Zuzarte faleceu, segundo minhas tias, Tião dizia que
tinha perdido um pai, a coisa era muito forte. Eu também tive uma experiências
com teu pai, minha primeira caixa acústica foi ele quem fez pra mim, eu queria
botar um sonzinho melhor na vitrola e ele providenciou.
Teve as
situações que o Julinho passou, lembro que os levei. Teu pai muito mal quando deixou-o
internado numa casa de saúde em Jacarepaguá e eu vi teu pai de coração partido,
pois teve que ficar lá um pouco e enfim a gente veio trocando ideia no carro,
ele com aquele choro calado dele que você conhece melhor que ninguém. E minha
avó ficou muito chateada quando teu pai faleceu, “Perdi um filho”. Falar do seu
Tião é só coisa boa sempre atento, chegando junto. Até eu ficava esperando pra
tomar o cafezinho da tarde. Foi uma pessoa muito querida, e quando eu falei que
vc estava colhendo depoimentos elas ficaram até um pouco emocionadas., lembrar
um monte de coisa que nem dá pra colocar neste relato. Ele marcou deixou muita
saudade até hoje os dois, foram criados como irmãos realente parte da família.
No natal estávamos sempre juntos, vovó ficava esperando ele chegar, se não
chegasse, mandava chamar... enfim com certeza ele tem o Galardão dele lá tanto
ele quanto sua mãe deixaram uma lembrança muito boa. Com essa família que era
praticamente uma só.
Por Flávio da
Costa Terzi
Sr. Sebastião, conhecido por todos como "Seu
Tião", uma fala calma e paciente, de bem com a vida, encarava a vida com
simplicidade, e sabia divertir-se e aos outros, e o ápice dessa diversão era no
carnaval desfilar nos blocos de sujos em Realengo com seus enormes bonecos.
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Nilsa Augusta fantasiada (arquivo pessoal) |
Por Nilsa Augusta (ex vizinha)
Sr Tião sempre nos alegrou com sua arte e agora se eterniza na história de Realengo
Na foto que cedi para esta postagem usando uma fantasia emprestada por ele e que brinquei no carnaval da Av Santa Cruz seguindo um bloco de rua)
É incrível como papai continua vivo na memória de quem o conheceu.
Por Luiz Carlos Bastos Fortes
Sem ordem cronológica:
UNIÃO e PATERNIDADE.
Meus pais se conheceram ainda crianças nas salas de aula da escola
Nicarágua, quando ele ficava puxando as tranças de sua futura esposa. Depois de
casados e gestações frustradas e trágicas, o destino trouxe uma criança até a
porta, então Júlio César Bastos Fortes
foi adotado em consenso e oficialmente registrado, um neguinho verdadeiro
reinava no lar dos Fortes. Deu muita dor de cabeça ao velho, mas era uma missão
e cumpriu da melhor forma.E quatro anos depois vinga Luiz Carlos (eu
mesmo) que deveria ser chamado segundo velha Zilda Bastos Fortes: "José Carlos", nascido pelas mãos da
parteira Dona Mariinha e tendo tia Del' Carmen de ajudante, ouviam Tio Vinícius Fortes gritar, corta com dois palmos. (Será que
influencia??)
O
REGISTRO: No dia seguinte saíram abraçados,
alegres e sorridentes meu pai Sebastião
da Silva Fortes e seu cunhado, Tio Nilo
Oliveira em direção ao cartório mas no caminho encontraram um bar... alguns
goles e brindes pelo neguinho nascido (era pardo, mas me chamava de
"Neguinho" até a adolescência), continuaram e encontraram amigos numa
birosca, mais brindes e agua que passarinho não bebe pela goela abaixo..
Finalmente depois de cambalearem e tropeçaram
algumas vezes, chegaram ao cartório. |
Julio Cesar , Zilda e Luiz |
E ....esqueceram o nome.... João? Antônio? Entreolharam-se - O
escrivão tentou ajudar: Tinha outro nome composto?... -Os dois lembram, Carlos, mas na frente tinha outro.. ??
...Calma aí, vou lembrar insistiu Tião.Entre muitas variáveis uma sugestão do escrivão
soou bem: Luiz Carlos... Isso
mesmo, registra aí, decreta seu Tião! Felizes retornam, certamente com
algumas paradas (e agora mostrando a certidão), esvaziaram outros copos.
A
NOTICIA: Sofia,
Sofia...(que era como ele chamava
carinhosamente a minha mãe). Mas velha Zilda ralha com os dois, falem
baixo, pois o José tá dormindo... (eles não se deram conta) e seu Tião todo
proza comunica, agora tá no papel, mostrando a certidão (já um pouco amassada)
Luiz Carlos tá registrado!
Quem é Luiz Carlos??? Meu filho é José... (Por
alguns dias o clima certamente foi pesado... se ela tinha feito alguma promessa
pra São José, deu ruim, mas minha mãe não guardava rancor de nada.)
A
INFANCIA
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O menino Tião em Santissimo. |
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Com as Irmãs Nilsa, Jurema e Arlete |
: Meu pai filho de Antônio e Margarida Fortes, irmão
caçula de Nilsa, Arlete, Jurema e
Vinicius Fortes foi criado em Santíssimo mas ainda menino veio para o
Realengo, andava de trem (fazia entregas pra minha avó) e me contou que não
sabia ler, esticava o pescoço pra ver as fotos nos jornais do passageiro ao
lado. Um dia um deles perguntou alto pra todo mundo ouvir o quê estava escrito?
...O menino Tião, não soube responder... Mas doeu lá no fundo, pois dai
em diante decidiu não passar essa vergonha novamente.
Aprendeu e lia de tudo, aprendi a gostar de ler
com ele, eram gibis, livros, histórias de "faroeste" , comprávamos ou
trocávamos 3/1 nas feiras de Realengo, um outro tio o Rubens Lima , nos dava depois de ler, seus exemplares da "Seleções Read Digest" da qual era assinante e com essa leitura
estávamos sempre atualizados com o mundo, mesmo ainda não tendo TV. Lembro que
lá em casa tinha um importante livro e que sempre insistia para consultarmos
era um dicionário (ele chamava de pai dos burros).
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Tinha a mão boa para plantas. |
Meu pai sempre me contou de um filme
sobre um pescador e um dia achou o livro que contava esta historia e me deu de
presente. “ O Velho e o Mar de Ernest Heminghway“ e mantive a trtadição e também dei ao seu neto Pedro
Laport Fortes o mesmo livro.Amava esportes, mas não tínhamos TV ainda, mas
os amigos, (e como ele tinha amigos) deixavam ele assistir sua paixão, o
"boxe", entendia, vibrava, assistíamos na casa de dona Deolinda ,
pertinho do colégio Souza Lima, voltávamos tarde da noite...ele vinha feliz,
também era fã de corridas de carros assistíamos F1 torcendo pro Fittipaldi,
depois Piquet, e um tempo depois (quando a TV não passava só o rádio transmitia
- era paixão!) ouvimos que um moleque chamado Airton, estava dando show nas
categorias de base e certamente iria longe.
Religiosidade:
Era Católico fervoroso, membro dos "Congregados Marianos", mas
numa procissão de rua, ele estava carregando o andor de NSa. Senhora da
Conceição e uma chuva despencou de repente, não ficou um fiel pra contar a
história até o Padre foi pra baixo da marquise. Meu pai bradou: Povo sem fé... Daí em diante era a
igreja lá e ele aqui.... Mas mesmo deixando de ser praticante, anos depois
cultivou uma grande amizade com o padre Lessa e com as freiras, as quais se
utilizavam dos seus serviços diversificados. Lembro que tínhamos um quadro
lindo em casa de São Jorge, por dentro tinha uma luz que era acesa a noite,
Lindo...lembro também que ele disse ter visto um milagre atrás do altar da
Igreja de Santana (no centro do Rio). ...eu tenho fortes razões para acreditar.
LIÇÕES
DIÁRIAS: Papai era cativante, não sei
explicar... Incrível nada o aborrecia, eu era pequenino caminhávamos de mãos
dadas, e se ele tropeçava (ou martelasse o dedo) dava graças a Deus. Eu
arregalava os olhos de espanto, um dia perguntei porquê agradece?
- Agradeço pois tenho pé para dar topada,
agradeço por não estar numa cadeira de rodas ou de muletas. Eles sim, não podem
tropeçar. Então me sinto abençoado (umas das lições que carrego até hoje
comigo). "Pequenas coisas que parecem ser banais devem ser
valorizadas."
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Adorava jogar e assistir futebol. |
Meu pai não era de nos bater, era
adepto do dialogo mas mantia atrás da porta um chicote (assustador)
confeccionado por ele mesmo, que se eu senti na pele foi no máximo duas vezes.
Adorava futebol torcedor do América, jogava bem
e dizia ser bom goleiro, mas só "calibrado", chegou a fazer teste num
grande clube (não lembro qual) mas sem poder tomar uma branquinha, não pegou
nada.
Esse vício, junto com o cigarro (contribuíram
para sua partida para outros mundos) que começou ainda criança pois adorava
balões, fazia de todos os tipos, e para acender as buchas, gastava muitos
fósforos, e com o cigarro na boca acendia mais rapidamente (chegou a fumar 4
maços por dia). Trabalhava num depósito de bebidas da Antártica ao lado de
nossa casa, mas uma complicação no coração obrigou a se aposentar por
"invalidez". A respeito dos balões ficou alguns anos sem fazer ou
solta-los, estava triste alguém próximo espalhou que um balão feito por ele no
formato de caixão funerário (com duas buchas) foi agouro pois dias depois sua
mãe Margarida vem a falecer num acidente, pisoteada por vários cavalos no bairro
de Campo Grande, (ela ia levar o meu irmão Júlio, mas não era a hora dele)
demorou a se recuperar confessou um dia (mas nao fez mais caixões). Gostava
realmente de soltar balões com hora marcada avisava antes, tal hora vou soltar
um balão relógio com hora marcada (três horas) lembro de um na copa de 1970, na
hora que ia começar o jogo do Brasil x Itália, afirmava, ele vai voar baixo e
cair longe (estudava a bucha com tal precisão que ela não queimava rápido nem
forte.) Seus balões com diversos formatos eram facilmente reconhecidos.
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Bola da copa de 50 |
MUITAS
HABILIDADES: Essa aposentadoria
precoce, lhe proporcionou tempo para suas múltiplas habilidades, .batiam no
portão: Seu Tião preciso podar uma árvore, ele ia,... meu ferro de passar está
ruim, ele resolvia, também era estofador (o que lhe garantia uma renda melhor
para casa) costurava com precisão e ensinou a profissão ao meu irmão, no
quartel aprendeu a profissão de sapateiro, confeccionava também bolas de
futebol (a mão), tinha orgulho de dizer que fez bolas pra Copa de 50,
para a fabrica SUPERBALL, mas não impediu que minha mãe trabalhasse fora, e também se aposentar
feliz da vida.Os vizinhos sempre pediam para ele ajudar seus
filhos para confeccionar maquetes para os trabalhos escolares, e eram
elaboradas ele não se contentava com o simples. As meninas lhe chamavam de tio
antes disso virar moda. E como ele tinha sobrinhas. Tratava como filhas pois
sempre quis ter uma e não foi agraciado.
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Piranhão no carnaval eu com a boneca dançante
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Meus brinquedos a grande maioria eram
confeccionados por ele, e eu com a boneca dançantecarrinhos de rolimã, pião, patinete, futebol de pregos,
petecas, skate (um dos primeiros da Zona Oeste, viu numa revista e fez
igualzinho), pipas ele fazia de todos os tamanhos e formatos. Pipas que cabiam
na palma da mão ou outras do seu tamanho com rabos de panos. Decorava festas
juninas, fazia caricatura em cocos secos, esculpia em pedaços de madeira,
bolava alegorias ou fantasias exóticas amava carnaval, o normal não lhe atraia.Velho Tião não teve estudos ou diplomas,
aprendeu tudo com a vida, grande observador se arriscava em várias empreitadas
e não me recordo de reclamações de um serviço mal feito. Era um pai presente
pois aposentado tinha tempo livre pra nós, jogava bola conosco, soltava pipa,
ensinava jogos e brincadeiras nas ruas, fazia perna de pau onde víamos todos do
alto, telefones de lata, costurava panos compridos enfiava serragem e um arame
que de noite na penumbra parecia uma cobra...ah,ah como assustamos muita gente
uma vez ganhou uma máquina de filmes manual que passava a noite para alegria da
criançada. Na casa dos fundos morava minha prima Claudia Fortes, que ganhou um
balanço só seu dentro da varanda.
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Bonecão no Bloco das Piranhas |
Bloco das
Piranhas: Quando uns
sobrinhos postiços, (Jõao, Leoncio, Leó
e Tuquinha todos “da Matta”)
estavam fundando e organizando um bloco de Carnaval no bairro, eles pediram
para ele criar algo para ir à frente do bloco. Era o bloco das Piranhas de Realengo que teve o primeiro
"Bonecão de Carnaval"
claro que ele deve ter visto em algum lugar só adaptou com as bonecas de peitos
amostra (fez duas). Uma loja chamada "Bazar
da Moda" encomendou (para fazer marketing), também um bonecão, mas
como Papai Noel, imaginem um bom velhinho de três metros de altura pelas ruas
de Realengo, era alegria da criançada. Obs: Essas armações eram feitas de varetas
de bambu e arames, e duraram bastante tempo, e posteriormente eu adaptei com
outros personagens.
Minha mãe visivelmente estava mais feliz com
seu homem sóbrio.
Os vícios foram largados, o cigarro
tardiamente, mas o alcoolismo eu ainda era criança, voltávamos de um passeio de
Sepetiba e no ônibus minha mãe sentou comigo ao colo, e meu irmão, sentou ao
lado. Mamãe pediu: Dê o lugar pro seu pai. - E Júlio retrucou "Eu não
mandei ele beber". Todos ouviram, daquele dia em diante meu pai nunca
mais bebeu. Entrou pro AA,
colecionava as fichas coloridas o seu orgulho, cada côr era um ano, etapas
conquistadas, se sentia um vencedor. Tinha tamanha segurança que chegou a
trabalhar num Bar na esquina de casa do "Seu Nestor". E resistia a
tentação, fazia caricaturas em coco e dentro colocava aguardente os clientes
amavam sua arte e saboreavam o mel.
Tinha uma capacidade de desenhar Incrível,
adorava música, de todos os ritmos, bolero, forro, samba, samba de breque e o
pop, etc, adorava cantar ou assobiar no chuveiro, e hoje eu analiso, como ele
com tão pouco estudo ou cultura, ouvia óperas, músicas clássicas e parecia
entender e muito... como? eu não sei. Ganhamos do tio Alcides Fialho uma vitrola num móvel enorme, pois comprou uma
menor, o radio captava até estações estrangeiras. Assistia domingos pela manhã
na TV, concertos para a juventude, comprava discos de óperas e orquestras, anos
depois meu irmão trouxe outros sons para casa, ampliou seu gosto musical que já
era eclético, ouvíamos de tudo em casa do Clássico ao Rock, uma democracia.
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letra do Dudu - Mais que um Amigo
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Um de seus últimos trabalhos foi criar cenários
e adereços para apresentações teatrais do
grupo
S.I.M e recebeu uma bela
homenagem póstuma do professor Dudu, que compôs (na missa de sétimo
dia) uma versão de "Don't Cry For Me Argentina" da peça Evita e que
virou " Mais que um amigo".
Nós do grupo S.I.M. tínhamos um espetáculo na semana seguinte com ingressos
vendidos antecipadamente e o teatro não tinha mais datas livres para
remarcamos. Foi uma noite de muita emoção. a letra está ao lado.
Seu-Tião brincava dizendo: Pode me chamar de De Millus o amigo do peito
Um ser de luz, obrigado por tudo.
abaixo um escrito meu quase um mês apos sua partida.
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fragmentos sobre meu pai |
Pequenas lembranças
# Me disse que fez uma fantasia de caveira só pra sair de
noite, os ossos eram pintados com tinta florescente, imaginem seu efeito a
noite.
# Fazia doces e sucos deliciosos.
# Gostava de bailes do Grêmio, onde era sócio e conselheiro.
Quando fiz 14 anos começou a me levar junto, (menor só acompanhado eu era alto
enganava o juizado) assistimos, Jamelão, Orquestra Tabajara, Copa 7, e os
conjuntos de covers de sucessos estrangeiros: The Fevers, Os Famks (que viraram
Roupa Nova), os Pholhas, Aeroporto, Casanova (a cronner depois ficou famosa
"Rosana" e muitos outros.
# quando podia($), comprávamos discos no centro ou em
Madureira, até fazer um serviço de carpintaria numa nova loja de discos em
Realengo e que depois veio a ser também meu primeiro emprego.(acredito que ele
deu uma força)
# prestou serviços diversos ao Dr. Manoel Gomes (médico
referência no bairro na época), tanto no consultório quanto na sua casa e com o qual tinha boa amizade
E por fim. Em seu velório eu e minha prima Luíza Fialho, conversamos e concordarmos que um ser alegre como ele foi, não merecia uma despedida triste. Todos ao redor concordamos, e decidimos fazer um brinde em homenagem agradecendo por termos tido o privilégio da sua convivência. E assim é feito com todos nossos parentes que partem.
Fim.
obs: as fotos anteriormente preto e brancas, foram colorizadas por Paulo Gotelip um ex vizinho nosso na infancia. obrigado.