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Você sabe o que significa REALENGO? Qual a origem desse estranho nome? Dom Pedro I costumava ir para a fazenda de Santa Cruz pela estrada Real de Santa Cruz, que passava pelo Real Engenho, onde muitas vezes pernoitou. "Engenho" era uma palavra muito grande. Assim a abreviatura usada era "Engo". E ficou "Real Engo" nas placas de orientação utilizadas na época. Mas essa teoria é contestada por Brasil Gerson em "História das Ruas do Rio". Na página 405 da 5ª edição deste utilíssimo livro encontramos: "Não são poucos (e alguns de alta categoria intelectual) os que pretendem ver em Realengo um diminutivo, uma abreviação de Real Engenho. Porém, o manuseio dos documentos antigos, dos pedidos de sesmarias, principalmente, nos convencerá de que essa é uma teoria sem fundamento nesse particular, tal a insistência com que neles se fala de terrenos e campos realengos, destinados à serventia pública, e em maior número para a pastagem do gado por parte dos que não possuíam para isso terras próprias, e esses campos eram tanto onde ficaria sendo o Realengo dos nossos dias como perto da Igreja de Irajá, onde já os antepassados do Juca Lobo da Penha e outros criadores haviam protestado por causa de uma sesmaria dada a Manuel da Costa Figueiredo em terras que não podiam deixar de ser realengas..." Consultando o Aurélio: REALENGO - Bras. RS Sem dono; público. Em desordem; entregue às moscas; abandonado: Saiu, deixando o escritório ao realengo. [Do lat. vulg. *regalengu.]
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Aquele Abraço
J. Carino
Atravesso o Rio como numa aventura. Deixo para trás uma cidade emparedada e me lanço em direção ao subúrbio. A Avenida Brasil me cobra uma pressa que eu não teria; me obriga a navegar rápido num mar de automóveis; não me deixa olhar com vagar essa estranha transição entre dois mundos que convivem na mesma cidade.
Aos poucos, a luz muda, a paisagem se transforma. Os prédios aglomerados cedem lugar às casas, essas singularidades arquitetônicas hoje cada vez mais escassas. E, no subúrbio, resiste-se à ditadura de uma homegeneização arquitetônica: uma puxadinha aqui, para abrigar mais um parente, um andar a mais para acolher a filha que casou…
Muitas casas, moradias eternamente inacabadas, em que a falta de emboço escreve nos tijolos aparentes a história da permanente falta de dinheiro.
Chego ao meu destino: Realengo. Na larga avenida, os muros altos e compridos a não mais poder escondem os quartéis, lugares sérios e proibidos ao menino que só queria não perder sua pipa ou seu balão.
Sim, ainda há pipas e balões no subúrbio. Essa humanidade profunda contida nas brincadeiras infantis; no cansaço nunca sentido depois das longas “peladas” jogadas em campinho de várzea; no sabor da fruta madura roubada dos quintais; no cheirinho que sobe depois da chuva nas ruas de terra – tudo isso está lá em Realengo, convivendo com o progresso, que invade, célere e inevitável, os redutos suburbanos.
Lá estão as moças bonitas, o papo no bar da esquina, e essa figura tão rara em outros cantos da cidade: o vizinho. Está lá esse ser da casa ao lado, da mesma rua. Esse alguém que empresta ovos e açúcar; que ajuda no mutirão da construção da casa. Essa pessoa que vai entrar na família, virando compadre, virando nora ou genro, chegando e ficando para sempre, dando alma e corpo à amizade.
Realengo está lá, e vale a pena saber que os bairros lá estão, cheinhos de gente muito boa, cuja pele sua no trabalho como escorrem as gotas na garrafa da “loura gelada”.
Volto de alma nova. E cantando com o Gil: Alô, alô, Realengo! Aquele abraço!
J. Carino é professor universitário
fonte: A postagem original é neste link, muito interessante,
http://www.almacarioca.com.br/realengo.htm
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