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terça-feira, 26 de outubro de 2010

O BARBEIRO DA ESCOLA MILITAR DO REALENGO

Postamos hoje mais uma colaboração do Prof. Sinvaldo


  O bairro de Realengo tem suas histórias, crônicas e memórias. Tem também seus personagens pitorescos, monumentos significativos, homens e mulheres notáveis.

 



As memórias e crônicas da Escola Militar de Realengo aparecem entremeadas de situações jocosas e apelidos bizarros. Um deles, o “Lhufas”, que na verdade se chamava Aristides, era uma das figuras mais queridas daquela academia.
Encarregado do corte de cabelos de todo o corpo de cadetes, Aristides estava sempre pronto para resolver toda sorte de dificuldades. Era o verdadeiro quebra-galho de todas as horas, oferecendo, desde pequenos aviamentos emergenciais, como botões, agulhas, linhas, esparadrapo, sabonete, creme e lâminas de barbear, pasta dentifrícia, cadarços e pentes de bolso, até sua mochila repleta de guloseimas, disputadas a pau e pedra, pelos esfomeados cadetes, após longas marchas e cansativos exercícios hípicos.
Segundo Hilnor Canguçu Taulois de Mesquita, que estudou na Escola Militar de Realengo, e foi declarado aspirante a oficial da Arma de Infantaria em 22 de novembro de 1937, o “Lhufas”, que era baixinho, de tez parda, cabelos crespos já grisalhos e começando a rarear, foi a figura mais popular de toda a Escola.
Além de quebra-galho, de esbanjar simpatia e da cordialidade como tratava indistintamente a todos, o barbeiro Aristides era um piadista de verve acentuada. Sempre que chegava ao alojamento, os cadetes queriam logo ouvir o seu repertório inesgotável de anedotas inteligentes, picantes e saborosíssimas.
Por ser encarregado da barbearia dos cadetes, lhe era franqueada a presença nas manobras, acampamentos, marchas e exercícios de longa duração, realizados pela Escola Militar de Realengo. “Lá ia também o Lhufas, de culote e camisa de brim cáqui, acompanhando o Batalhão de Infantaria, marchando conosco, transportando enorme mochila...”
Hilnor de Mesquita, na obra intitulada “Memórias do Realengo”, organizada por João de Abreu Lins, recorda um episódio ocorrido nas manobras de Taubaté, em 1936.
“Estávamos acampados e não sei como, correu a notícia de que havia nas imediações, uma “venda” que oferecia uma “pinga” verdadeiramente deliciosa.
“Sair do estacionamento, não era possível. Mas lá estava o providencial “Lhufas”, a quem vários cadetes entregaram os cantis, para que os enchesse de “pinga”. Ao passar por uma porteira junto à qual papeavam alguns “frangos”, o prestativo barbeiro foi interpelado por um dos tenentes:
“Aonde vai, Lhufas, com todos esses cantis?”
“Seu tenente, os cadetes não me dão uma folga. Vou encher estes cantis numa bica de água fresquinha, que existe aqui perto...”
“Ao regressar o Aristides, lá continuavam os oficiais, no seu “P.P.” junto à porteira. Cada um deles pediu um cantil, dele tomando um gole... de deliciosa água fresca, que era o que realmente continham os cantis.
Subindo a encosta, o Lhufas – já perto do acampamento – esvaziou uma por uma as vasilhas. E, ao passar de novo pelo grupo de oficiais, lamuriou-se dizendo:
“Pelo jeito, não vou descansar tão cedo... Agora outros também querem água... Só vou folgar quando os cadetes recomeçarem o exercício; espero que seja logo, se os senhores me ajudarem”.
“Ao voltar, desta vez com os cantis cheios de “água que passarinho não bebe”, o Lhufas já não encontrou na porteira o grupo de desconfiados “frangos”, pois estes, da mesma forma que os cadetes, haviam atendido ao chamamento da corneta, que a todos estridentemente convocava para dar início aos trabalhos do dia...”
E assim, o fígaro da Escola Militar de Realengo, ia se tornando amigo de todos. A ponto de construir sua casa no bairro, com a ajuda mensal e espontânea de todos os cadetes do 3º ano, que contribuíram com 1 mil réis, abatidos do soldo na hora de receber o pagamento.
Hilnor, que, anos depois, voltaria à Escola Militar do Realengo já como oficial superior, reencontraria o barbeiro Aristides octogenário.
“Recordo-o, porém, como um homem bom e prestativo, inteligente e espirituoso, modesto... mas que saiba, no fundo de sua alma, ser grato para com aqueles que mostraram ser seus amigos”, concluiu Hilnor Canguçu de Mesquita.

Sinvaldo do Nascimento Souza
Historiador


sábado, 14 de novembro de 2009

Realengo pelo Professor Sinvaldo Nascimento Souza

A palavra "realengo" tem a sua origem no latim vulgar "realengu", e tanto pode significar aquilo que pertence ou é relativo ao rei ou a realeza ou próprio dele ou dela, como também aquilo que é publico, "sem dono". O saudoso professor Helton Veloso, fundador do Colégio Belizário dos Santos, de Campo Grande, que era também um pesquisador da Historia da Zona Oeste, preferia explicar a denominação do geonomastico como junção da palavra "real" com a abreviatura de "engenho" (Eng°), bastante usual nos séculos passados. Realengo fazia parte da jurisdição da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande desde a sua criação em 1673. Somente em 1926, com a assinatura do Decreto n° 2.479, de 11 de novembro, foi instituído oficialmente o distrito de Realengo.

As terras realengas

As chamadas terras realengas eram públicas. Não podiam ser doadas como foram sesmarias de Cristovão Monteiro, em Santa Cruz, que passaram a propriedade da companhia de Jesus. Eram "realengas", e por isso mesmo destinavam-se à engorda do gado. Ainda assim. "alguns terrenos já haviam sido invadidos por particulares antes de 1660, ano em que os provimentos de Correições definiram como bens do Conselho para uso público e Campo Grande e o Campo de Irajá, conforme Fania Fridman, em seu recente livro "Donos do Rio em nome do Rei - Uma historia fundiária da cidade do Rio de Janeiro" . em co-edição da Zahar com a garamond. " O Alvará é bom que se entenda, era uma espécie de resolução soberana referendada pelo ministro competente a respeito de negócios públicos ou particulares, em geral de efeito temporário. O termo colativo referia-se ao beneficio eclesiático vitalício da então Freguesia Nossa Senhora do Desterro a qual jurisdição estavam inclusas as terras realengas. Estas não poderiam ser alienadas e muito menos transmitidas aos herdeiros, no entanto ficava autorizada a venda em leilão publico com preços estimados judicialmente. Ainda de acordo com Fridman, " pela provisão de 18 de Julho de 1814 e pela portaria de 29 de dezembro de 1815 foram conservadas as casas e terrenos de dez famílias nas terras realengas. Nesta época estabeleceram-se vendas e ranchos até que, em Agosto de 1825, a Câmara, preocupada com os abusos, mandou realizar um vistoria e concordou em manter somente aqueles que pudessem apresentar seus títulos ou que estivessem á beira da estrada, pelo lado direito. Ficou determinado que: 1) seus terrenos não poderiam exceder 30 braças de testada com vinte de fundos; 2)não seriam permitidas novas invasões; 3) houvesse um intervalo de cinquenta braças entre os moradores; 4) este intervalo deveria ser mantido limpo; 5) o foro seria fixado em 200 réis para cada braça de testada. destaquemos que foi mantida a posse de Francisco Joaquim de Menezes , com 65 braças de testada por 50 de fundos, e proibida a utilização para pastagem da parte da sesmaria localizada na Capoeira". O livro de Fania Fridman vem ilustrado com varias plantas de Realengo.
Que nos possibilita visualizar a evolução urbanística daquela área da atual Zona Oeste, que já no inicio da segunda metade do século XIX, iria ocupar um papel destacado no cenário militar. "Em 1857, estas terras, de meia légua e reservadas para pastagem, tornaram-se propriedade da Câmara Municipal. Uma comissão constituída para realizar um planta estabeleceu que todos os foreiros deveriam tirar novas cartas. Foi verificado que 19 prazos possuíam 30 braças de testada, oito com frente variando entre 60 e 130 braças e os demais medindo apenas de 5 a 28 braças. o governo comprou algumas posses para a construção de um aquartelamento militar. o Campo do Marte onde incluía uma Escola de Tiro e a Imperial Academia Militar, estabelecido em 1859. O Realengo foi retalhado, dividindo em quadras regulares estabelecidas ao redor de dois campos e nestas mas os terrenos foram aforados. (...) O Ministério da Guerra construiu um chafariz e encanou a água do Rio Piraquara até o centro do arraial. (...)

“O processo de ocupação transformou o Realengo de Campo Grande em uma zona militar cujo ápice foi o estabelecimento da Escola Preparatória e de Tática e do 1º Batalhão de Engenheiros em 1897. No Largo foram construídas moradias dos operários da Fábrica. Esta mudança de uso, de um povoado agrícola para uma localidade residencial, industrial e de serviços, implicou um processo de urbanização e de valorização fundiária cuja marca foi a de Ter sido empreendido pelo Estado”, acrescenta Fridman.

A Escola de Tiro de Campo Grande

Na verdade deveria chamar-se Escola de tiro do Realengo ( ou pelo menos do Realengo e Campo Grande), uma vez que suas instalações se encontravam nas proximidades do Campo do Marte. Este estabelecimento militar, criado em 1859, fazia parte da pequena rede escolar do Exercito e tinha como finalidade " ensinar o jogo e o tratamento das diferentes armas de fogo e a adestrar oficiais e soldados nas regras práticas do tiro", conforme Decreto 2.42, de 18 de maio de 1858, citado por Jehovah Motta, no livro "formação do Oficial do Exército". O autor desde a metade do século XIX, os nossos chefes militares, ou pelo menos alguns deles, sentiram com acuidade o problema do ensino militar, quiseram no prático e objetivo, bem amarrado a sua destinação especifica" " Assim foi quando imaginaram e criaram a Escola de Tiro de Campo Grande, destinada a fazer tenentes e sargentos conhecedores do armamento e hábeis no tiro, capazes portanto, de como instrutores e monitores, elevar o nível de adestramento da tropa." A Escola de Tiro de Campo Grande encerrou suas atividades em 1865, no mesmo ano em que a Escola Militar da Praia Vermelha ficava reduzida apenas ao curso preparatório, talvez em decorrência aos esforços de guerra, tendo em vista o inicio do conflito com o Paraguai, que somente terminaria cinco anos depois.

Escola Preparatória e de Tática do Realengo

Foi inaugurada em 5 de Junho de 1898. Era destinada ao ensino teórico e prático do curso preparatório para a matricula na Escola Militar do Brasil, sendo frequentada por oficiais e praças de pré do Exército. De acordo com Jehovah Motta, " O pouco que se conseguiu no fortalecimento do ensino técnico-militar e, não correu por conta da Escola Militar do Brasil e sim pelas escolas "preparatórias e de tática" , no Realengo e no Rio Pardo. Não que nestas o "ensino prático" tivesse atingido elevado grau de eficiência, mas de qualquer forma algo se fazia. "O General Leitão de Carvalho foi aluno no Realengo, entre 1898 e 1900, e assim depões. "Sem que atingissem o nivél desejado, as atividades escolares, no 2° ano, melhoraram sensivelmente. Recebendo armamento, o Corpo de Alunos assumiu caráter militar. Começamos a praticar o tiro ao Alvo. Isso sem preparação prévia quanto ao conhecimento do manejo e das qualidades balísticas da arma. O ensino prático pouco a pouco foi tomando forma, com a introdução de algumas novidades, além dos exercícios de ordem unida, completados por marchas e evoluções - mudanças de posição dos elementos constitutivos das unidades, sem objetivo tático - espécie de quadrilha , sem os pares e a música. Uma dessas novidades foi a esgrima de baioneta". (citação de Leitão de Carvalho in "Memórias de um Soldado Legalista v.1. p.22-25). Sobre o prédio onde funcionava a Escola preparatória e de tática do Realengo, Noronha Santos observa: "Funciona em um belo edifício no Campo de Marte, há poucos anos constuido para o quartel de infantaria. Possui vastas acomodações: tem 90,52 m de frente e 101,60m de fundos. O portão principal tem 2,50 m de largura. Situada a direita do leito da estrada de ferro, do lado oposto da estação do Realengo. No edifício da Escola a linha da estrada distam 22.50m.
No pavimento térreo, ficam, para o campo exterior, treze janelas em cada lance, e no pavimento superior, cinco janelas de sacadas. Todo o estabelecimento é iluminado a luz elétrica, existindo no pátio um grande foco de luz. Antes de ser criada a Escola Preparatória e de Tática, esteve aquartelada nesse edifício a Escola de Tiro, extinta em 1897, por ato do governo. As quatro companhias de alunos ocupam igual número de alojamento, ficando do lado direito do edifício a 1ª e 2ª companhias e do lado esquerdo a
3ª e 4ª companhias. Durante a revolta aquartelou no edifício um contingente de guardas nacionais".

O autor das notas do livro " as Freguesias do Rio Antigo vistas por Noronha dos Santos", Paulo Berger, acrescenta que , "com a eclosão , em 14 de novembro de 1904, de um movimento sedicioso politico-militar originário na escola Militar do Brasil da praia Vermelha, por motivo da decretação da vacina obrigatória pelo Governo, e com apoio de grande parte dos alunos da Escola Preparatória e tática do Realengo, houve um colapso nesta instituição de ensino militar, dando-se o seu encerramento."

Posteriormente - acrescenta Berger - , impõe-se a reorganização imediata do ensino militar, e pelo Decreto n° 5.698, de 2 de Outubro de 1905, transforma-se a Escola Preparatória e de Tatica do Realengo em Escola de Artilharia e Engenharia, Escola de Aplicação de Cavalaria e infantaria, e Escola de Aplicação e Engenharia. Em 1911 a Escola de Guerra de Porto Alegre, é transferida para o Realengo, com extinção da Escola de Aplicação de Infantaria e Cavalaria.”

Recordações do Realengo

O General Lobato Filho, autor do livro "A Ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", dedica uma boa parte da sua obra para falar do Realengo, o qual trata como "triste subúrbio", "Ao chegarem ao Realengo começavam as despedidas. Surgia, então, um pouco de sentimentalismo. Aquela despedida aos velhos companheiros do Realengo era feita sob forte emoção e fazia nascer no intimo do novo cadete do curso superior uma grande saudade. Era como se os cadetes, ao deixarem a Escola preparatória, a absolvessem de dotas as maldades que ela lhes houvesse feito. " Daquele momento em diante o novo cadete da Praia Vermelha passava a ter recordações da vida um pouco menos brilhante, mas nem por isso desinteressante, passada nas Escolas Preparatórias. ninguém poderia esquecer, por exemplo, a noite silenciosa, de luar prateado, no Realengo, em que, altas horas, mesmo de madrugada, quebrando a solidão daquele triste subúrbio, vem chegando até a Escola os sons dolentes e muito sentimentais de uma linda serenata (o violão, a flauta e a voz harmoniosa do trovador, ouvidos muito de longe, lá do fim de uma daquelas estradas vindas da Serra do Barata, do lados de Bangu ou de outros lugarejos onde se realizara algo de interessante para a mocidade, e vem se aproximando vagarosamente da Escola, remexendo os corações dos cadetes os quais, muito mais amigos da Álgebra, da geometria e da Trigonometria do que dos violões, das flautas e dos trovadores, terminando os seus estudos da noite, estavam já mergulhados em sono profundo."

Mais adiante, Lobato Filho faz a pro-memória dos passeios pela antiga Zona Rural: "Muitos guardariam também recordações dos adoráveis piqueniques na Caixa D´água ou na velha fazenda do Gericinó que naquele tempo era somente uma velha fazenda, pois ainda não fora transformada no vasto Campo de Instrução. Para esses passeios aproveitavam-se as combinações de dias feriados e domingos e lá saiam, geralmente alta noite, as grandes caravanas conduzindo os enormes volumes chamados "pianos", contendo aprovisionamentos que eram conseguidos na própria Escola, com autorização do Comando, por conta das etapas dos componentes dos piqueniques. Eram gozados em Gericinó dias de vida campestre, livres das formaturas e, sobretudo, do famigerado toque de lavatório das 4 1/2 da madrugada. os piqueniques levavam sempre uma turma de seresteiros."

"Outros guardariam saudosas recordações das Repúblicas espalhadas pelo Realengo, formadas pelos felizardos cadetes que logravam um desarranchamento e permissão para residir fora da Escola. Eles ostentavam nomes impressionantes: Cabana de Arakém, de visitas e alegres palestras nas horas de descanso e aos domingos."

" O Realengo - continua Lobato Filho - não possuía esse benéfico aspecto (referindo-se ao orgulho manifestado pelos cadetes de Rio Pardo, ao reencontrarem seus notáveis professores na Praia Vermelha), pois eram um lugar onde não se formou nunca uma sociedade de famílias civis nem militares, não obstante existirem ai três grandes estabelecimentos: a Escola, a Fabrica de Cartuchos, o 1° Batalhão de Engenharia. Mas os respectivos professores, oficiais e funcionários residiam na cidade e só permaneciam no Realengo durante as suas poucas horas de trabalho. O Realengo era uma espécie de lugar indesejável", acrescenta o autor.

Mesmo diante dos cáusticos comentários sobre o Realengo, o autor de "A ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", reserva algumas passagens do seu livro para falar de passagens pitorescas, durante a sua jornada trienal na antiga Escola Preparatória do Realengo.

Merecem um parágrafo especial, no que se refere ás recordações do Realengo, certos fatos talvez um tanto escabrosos que muitos cadetes haviam de querer varrer do espírito, considerando-os como ocorrências do passado, mas que não deixaram de se apresentar, no momento em que as reminiscências não se escondem.

" Uma dessas coisas um tanto escabrosas era o Miguel das Laranjas ou Miguel das Suissas, com as suas dezenas de cadernos de contas velhas e novas, mas todos sabiam que os seus prejuízos não eram muito avultados pois já havia ele acrescido ao preço do custo uma bem grande percentagem de lucro. Ademais, O Miguel gozava das boas palestras dos cadetes.

Outra, era o Sans Souci, o célebre e restaurante do Mário que depenava os cadetes com os seus preços arbitrários; mas o Sans Souci era uma defesa contra o rancho da Escola." Quem também se refere ao Restaurante Sans Souci, é João de Abreu Lins, no seu livro intitulado "Memórias do Realengo", editado pelo Governo do Estado de São Paulo, em 1984.

" Era um restaurante modesto de subúrbio, localizado próximo da Escola, o qual ficava superlotado de cadetes depois das 17 horas e 30 minutos, após a liberação dos portões da Escola Militar diariamente." "Parecia uma festa àquela hora, as mesas do Sans Souci ficavam cheias de cadetes que ali iam saborear um copo de vitaminas, uma sobremesa, ou mesmo uma bóia diferente do rancho da Escola."
" A algazarra da cadetada se misturava com o som permanente do rádio que ficava no alto tocando as musicas, sucessos carnavalescos de Carmem Miranda, Orlando Silva, Noel Rosa e Francisco Alves.

"Alguns cadetes ficavam de pé na "piruação" e uma vaga nas mesas e todos conversavam animadamente num vozeiro infernal.

" O saguão era ligado a cozinha por uma abertura na parede, por onde iam sendo recolhidos os pratos com as iguarias da casa, entre elas o "completo" que constava de : arroz, batata frita, um suculento bife e em cima dois ovos fritos.
" Esta especiaria da casa era muito apreciada pelos cadetes, e custava naquele tempo apenas 3 mil réis.
" Sempre que o cadete pedia um completo, pedia em seguida o acompanhamento, ou seja meia garrafa e cerveja Malzibier ou uma caneca de vinho rio Grande do Sul".

" O dono do restaurante, Seu Martins", era um português legitimo de grossos bigodes e muito vermelhão que sempre estava atrás da da "registradora" faturando e fazendo o troco.

"Naquele ambiente de descontração os cadetes faziam as suas irreverências, os seus comentários sobre os "frangos", sobre os fatos ocorridos naquele dia nas aulas ou nas instruções, faziam seus planos, seus coméntarios sobre mulheres era a hora do desabafo do cadete." E por falar em mulheres, vale ainda transcrever mais um trecho do livro do -general Lobato Filho, durante o seu " internato" na Escola do Realengo.

" Agora a D. Joaquina ! Mantinha ela com os jovens preparatorianos, não com todos mas com muitos, um comércio de certa mercadoria de que eles não se podiam ir prover na cidade, não só por falta de tempo como porque ali era muito mais cara essa mercadoria indispensável à vida.

“D. Joaquina não tinha empregadas: ela era só na tarefa. Rústica e sem nenhuma compreensão das coisas, a Joaquina parecia Ter idéia de oficializar o seu comércio, pois em certa ocasião, conseguiu iludir os contínuos e chegar até à presença do Comandante, para queixar-se de que era pela "ônzima" vez (11ª) que o cadete Maribondo ia ao seu estabelecimento e não lhe pagava as contas. “Cá está o caderno, Sr. General, saiba V. Excia., que eu vivo disso e está ele a atrapalhar-me o negócio ! (...)
D. Joaquina tinha uma concorrente no mercado clandestino de mercadoria barata e a crédito. Era a Madame Lafitte. A afluência às feiras dessas humanitárias mercadoras (aqueles Bacuraus, como em Recife se denominam as feiras noturnas), era tão volumosa que já a esse tempo, quase formavam filas.

Assim, sob as saudades criadas por mil recordações, iam os novos cadetes, cheios dos projetos, esperanças e sonhos, empreender um prélio acadêmico, na tradicional Escola da Praia Vermelha e todos fixavam um primeiro objetivo - o prêmio de Alferes - aluno, que se achava como que situado no alto de uma escarpa íngreme, áspera e de difícil acesso", conclui Lobato Filho.

A vida dos cadetes do Realengo não era só brincadeira, estudos e irreverências. A Escola em diversos momentos, teve uma presença marcante da historia brasileira, posicionando-se ao lado das forças populares, como em 1904, durante a Revolta da Vacina e em 1922, protestando contra o Governo do presidente Artur Bernardes.

Realengo também serviu como uma espécie de laboratório do Exercito. Tanto para as experiências práticas, como teatro de operações para os treinamentos militares de 1884, sob o comando do Conde D'Eu e outros exercícios semelhantes realizados nas primeiras décadas do período Republicano, como também para adaptar-se às novas teorias militares introduzidas a partir das missões európéias, em particular sob a orientação francesa, prussiana e germânica.

A chamada "Era do Realengo" vai durar até o ano de 1944, quando começa a funcionar o primeiro curso da Academia Militar das Agulhas Negras, no município de Resende.

Sinvaldo do Nascimento Souza

fonte: Região Administrativa de Realengo, confirmado o texto com o próprio autor por email e também no link http://hgpaulo.com/ramaldesantacruz/realg.htm

Historias perdidas no tempo. Pioneiros da Aviação.


ASCENÇÃO DE BALÃO - Realengo - 1908
Hoje saimos do eixo Zona Sul - Centro da Cidade e vamos parar, na época, longínqua Realengo na área militar, onde atualmente ainda é.

A foto é um registro desconhecido por muitos dos momentos antes da ascenção do balão pilotado pelo Tenente Justino da Fonseca.

O tenente Justino tinha a ideia de dotar o Exercito Brasileiro de um nucleo de aeroestação, para isso eram necessarios balões. Viajou à Europa para adquirir o material necessário para o Parque de Aeroestação. Especializou-se em navegação aérea e participou de eventos.

De volta ao Brasil, marcou uma demonstração de vôo às autoridade (foto acima), para o dia 20 de maio de 1908 defronte a Escola de Artilharia e Engenharia, em Realengo.

O vôo começou bem com o balão tentando alcançar os previstos 200 metros quando um dos cabos de retenção arrebentou e o balão perdeu o controle alcançando o que se estima uns 1000 metos quando foi levado por correntes de vento à Serra do Barata. O tenente tentou controlar a decida abrindo a valvula de gás mas houve também problemas e a queda foi inevitavel.

O tenente Justino foi a primeira vitima da aviação no Brasil. Foi enterrado no Caju, e hoje seus restos mortais se encontram no Mausoléu dos Aviadores no Cemitério São João Batista.

fonte: http://www.flickr.com/photos/carioca_da_gema/67937531/

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Uma homenagem a Augusto Severo

Pioneiro da aviação mundial teve seu nome em rua santista, em 1902

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Nascido em Macaíba (interior do Rio Grande do Norte) em 11 de janeiro de 1864, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão é considerado o "Mártir da Tecnologia Aeronáutica", por ser um dos pioneiros nessa atividade e ter falecido em um acidente aéreo em Paris, em 12 de maio de 1902.

Era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão, tendo 12 irmãos, destacando-se Pedro Velho (que proclamou a república no Rio Grande do Norte, estado de que foi o primeiro governador) e Alberto Maranhão (presidente desse estado de 1900 a 1904 e deputado federal de 1927 a 1929). O próprio Augusto também foi deputado federal, e conseguiu no Congresso que o governo concedesse uma verba de cem contos de réis para apoiar as experiências de Alberto Santos Dumont.

No Campo de Tiro do Realengo, no Rio de Janeiro, era em 1894 testado o Bartholomeu de Gusmão

Foto: Musée de L'Air Le Bourget

Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania, seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em homenagem ao pioneiro santista), construído em 1893 em Paris pela casa Lachambre & Machuron, a mesma que produziu vários balões para Santos Dumont. Tinha estrutura de bambu (por falta de recursos para fazê-la em alumínio), e estrutura rígida, antecedendo de 14 anos a experiência do conde Zepellin no lago Constança (na Suíça). Em 14 de fevereiro de 1894, foram feitos os primeiros testes de ascensão, mas a barca se partiu, danificando a estrutura. O insucesso e o fim da Revolta da Armada, no qual o governo brasileiro pretendia empregar o aparelho, levaram ao abandono do mesmo.

Augusto Severo voltou a Paris em 1902 para acompanhar a construção de um novo dirigível, o Pax, que se elevou no ar pela primeira vez em 12 de maio daquele ano, em testes com o aparelho preso ao solo, no parque aerostático parisiense de Vaugirard. Após dez minutos de evoluções, a 400 m de altura, uma explosão rapidamente destruiu o aparelho, causando a morte imediata do aeronauta e do mecânico Sachê. No local da queda, na Avenue du Maine, existe uma placa de mármore em memória de ambos.

Investigações posteriores indicaram que a falta de recursos financeiros para o projeto levara a algumas substituições que o próprio Augusto Severo considerava perigosas. A barca, projetada originalmente em alumínio, foi feita em bambu, mais pesado, o que tornou necessário aumentar a quantidade de hidrogênio no balão. Uma das válvulas de segurança para compensar o aquecimento do hidrogênio estava sobre o motor, que por sua vez era movido a petróleo, em lugar do motor elétrico previsto no projeto. O hidrogênio comprimido, saindo em jato sobre o motor aquecido, teria causado a explosão fatal.

Na proa, Augusto Severo comanda o balão Pax, tendo na popa o mecânico Sachet

Foto: Musée de L'Air Le Bourget

Matéria publicada no Almanaque de Santos - 1971 (editado pela Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP, em fins de 1970) pelo então jornalista responsável, Olao Rodrigues, registra a homenagem santista a esse pioneiro:

Augusto Severo

Foto publicada nos sites

Inventa Brasil (desativado) e Pioneiros do Ar

Augusto Severo, como se sabe, morreu tragicamente no dia 12 de maio de 1902, quando realizava experiência com o seu balão Pax, em Paris. Subindo do Parque Vaugirand (N.E.: o nome, embora também seja encontrado em outras publicações, é corretamente grafado Vaugirard), o aeróstato incendiou-se a uma altura de 400 metros, precipitando no espaço o arrojado aeronauta e seu companheiro Sachet, mecânico francês, que dirigia as manobras.

Em sua primeira sessão ordinária, após a deplorável tragédia que roubou à Pátria e à humanidade ilustre brasileiro mártir da ciência, a Câmara Municipal de Santos aprovou, por unanimidade, no dia 22 daquele mês e ano, indicação do dr. Francisco Malta Cardoso, então intendente municipal.

Segundo a propositura, a Edilidade contribuía com a quantia de um conto de réis "na subscrição que for iniciada para aliviar a pobreza da desolada família desse nosso ilustre patrício; que a uma das ruas da Cidade, a primeira que se abrir, seja dado o nome de Augusto Severo". E assim nasceu a Rua Augusto Severo, em pleno centro urbano, que vai da Rua General Câmara à confluência da Rua 15 de Novembro e Praça Barão do Rio Branco.

Cartão postal francês, com a partida do Pax e as fotos de Severo e Sachet

Foto publicada nos sites Inventa Brasil (desativado) e Pioneiros do Ar

Augusto Severo em Paris, tendo à sua direita Álvaro Reis (filho do engenheiro Manuel Pereira Reis, que devia também subir no Pax). À sua esquerda, o mecânico Sachet

Foto publicada no site O Pioneiro Esquecido, que reproduz livro de Augusto Fernandes com a biografia daquele pioneiro potiguar


fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0058q.htm

Escola Militar do Realengo

Com a necessidade Em 1913, objetivando unificar todas as escolas de guerra e de aplicação, foi criada a Escola Militar do Realengo, que formou a elite dos oficiais do Exército por quase quarenta anos. A Transição

Com a necessidade de se aperfeiçoar a formação do oficial para um exército que crescia e se operacionalizava, foi criada, em Resende, Estado do Rio de Janeiro, em 1º de janeiro de 1944, a Escola Militar de Resende, que passou a chamar-se, em 1951, Academia Militar das Agulhas Negras.

O Marechal José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque, que, no posto de coronel, havia comandado a Escola Militar do Realengo (1930-1934), foi o grande idealizador da AMAN. Ele escolheu o local da nova sede e participou do projeto que a tornaria uma realidade. Merecem citação, entre outras realizações do então Coronel José Pessôa, o resgate do título de "Cadete", que fora abandonado quando da Proclamação da República, a adoção dos uniformes históricos e a criação do Espadim de Caxias, em uso até nossos dias.



Abaixo um arquivo em Pdf para baixar e ler sobre a Escola Militar. seu autor é Claudius Gomes de Aragão Viana

www.cpdoc.fgv.br/jornadadiscente/artigos/0105D.pdf

ou completa em http://cpdoc1.tempsite.ws/mosaico2/?p=406