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terça-feira, 8 de maio de 2012

Lilico criador do bordão: Alô, Alô Realengo: Aquele abraço!


"Tempo bom não volta mais..."
Olívio Henrique Fortes

Lilico
(Rio de Janeiro em 08/10/1937 - Cabo Frio em 23/09/1998).
por Luiz Fortes

Nascido Olívio Henrique Fortes, Lilico foi um garoto pobre que vendia balas nos programas de auditório da Rádio Nacional e tornou-se humorista por acaso. Um dia no final dos anos 50, como não havia calouros suficientes para o programa “Trem da Alegria”, apresentado por Lamartine Babo, Lilico se candidatou e improvisou cantando um samba de Jorge Veiga. Foi um sucesso e começou aí sua carreira. Depois de várias participações em programas de rádio, ele foi convidado pelo criador do Teatro de Bolso, Geisa Bôscoli, para estrelar uma comédia teatral. O prêmio: um refrigerante e uma cocada. 

    
O homen do Bumbo "A praça é nossa".
Programa Balança Mais não Cai.
A partir daí, Lilico fez vários espetáculos cômicos e chegou à TV em 1968 no programa “Balança Mas Não Cai”. Participou, também, do programa comandado por Célia Biar na TV Globo, “Oh, Que Delícia de Show” que, depois, passou a se chamar “Alô Brasil, Aquele Abraço”, usando o bordão criado por Lilico e depois usado por Gilberto Gil na sua popular canção.

   
O Lilico. Conhecido como "O homem do bumbo", transformou seus bordões em sucesso nacional. “São dele as expressões ,“Alô, Alô, Realengo! Aquele abraço” , “Tempo bom não volta mais” e “É bonito isso!”. Suas gags renderam-lhe muito mais do que a fama como comediante. Nos anos 70, durante a ditadura militar, foi convocado a prestar esclarecimentos na Polícia Federal por causa da frase "Tempo bom não volta mais" — pensava-se que talvez fosse uma referência ao período democrático pré-1964. Mais tarde, brigou Justiça os direitos autorais sobre a expressão "Aquele abraço", título de uma música de Gilberto Gil.  Em quarenta anos de carreira, Lilico passou pela TV Excelsior, Globo e SBT. (até pouco tempo antes de sua morte no programa “A praça é Nossa”.
Com seu bumbo ele contava piadas e filosofava.

Lilico morreu de problemas cardíacos, aos 61 anos.
 
Fontes: http://veja.abril.com.br/300998/p_037.html

Nt. Fonte caseira: Cresci ouvindo minha mãe (Zilda Bastos Fortes) falar de Lilico, e sempre que aparecia na televisão, mencionava que conheceu ele ainda criança aqui em Realengo, atuando no teatro da casa paroquial do Padre Miguel. (coincidentemente compartilhamos o mesmo sobrenome, sem ligações sanguíneas.)  
 E vejam que coisa sensacional. Então o bordão “Alô , alô Realengo: Aquele Abraço! foi criado por um filho da terra, ganhou o Brasil através da TV e eterniza-se através da canção do baiano Gilberto Gil. Podemos dizer em alto e bom som que ALÔ, ALÔ REALENGO É COISA NOSSA.
E eu Luiz Fortes (criador do Pró-Realengo) fico ainda mais feliz pois além da homenagem do Gil sabemos agora que perpetuamos em nossa logomarca (um abraço simbólico ao bairro por moradores.) também uma marca criada por um Realenguense.

pesquisa de: Luiz Fortes (criador e administrador do Blog Pró-Realengo)

"Aqui a explicação do próprio Compositor Gilberto Gil. Publicada em seu site". 

“Meses depois de solto, eu vim ao Rio tratar da questão da saída do Brasil com o Exército. Na manhã do dia da minha volta para Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal; ali, na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço. Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer ‘bye bye’; sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão numa canção?


“No avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer, um guardanapo, e mentalizando a melodia. Tanto que é uma melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória. Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava comprometido afetivamente com a canção.”


“Aquele abraço, Gil!” – “Era assim que os soldados me saudavam no quartel, com a expressão usada no programa do Lilico, humorista em voga na época, que tinha esse bordão. Ele até ficou aborrecido com a música; achou que deveria ter direito à canção. Mas eu aprendi a saudação com os soldados. Eu não tinha televisão na prisão, evidentemente, mas eles assistiam o programa; eu só vim a ver depois, quando saí.”


Retificação ratificada – Não foi no quartel de Realengo que Gil e Caetano ficaram presos, e sim no de Marechal Deodoro. “De todo modo”, diz Gil, “a idéia em Aquele Abraço era citar um local qualquer da zona norte do Rio (onde ficamos), um daqueles beira-estrada-de-ferro (Beira Central, Beira Leopoldina), e Realengo é um deles. Uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.”


Uma canção de quarta-feira de cinzas – “O reencontrar a cidade do Rio na manhã em que nós saímos da prisão e revimos a avenida Getulio Vargas ainda com a decoração de carnaval foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça, Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’ da música é em mim mentalmente locado.”


The three tops – “Aquele Abraço é uma das músicas minhas mais populares, a mais tocada e o segundo mais vendido dos meus discos (compactos). Uma das três gravações minhas que ficaram em primeiro lugar nas paradas de sucesso durante maior tempo (dois meses; eu já estava na Europa). As outras são Xodó (três meses, em 73), da autoria do Dominguinhos e Anastácia, e Não Chore Mais (cinco, em 78), versão que fiz para uma música cantada pelo Bob Marley. Foram as três mais vendidas também.”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Realengo e o Cristo Redentor: Moradores contribuíram para sua construção!



Revista "O Semeador" de 1929 elaborada pelo próprio Padre Miguel, revela
detalhes das doações recolhidas em Realengo em prol da construção do Cristo
Redentor.

Como todos nós sabemos a imagem do Cristo Redentor está localizada no bairro do Alto da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro. Situa-se no topo do Morro do Corcovado, a 709 metros acima do nível do mar. Foi inaugurada às 19h e 15min do dia 12 de outubro de 1931, depois de cerca de cinco anos de obras.

Recentemente, por ocasião da comemoração do centenário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Realengo, conseguimos levantar alguns documentos históricos para exposição e, dentre eles, encontramos um material que nos foi apresentado pelos fiéis guardiões Luiz Orlando de Almeida e Icléa Santos, onde se retrata um pouco da história da evangelização e mobilização católica em nossa região nos anos 20 e 30, inclusive sobre a construção do Corcovado


O Semeador agosto de 1929


Luiz Orlando, quando começou a frequentar a Igreja Nossa Senhora da Conceição de Realengo, era ainda um menino e via o Monsenhor Miguel de Santa Maria Mochon incansável em suas ações religiosas, educativas, culturais etc. Teve ainda em 1957 o privilégio de ter em mãos diversos documentos da Igreja, quando fez parte da comissão que providenciou o traslado dos restos mortais do mesmo, do cemitério do Murundú para a urna que se encontra dentro da Igreja; e preservou consigo alguns exemplares que estavam sobrando,

Icléa Santos, coordenadora das Obras das Vocações Sacerdotais, que inclusive colabora até hoje na preservação da memória de nossa Paróquia, resguardou uma pasta repleta de fotos e documentos que sua falecida cunhada Ilda Pereira dos Santos, que foi catequista nos anos 30, possuía.

Texto de Sebastião Leme
Dentre essas relíquias encontramos em uma revista chamada "O Semeador", no volume 3, editada em agosto de 1929, reportagem sobre a participação de fiéis de arquidioceses e Paróquias de todo o país, através de doações, para a construção do Cristo Redentor no Corcovado, incluindo aí a Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Realengo que, através do trabalho de suas zeladoras, colaborou ativamente na arrecadação de fundos a fim de viabilizar a criação desse grande monumento em homenagem a Jesus Cristo.

Nessa revista a capa traz o Titulo " O Cristo no Corcovado" e em seu interior podemos ler um belo relato a respeito do local de sua construção. Na página 12 encontramos um poema de Sebastião Leme chamado "A Montanha de Cristo" fazendo referência à obra, enquanto que na página 14 pode-se ler o valor que cada Paróquia coletou em Réis ( o dinheiro da época) além dos donativos obtidos pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição para contribuir para a referida construção. Certamente, após a publicação da revista, deve ter havido uma sensibilização para que outros paroquianos passassem também a participar com doações em dinheiro para a construção dessa obra que é hoje considerada uma das "7 maravilhas do mundo moderno", além de ser conhecida como o símbolo da cidade do Rio de Janeiro.
Aqui alguns dos paroquianos que contribuíram e estão listados nesta edição de agosto de 1929 de O Semeador. - D. Faustina Duarte Guimarães, Antônio de Andrade e Silva, D. Alcide Mattos, Augusta S. Ferreira, Cecília Leite Alvarez, Alzira de Souza, Ambrosina Gomes, Zilda Leyraud Ribeiro, Maria do Carmo Virgens Lima, Florinda Rosa de Oliveira, Alzira Rodrigues Marques, Estephania Fonseca, Maria do Carmo P. O’Reilly, Edith Leyraud, Guilermina Cesar de Oliveira, Auta de Araújo Mello, Hermínia da Silva, Snr. Manoel Guina, D. Constança Bruce, D. Izolette Cavalcanti Coelho.


 
Então fica aqui registrado a contribuição que Realengo teve na construção deste monumento.

Esta pesquisa foi realizada por: Luiz Fortes, que teve o privilégio de ter estes documentos em mãos na época do Centenário da Paróquia Ns. da Conceição de Realengo, do qual foi um dos integrantes da Comissão deste evento.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Brasão de Realengo.

Hoje apresentamos uma das criadoras do Emblema Heráldico


  Almira Damasceno e o Brasão de Realengo

Almira Alves Damasceno Nasceu em Bangu, mas veio ainda bebe para Realengo, e afirma que: Durante toda minha vida Realengo penetrou no meu sangue e dou a minha vida por este bairro, com ele eu cresci e progredi junto com minha família e meus entes queridos.

Tive a oportunidade de ser a pioneira em criar em toda a Zona Oeste a orientação educacional a partir do maternal com o Jardim Escola Disneylândia. Penso que devo ter contribuído na formação de muitos jovens. Tive também o privilégio de lecionar na Escola Estado de Israel, que foi o meu primeiro emprego público, depois fui Subdiretora da Escola Nicarágua, e a seguir fui técnica de áudio visual, para as escolas do município aqui do bairro e juntamente com a nossa chefe distrital na época Prof.ª Vanísia da Silva. Como se não bastasse vim também a ocupar durante oito meses o cargo de sub Prefeita e foi um período curto, mas muito profícuo, porque eu tinha uma luta diária em que eu empunhava uma caneta e um caderno para poder relacionar os problemas e saía às ruas para conferir e catalogar postes sem luz buracos nas ruas que eu solicitava o imediato conserto. E neste período contribui com a reforma da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Realengo que tinha a frente o Padre Luiz Carlos, que sabe da nossa luta para reurbanizar a Praça Padre Miguel onde fica a Igreja. Agradeço o apoio da comunidade, pois recebo até hoje agradecimentos pela minha dedicação.

 Fico muito satisfeita pelo interesse de vocês em preservarem a memória do bairro. E ao resgatarem este Brasão que poucos sabem da existência que e foi criado em conjunto com o Professor Carlos Wenceslau, Almira Damasceno e Marinês Seabra (desenhista).
Brasão de Realengo - Emblema Heráldico

Emblema Heráldico – Realengo – Descrição das cores: Azul - Lealdade (Manto de Nossa Senhora); Branco – Paz; Cinza – autoridade do Príncipe D. João; Elementos –Cabeça de Boi – Pastagem (vindos do Arquipélago dos Açores); Cana de Açúcar e Laranja – Principais produções do povoamento na época do Brasil Colônia, na Zona Oeste.
Este relato foi também publicado no Jornal Realengo em Pauta de Agosto de 2011. Na coluna Nossa Gente /Nossa História.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O BARBEIRO DA ESCOLA MILITAR DO REALENGO

Postamos hoje mais uma colaboração do Prof. Sinvaldo


  O bairro de Realengo tem suas histórias, crônicas e memórias. Tem também seus personagens pitorescos, monumentos significativos, homens e mulheres notáveis.

 



As memórias e crônicas da Escola Militar de Realengo aparecem entremeadas de situações jocosas e apelidos bizarros. Um deles, o “Lhufas”, que na verdade se chamava Aristides, era uma das figuras mais queridas daquela academia.
Encarregado do corte de cabelos de todo o corpo de cadetes, Aristides estava sempre pronto para resolver toda sorte de dificuldades. Era o verdadeiro quebra-galho de todas as horas, oferecendo, desde pequenos aviamentos emergenciais, como botões, agulhas, linhas, esparadrapo, sabonete, creme e lâminas de barbear, pasta dentifrícia, cadarços e pentes de bolso, até sua mochila repleta de guloseimas, disputadas a pau e pedra, pelos esfomeados cadetes, após longas marchas e cansativos exercícios hípicos.
Segundo Hilnor Canguçu Taulois de Mesquita, que estudou na Escola Militar de Realengo, e foi declarado aspirante a oficial da Arma de Infantaria em 22 de novembro de 1937, o “Lhufas”, que era baixinho, de tez parda, cabelos crespos já grisalhos e começando a rarear, foi a figura mais popular de toda a Escola.
Além de quebra-galho, de esbanjar simpatia e da cordialidade como tratava indistintamente a todos, o barbeiro Aristides era um piadista de verve acentuada. Sempre que chegava ao alojamento, os cadetes queriam logo ouvir o seu repertório inesgotável de anedotas inteligentes, picantes e saborosíssimas.
Por ser encarregado da barbearia dos cadetes, lhe era franqueada a presença nas manobras, acampamentos, marchas e exercícios de longa duração, realizados pela Escola Militar de Realengo. “Lá ia também o Lhufas, de culote e camisa de brim cáqui, acompanhando o Batalhão de Infantaria, marchando conosco, transportando enorme mochila...”
Hilnor de Mesquita, na obra intitulada “Memórias do Realengo”, organizada por João de Abreu Lins, recorda um episódio ocorrido nas manobras de Taubaté, em 1936.
“Estávamos acampados e não sei como, correu a notícia de que havia nas imediações, uma “venda” que oferecia uma “pinga” verdadeiramente deliciosa.
“Sair do estacionamento, não era possível. Mas lá estava o providencial “Lhufas”, a quem vários cadetes entregaram os cantis, para que os enchesse de “pinga”. Ao passar por uma porteira junto à qual papeavam alguns “frangos”, o prestativo barbeiro foi interpelado por um dos tenentes:
“Aonde vai, Lhufas, com todos esses cantis?”
“Seu tenente, os cadetes não me dão uma folga. Vou encher estes cantis numa bica de água fresquinha, que existe aqui perto...”
“Ao regressar o Aristides, lá continuavam os oficiais, no seu “P.P.” junto à porteira. Cada um deles pediu um cantil, dele tomando um gole... de deliciosa água fresca, que era o que realmente continham os cantis.
Subindo a encosta, o Lhufas – já perto do acampamento – esvaziou uma por uma as vasilhas. E, ao passar de novo pelo grupo de oficiais, lamuriou-se dizendo:
“Pelo jeito, não vou descansar tão cedo... Agora outros também querem água... Só vou folgar quando os cadetes recomeçarem o exercício; espero que seja logo, se os senhores me ajudarem”.
“Ao voltar, desta vez com os cantis cheios de “água que passarinho não bebe”, o Lhufas já não encontrou na porteira o grupo de desconfiados “frangos”, pois estes, da mesma forma que os cadetes, haviam atendido ao chamamento da corneta, que a todos estridentemente convocava para dar início aos trabalhos do dia...”
E assim, o fígaro da Escola Militar de Realengo, ia se tornando amigo de todos. A ponto de construir sua casa no bairro, com a ajuda mensal e espontânea de todos os cadetes do 3º ano, que contribuíram com 1 mil réis, abatidos do soldo na hora de receber o pagamento.
Hilnor, que, anos depois, voltaria à Escola Militar do Realengo já como oficial superior, reencontraria o barbeiro Aristides octogenário.
“Recordo-o, porém, como um homem bom e prestativo, inteligente e espirituoso, modesto... mas que saiba, no fundo de sua alma, ser grato para com aqueles que mostraram ser seus amigos”, concluiu Hilnor Canguçu de Mesquita.

Sinvaldo do Nascimento Souza
Historiador


terça-feira, 16 de março de 2010

Adutora Veiga Brito ou Túnel do Lacerda



Pesquisa realizada por diversos meses de 2009 à 2010, desta maravilhosa obra que fica escondida da população e mesmo quando aparece, poucos sabem que está em funcionamento ou para que se presta, mas que é comprovadamente de vital importancia para o dia a dia de muitos cariocas.
(no slide show a direita, tem algumas reproduções do Google, por onde ele percorre.)
Essa Adutora, é em sua maior parte subterranea, ou encravada em montanhas sendo visivél somente em Senador Camará (Viegas), no Realengo (Barata) e no Catonho. (fotos de Luiz Fortes)



















História do Abastecimento do RJ
No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Em 1957, foi criada a superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN) e, em 1961, ocorreu um caos no abastecimento da cidade a partir de uma ocorrência na Elevatória de Alto Recalque da Antiga Adutora do Guandu. Neste mesmo ano, o Departamento de Águas foi incorporado a SURSAN e a administração pública teve de recorrer a um empréstimo externo para realizar obras, através de um contrato de, aproximadamente, 90 milhões de dólares com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Várias obras de construção de reservatórios foram feitas com este recurso e criou-se a Companhia Estadual de Águas da Guanabara (CEDAG). O Governo do Estado concedeu a CEDAG, a partir de 1966, o direito de cobrar as contas de água. A CEDAG remodelou seus reservatórios, substituiu tubulações, montou seu cadastro próprio de consumidores, equipou-se com computadores da mais alta tecnologia para aquele momento e iniciou a implantação da telemetria em seu controle do sistema adutor. Até o ano de 1975, a CEDAE conseguiu superar seus problemas, ocupando o lugar da Empresa de Saneamento do Brasil mais avançada.


O Planejamento

Durante o mandato do prefeito Hildebrando de Góes, o engenheiro José Franco Henriques, Diretor do Departamento de Águas, sugeriu a construção de uma terceira adutora de grande diâmetro, com capacidade para 225 milhões de litros por dia, a Guandu-Leblon, utilizando as águas do rio Guandu, já previstas pelo engenheiro Henrique de Novaes. No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Sistema Guandu
Esse sistema utiliza uma captação direta das águas do rio Guandu, no município de Nova Iguaçu situada a aproximadamente 50 Km a oeste da cidade do Rio. Iniciada nos anos 50, a realização das obras se estabeleceu ao longo dos anos subseqüentes com, inicialmente, a implantação de uma estação de tratamento e a construção da adutora “Henrique de Novaes” (1.750mm de diâmetro), seguindo-se pelo “Túnel-canal do Guandu” (concluído em 1966) a fim de alimentar a parte sul da cidade em grande desenvolvimento. Esse túnel, atualmente chamado de adutora Veiga Brito, aduz água até o bairro do Jardim Botânico, onde termina no reservatório dos Macacos e, ao longo de seu trajeto, interliga-se aos outros dois sistemas através de sub-adutoras.

Sub-sistema Lameirão - o restante da água (50%) é aduzido para a elevatória do Lameirão através de um túnel subterrâneo com 11 Km de extensão.
Na elevatória do Lameirão, com 7 grupos motos-bombas com potências de 4.500Hp e 9.000Hp a água é bombeada 110m de altura para alcançar um outro nível com 34Km de extensão.
Ao longo do trajeto deste nível, várias adutoras estão conectadas para fazer a distribuição para os diversos bairros do Rio de Janeiro.
A Estação de Tratamento dispõe também de um laboratório de controle de qualidade que realiza análises físico-químicas e bacteriológicas periodi¬camente controlando cada fase do processo e garantindo assim os padrões de potabilidade exi¬gidos pelas Organizações de Saúde.

Encontrei estas informações neste endereço, mas atualmente ele está inativo
fonte : http://aguasdeprata.com.br/aguasdeprata/?page_id=14



O Ex- Governador Carlos Lacerda Visitando as obras dentro do Túnel.



-Reprodução do Site da Cedae. *observem a espessura do concreto.



obs: Os Ex funcionários contam que entrava um caminhão FNM dentro deles.

Fonte http://www.cedae.com.br/ (clicar em "mapa do site" - Sistema Lameirão)



Por onde ele passa deixa historias – Jacarepaguá :

Em 1954, nas ruas Luís Beltrão, Baronesa, Marangá e Capitão Menezes, realizaram-se escavações para colocações de enormes manilhas, com diâmetro de 1 metro e 75 centímetros, que foi parte da obra da Adutora Henrique Novaes, cujos percurso total é do Rio Guandu até a represa dos Macacos, onde abastece de água toda a Zona Sul. A adutora, na sua passagem, também fornece água para outras localidades, inclusive à região da Praça Seca, através do reservatório do Morro da Reunião, no Tanque. Quando a escavação da gigantesca vala chegou na esquina da Rua Cândido Benício, o trânsito foi desviado. Mas os usuários dos bondes tinha que fazer baldeação. Os bondes vinham de Cascadura até em frente ao antigo Chopão. Ali os passageiros saltavam e pegavam outro bonde estacionado no meio da praça, a fim de continuarem a viagem à Freguesia ou Taquara. Houve muitos acidentes durante a construção da adutora na Praça Seca. O mais grave foi a morte de um operário, que trabalhava no fundo do valão na Rua Baronesa, em frente ao terreno do General Lauro Dias Barreto, quando houve um desmoronamento de terra em cima dele. A propriedade do General Barreto era onde existe os imóveis da Rua Baronesa números 716, 729, 730 (a vila) e 750 (a Academia Corpus). O terreno era bem grande, com um casarão no centro. Tinha duas frentes: na Rua Baronesa e na Rua Barão.
Há outra adutora do Guandu na região, que percorre totalmente a Rua Albano. Foi realizada no Governo de Carlos Lacerda e inaugurada em 1965 pelo então presidente do Departamento de Águas e Esgotos (atual CEDAE) Veiga Brito. Ao contrário da que passa pela Rua Baronesa, a adutora da Rua Albano foi escavada em túnel, cujas dimensões médias são de quatro metros de largura por três de altura. Ela também abastece a Zona Sul e tem diversas interligações no trajeto. Uma delas é na Rua Urucuia, com saída para a Henrique Novaes (Rua Baronesa), para o Juramento e para a Barra da Tijuca. No final da Rua Albano, desvia em direção à Rua Barão, onde atravessa o Morro Inácio Dias. No local, a partir de 1963, surgiram os primeiros barracos da atual Favela São José, levantados pelos operários durante a construção do túnel.


Ex-funcionários do Consórcio Construtor Guandu, relembram o dia a dia no canteiro de obras com saudades, emoção e muito orgulho..


Depoimento de Antonio Medeiros do Prado Natural de Minas Gerais.
-Que trabalhou na construção da Adutora do Guandu na parte de Senador Camará (Viegas) e no Realengo.


Cheguei ao Rio vindo de Minas Gerais no ano de 1965, tinha 22 anos e pouco, e comecei a trabalhar na obra desta adutora, no dia 16 de Janeiro do mesmo ano, e trabalhei quase um ano e estava ainda na perfuração, eu fui trabalhar na cabeceira me mandaram logo para a furação. (ajudante de perfuração). Era uma zoada (barulho) tão grande que eu pensava de não aguentar mas eu precisava trabalhar e fui trabalhar de ajudante direto na perfuração, dai eu fui ficando mais antigo e pedi para ser transferido pra turma da concretagem e era menos barulho e ai eu trabalhei até o fim de novembro de 1965, ficando quase 11 meses e no dia que eu sai foram mais de 50 despedidos e eram sempre assim de 50 em 50. Já tinham perfurado tudo, já estava livre e não tinha mais calor, já estava bom de trabalhar com tudo concretado , só foi ficando a turma da limpeza e não tinha mais perigo. Mas no inicio foi muito perigoso e eu não morri foi de sorte. Tinha um boledo do escoramento de madeira ai aquele escoramento quebrava, e descia era pedra, um dia eu quase que morri com uma pedra muito grande que caiu quase em cima de mim, começou a pingar eu sai correndo e caiu. Eu trabalhava uma semana de dia e outra a noite. Tinha turno direto era dia e noite , e tinha um placa bem grande que dizia " A Janela não pode Parar", saia uma turma entrava outra, mais ou menos 1.500 homens se revezando só nesta janela, e isso aqui (apontando para o terreno no Realengo) era só alojamento para tudo que era canto, era muita gente mesmo. A turma do dia trabalhava de 7 às 7, e as janelas como eram chamadas as bocas do túnel (adutora) 90 no Viegas, 110 no Realengo, que foi onde eu trabalhei a maior parte do tempo, eu comecei na 90, e fui transferido para a 110, trabalhei na "montante" e na "juzante", eu não sei explicar por que tinha este nome?, mas era como eles a chamavam e nos direcionavam para trabalhar, vai para a montante da 110, ou para a juzante da 110 que eram os lados definidos. Mas da maneira que ia furando a rocha, ia passando a turma para a outra direção quem estava na montante ia para a jusante, até ir encontrando a outra janela 110, 120, 130, 140. isso vai muito longe, além do Catonho. Nós nos apresentávamos no escritório central na rua da Maravilha em Bangu e dali distribuía para as janelas, lembro que tinha os caminhões que levavam os trabalhadores, da seguinte forma, janela 90, caminhão tal, janela 120, caminhão tal e assim por diante, eu acho que a ultima era 240, que fica pra lá depois de Jacarepaguá.Tinha colegas meus que trabalhavam pesado lá. Ali na rua Maravilha era onde que ficavam os caminhões que iam distribuindo os operários. Sr. Antonio exibe orgulhoso sua carteira e trabalho.


Esse Túnel vem do Guandu e passa no Lameirão (Santíssimo), e vai atravessando essas montanhas.

A firma chamava-se: "Consorcio Construtor Guandu”, e parece que a outra firma era Serv. Engenharia, e minha carteira é assinada pelo consorcio, e eu ganhava CR$ 175,00 por hora e o salário era CR$ 42.000,00, tenho a carteira guardada, que serviu para me aposentar ainda para comprovar. Tinha muito risco de vida, dava muito acidente, morria muita gente, pedra caia, boledo (espécie de massa com barro e pedras sem muita resistência) caia e matava, bonde matava , era explosão né, e ali em Realengo mesmo teve uma explosão, antes de eu entrar, eu comecei la no dia 16 de Janeiro eu comecei aqui e logo fui pra lá, e as pessoas falavam dessa explosão. E ficava gente cega, com perna quebrada, tinha um bonde que levava a gente para dentro do túnel, este bonde ajudava a trazer a sujeira e fazia toda a limpeza. Aquelas borbonetas era a linha de trem dentro do túnel, pois conforme ia furando íamos colocando os dormentes e os trilhos era o chamado trenzinho, e lá dentro tinha as escavadeiras para poder encher o trenzinho e as vezes ele desencarrilhava, as vezes o chefe queria que você entrasse no bonde eu não entrava na hora do almoço por que aconteceu o bonde se perdeu uma vez, eu não entrava e eu não andava naquele bonde era longe pra burro, pois ele trazia gente com perna quebrada todo machucada era longe e eu preferia andar um quilometro para chegar na cabeceira mais rápido, pois eram vários quilômetros andando, e tem uma coisa quando faltava luz ficava escuro mais escuro e não se enxergava nada. Colocavam as dinamites e a fiação para acionar eletricamente os explosivos, e o fio ia lá fora na boca do túnel, a gente saia de dentro do túnel e ligavam a chave que detonava as dinamites. E tinha uma ventoinha (tipo de exaustor) para puxar a poeira e tinha um cano que levava o ar comprimido que era para tocar as bombas, tocar os martelos de ar comprimido, tipo britadeiras. E subia uma fumaceira uma poeirada, que deixava as lâmpadas toda embaçada era difícil trabalhar naquele troço, mas como pagavam muito bem era muito bom, nem se compara com esse salário de hoje. Acabava de comer e voltava direto, já comia bem perto na boca do túnel e voltava um turno de 7 as 7, e eu não dormia no alojamento preferia voltar pra casa, o caminhão levava a gente para a rua maravilha que deixava em casa novamente. Eu morava na época em Campo Grande eu não dormia no alojamento pois havia muito roubo, e muita sujeira pois trabalhava só homem, O caminhão levava a gente pra Campo Grande, encerrava o expediente tomávamos banho rapidinho e em mia hora já estávamos voltando pra casa. Desde que sai de lá....nunca mais voltei lá, estou tendo a oportunidade de voltara aqui hoje. mais de 40 anos.

Esse túnel é muito longo deve ter pra mais de 50 quilômetros, eu tinha um colega chamado Seu Agenor que trabalhou na janela 140. Tinha turma especifica para cada posição, ele é circular e tinha a turma da abobada, a a turma das paredes e a turma do piso, conforme ia fazendo o piso ia tirando o trilho e já podia entra os caminhões.

Olha só a cota d água (altura onde era previsto passar água) onde era marcado para passar a água, ali era 1,80 m de altura, então como tinha coisa ainda pra cima, era mais de 2,50m mais ou menos.

Foi feito um trançado de vergalhão redondo, tudo ferragens muito forte foi um troço muito bem reforçado, é um serviço muito bem feito, depois da concretagem veio com a pintura ai foi a época que eu sai, já tava na pintura fresquinho bom de trabalhar lá dentro, aquele vento indo de um lado para outro e eu tive que sair, o contador chama fulano, fulano, fulano uns 50, rua da maravilha (o escritório em Bangu). Ai ia recebendo o dinheiro, e disseram pra gente que a firma tava falindo, e naquele tempo eu não entendia nada e disseram que não teríamos direito a indenização pois não existia fundo de garantia nesta época e falaram que a firma tava falindo eles só pagaram o salário do mês, as ferias e 13° e eu não recebi mais nada a não ser isso.

Os Operários

A maioria vinha tudo de fora do Norte, Nordeste, Minas Gerais capixaba, muito capixaba mineiro, lá bem do interior e daqui do Rio ninguém queria não. No dia que eu entrei, nós entramos uma turma grande quando eles entraram com a pá voltavam e diziam eu "vou embora agora", entrava outro e dizia a mesma coisa " vou me embora agora" . Lá na rua Maravilha, tinha uma fila enorme, pra poder se inscrever e outra enorme para indenizar. Qual essa fila? Essa é para fichar, e essa outra? Essa é para receber os direitos, todo dia que você fosse era um filão enorme. No dia que eu me inscrevi eu entrei na fila uma oito ou nove da manha, quando eu fui ser fichado era de tardezinha. Mas já ia trabalhar com a carteira assinada na mão, "amanhã aqui tal hora, para pegar o caminhão e ir para a janela que vai trabalhar", ou seja, você vai pra janela, tal. Era assim que funcionava e só dava gente de fora, o pessoal daqui mesmo não queria, queria só pra trabalhar no escritório, sala de maquinas não queria o brabo, não ia pra guerra não, lá não era mole não. Eu vou te contar eu só fiquei por que eu vim pra e qui não tinha dinheiro pra mim voltar, o meu dinheiro não dava pra voltar pra Minas. Mas eu vim pra trabalhar nem pensava que ia ter um serviço mole e eu era do interior já acostumado com serviço pesado né. Mas valeu a pena, graças a Deus eu não morri, pois morreu muita gente nosso serviço era muito perigoso entrava 100, 200 e ficava somente uns 20 ou 30 que tinha coragem de encarar o trabalho. Quando chegamos lá pela primeira era uma barulheira danada, o barulho de bomba d´agua puxando , bomba a ar que faz uma zoada enorme e agente tinha que conversar por sinais , que hora são? apontava-se para o pulso, tá na hora do rango, fazendo sinal com os dedos para dentro da boca, pois não dava para ouvir nada, fulano ta morrendo, o que tava acontecendo, se tava caindo qualquer coisa, tinha que ir lá e balançar o cara, falar nem adiantava, o barulho não dava pra ouvir, nunca batíamos papo durante o trabalho, só na hora da comida podíamos conversar tínhamos que usar só sinais. O almoço era 11 horas, e acabava de almoçar o encarregado tava logo em cima.

E era serviço pesado pesado pra caramba e perigoso, mas eu me sentia um herói. diante de tanta gente que eu vi se acidentar do meu lado, nesta época eu tava já na parte do concreto. Tínhamos de encher aquela padiola, areia de ponta de pedra na betoneira para fazer concreto. Então um bonde vinha e quando o bonde vinha e invés do cara passar pro espaço maior ele correu pro lado errado, ai o bonde espremeu ele contra a parede e morreu ali mesmo, o coração dele chegou até a sair...ficou com a boca aberta, acabou com o cara! Eu tava trabalhando na turma da noite, a família só ficou sabendo porque nós éramos colega de trabalho, e eu sempre fui comunicativo e perguntava onde é que você mora?, " Ah eu moro lá em Senador Camará" . lá naquela rua fulano de tal...eu era colega dele, colega assim de trabalho, sabia até o nome dele e tal, e nas horas vagas batia papo, e quando ele morreu...rapaz eu fiquei tão espantado, que saber uma coisa eu vou é me embora, vou ficar aqui não. Ai o cara falou assim: " Alguém conhece ele?". O Encarregado e eu falei mais ou menos devo conhecer a família dele. Ai eu vim de madrugada, sai de madrugada cedinho pra Camara, entrei na rua , não sei se é rua Tamburiu ai era bem cedinho e vi um colega dele vindo, ai eu falei o João morreu lá no tunel, ai o sujeito foi avisar o pessoal dele lá. Eu nem fui no enterro, pois fiquei tão traumatizado, fiquei dois dias sem trabalhar, ai os colegas disseram que nada Antonio, "isso acontece sempre ai, tem acidente sempre", realmente quebrar perna machucar eu vi muito acontecia sempre mas morrer mesmo eu só vi um. Eu sei que ná época do fogo (explosão) lá no Realengo, quando eles estavam perfurando morreram 17 de uma levada só. Isso eu ouvi falar pois foi antes de eu ser contratado ai eu perguntei :"Voce não ta com medo não?" não isso faz três meses já. "Acontece sempre?" Não aconteceu por descuido e tal! Ai você passava pelos escoramentos de eucalipto, chegava tá envergado assim, a terra cedendo, pedrinhas e água pingando do teto, e a gente perguntando : E isso ai não cai não? " As Vezes acontece" ,parecia uma mina de carvão dessas que a gente via no cinema. Depois fomos fazendo a Mas depois que ia fazendo a cambota de ferro e fazendo o concreto, foi diminuindo o perigo, tava já escorado, mas antes o escoramento provisório de madeira aquilo é que era perigoso, ia apodrecendo. Lembro do Engenheiro que eu trabalhei com ele Doutor Mario, na época eu tinha 23 ele devia ter os seus uns 35 anos, e trabalhei com um chefe chamado Murilo, muito bacana também, tinha hora que dava sono lá dentro né um lugar escuro ninguém falava com ninguém, e a jornada de 7 as 7 era puxada e cansativa, e agente catava um cantinho e tirava um cochilo, ai ele vinha acordava e dizia "vai trabalhar, não fica ai não" , não brigava não, era bem consciente e bacana, ele sabia que era horrível, tinha que ter coragem pra encarar aquilo, eu encarei como muitos encararam. Até porque trabalhar do lado de fora era sopa, quem trabalhava lá fora era profissional e ganhava muito bem, eu não era profissional na época eu entrei como ajudante. E o barulho era tanto, parecia que ia estourar os miolos, que eu pedi pra vim mais pra trás pra ficar mais longe da perfuração.
Os caminhões entravam e o que botava as pedras era umas escavadeiras e depois a turma da limpeza completava, com as pedras pequenas e terras, e era uma poeirada danada uma fumaceira. Tinha às vezes um cheiro de gás que sai da terra, e as pessoas iam direto pro hospital intoxicadas. Foi feito um túnel mais largo para que fosse possível trabalhar melhor e eu acho que com o tempo, a terra deve ter completado este espaço, com escombros naturais. e a armação era bem grossa, ficou uma parede bastante reforçada, uma obra de qualidade, tanto que até hoje ela resiste bem ai, e era um concreto especial, levava sika e era levado lá pra dentro a base de ar comprimido, uma maquina injetora levava o concreto pra dentro e ia socando tudo, e nós íamos pra outro trecho e quando eu tava saindo, vi chegando a turma da pintura aplicando uma tinta protetora de cor preta. Eu tenho muito orgulho de ter participado desta obra, cheguei novo e encarei o desafio, uma vez fiquei muito doente nós trabalhávamos sem camisa pois dava brotoeja por causa do calor, e eu todo suado cheguei na boca do túnel
vi um clarão e levei uma rajada de vento nos peito que eu perdi a voz na hora. Fui pro caminhão já muito mal, roquinho peguei o caminhão e chegando no meu barraco, lembrei do que minha mãe me falava que cravo era muito bom pra isso, e eu passei numa vendinha chovendo todo molhava
e comprei alguns e soquei e fiz um chá e já no outro dia amanheci falando mas fiquei de molho em casa, dois dias sem trabalhar, ai quando eu voltei o encarregado perguntou se eu tinha ido ao medico, eu disse que não, mas ele disse que era bom ir, então fui até a SAMU que era um posto de saúde em Realengo.
Quando a janelas 90 e a 110 se encontraram fizeram um grande churrasco e teve até o presença do Governador Carlos Lacerda, fez até um discurso e toda vez que uma se encontrava com a outra, tinha um churrasco.
E era muita fartura muito churrasco, matavam bois e mais bois, eram pedaços enormes de três quilos mais ou menos, ai comiamos a parte que tava bem assada e guardávamos a parte interna que não tava muito boa embrulhávamos e levávamos para casa o pedaço e dava pruns três dias e distribuíam muito chope, mas muito chope mesmo .
E eu afirmo que tinha a janela 100, que ficava em Bangu e o meu primo Oswaldo trabalhava nela, a 90 (Viegas), encontrava com a 100 (Bangu) que encontrava com 110 (Realengo), 120 Catonho , 130 Boiúna, 140 Cafúnda e assim por diante.

Eu tinha um colega chamado Genival irmão do Zé Alves que trabalhou no escritório da rua Maraviha, acho que ele esta morando lá pros lados de Campo Grande. Ele poderia dar boas informações.
=================================================== Depoimento de Felix Daniel Zampieiri
natural do Espirito Santo

Funcionário do Consórcio Construtor Guandu, eu trabalhei mais especificamente só dentro das salas de maquinas eu era responsável por um gerador de luz elétrica, dois compressores GM, e um Atilas Coop, minha função era operar as maquinas que fabricava aquele o ar comprimido que ia pelo tubo. minha profissão era compressorista, como consta na minha carteira. data de admissão 21/01/1964, CR$ 87,50 por hora 18 /12 1965 ficando 1 ano e 11 meses na firma, e a função do ar era para na hora da detonação dentro do das bocas da cabeceira (túnel) jogar o ar e tinha do lado de fora dois exaustores que puxavam o ar e toda a poeirada, na montante e na juzante as duas funcionavam juntas, uma detonava primeiro e jogavam para ela, e mais tarde a outra ai um encarregdo vinha e avisava, para virar para a outra boca, e este ar comprimido servia também para os marteletes, furar as pedras, para se colocar as dinamites e também se colocar escoramentos de pedra madeira, era
escorado com uns parafusos, e as vezes caiam pedras nos funcionários. Para retirarem dos entulhos eles faziam um trilho deste de trem, tinha uma locomotivazinha que puxava umas caçambas, que o operador puxava e uns caminhões eram carregados com estes entulhos. Eu servia no quartel aqui em Deodoro, e um fiz o curso de cabo fiquei lá um tempo seis meses depois eu dei baixa e um conterrâneo que já trabalhava aqui falou comigo e eu disse que queira entrar nela, ele me disse vai lá que eles tava dando vaga.





Eu tinha desejo de ser mecânico e fiquei como compressorista, eu qeria ter entrado como contador, pois trabalhava no almoxarifado, mas não deu pra mim. E era engraçado, funcionava tudo a diesel, ai vinha um carro pipa e despejava num tanque enorme o óleo diesel, que azia a geração dos motores e o serviço era noturno e diurno, e tinha dois a noite e dois pela manha, e eu morava aqui perto. Tinha gente de tudo que é lado do Brasil. As explosões eram detonadas eletricamente, e acionava aqui fora e era muito forte o barulho. Acontecia de algumas dinamites que não explodiam e vinha o desentupidor de minas, era perigoso.
Eu tinha uns vinte anos e depois falaram de levar a gente pra Amazônia, levaram nada, eu fiquei até acabar isso, e a minha indenização deram faltando, pois a firma foi dada como que tinha ido a falência, e ainda fui ferrado. Mas mesmo assim eu tenho orgulho de ter contribuído com esta grande obra, foi um marco do Governo Carlos Lacerda disseram que ele visitou mas deve ter sido de dia eu nunca vi ele não. Eu trabalhei só na janela 90 na montante e juzante, foi ali que eu vi dinheiro, eu mandava dinheiro pro meu pai na roça no Espírito Santo eu guardei um dinheiro bom, eu sei que na indenização nos fomos lá pro ministério do trabalho e teve uma conversação, o doutor lá com a gente e disse se vocês não sabem fiquem sabendo que havendo termino de obra, concordata ou falência a empresa só paga 70%, mas vocês podem botar na justiça também, ai conforme meu amigo Fernando que morava ai, era chefe do Encanador, o dinheiro é mais prudente o dele foi CR$ 802,00 e o meu CR$ 345,00, ele foi o primeiro eu fui o segundo ele assinou eu tava atrás e assinei também, teve um o paraibinha, que não quis assinar e ia botar na justiça. Sei que no dia do Acidente lá no Realengo, não teve trabalho aqui, só ouvimos falar que muita gente morreu. Aqui na janela 90 não teve acidente grave.
Uma coisa que todos gostavam, era que nunca faltava ou atrasava o pagamento. Tinha umas vendinhas que o pessoal podia almoçar, ou lanchar alguma coisa. Eu almoçava de marmita, morava aqui perto me estabeleci ali na casa de um nordestino que tinha uma família grande, e pagava um garoto, que levava ela quentinha lá em cima na hora certa pra mim.

===================================================

Depoimento de Valtinho Smith
Natural de Cachoeira de Santa Leopoldina - Espírito Santo



Comecei a trabalhar na construção da adutora com 23 anos, na função de operador de locomotiva e segunda função operador de carregadeira, as locomotivas eram uma Toyota modificada para locomotiva, tinham mais ou menos dois metros e puxavam uns vagões de quatro metros que buscavam só pedras, e eram quatro vagões de uma vez que entravam de ré e saiam de frente. Ai eu trazia pra fora do túnel outros funcionários soltavam os vagões e despejavam num barranco que tinha mais ou menos seis metros de altura, às vezes quando as pedras eram muito grandes eles amarravam umas correntes na linha para que os vagões não caíssem no barranco. A locomotiva era liberada e eu depois eu ia para outro canto e pegava o desvio (os técnicos abriam a linha) e outros funcionários engatavam outros vagões vazios. Lembro que eu não tinha lugar certo pra trabalhar, trabalhei nas janelas do Pau da Fome, depois fui pro Catonho, nesta eu trabalhei mais um tempo, mas se precisava de um operador aqui no Viegas ou no Realengo, e nós íamos e tínhamos de voltar pra lá novamente, pois só tinha dois funcionários era um por turno, quando fazia uma explosão encaminhavam a gente, independente do horário de trabalho eles chamavam a gente em casa, pois era um serviço especializado, pegava as dezoito da noite as seis da manhã uma semana e na outra semana invertia, eu trabalhei lá três anos (eu e meu irmão já falecido), até acabar ai o encarregado chamado Felipe, chegou pra mim e disse eu vou te dispensar, pois quando acabar você vai perder o aviso prévio, ele foi legal comigo.

Uma lembrança triste foi quando ocorreu um acidente e um funcionário acabou morrendo, eu tava emprestado na Janela do Realengo e como de costume o trem ia entrando no túnel sempre de ré, e não sei o que houve pois tava de costas e era muito escuro e os vagões tiravam minha visão, não sei como ocorreu um operário morreu esmagado fui levado pra delegacia para prestar esclarecimentos, e depois fui liberado era na 24ª DP. em Bangu. (não existia delegacia em Realengo). Ficou provado que eu não tive intenção e que ele não respeitou o sinal de liberar o trilho, mas mesmo assim são coisas que marcam, fiquei muito tempo não dormindo direito, acordando no meio da noite. Mas eu e Deus sabemos que não tive culpa. Tinha muitos acidentes transportei nos vagões muita gente machucada.
Obs: sobre este acidente -Em conversas nos intervalos os operários ouviram que este funcionário estava dormindo e acordou com o trem vindo e pulou pro lado errado.

Eu vim pro Rio de Janeiro, já de olho neste serviço, pois um parente encarregado de outra firma tinha vindo e disse que seria um bom serviço e bom salário. E os cariocas não queriam serviço pesado, logo pediam para sair, e alguns ficavam fumando maconha por lá. Nós viemos oito pessoas de ônibus, lá de Minas.

Lembro de ter trabalhado em varias janelas, 90, 100, 110 e no Boiúna, na Estrada Pau da Fome, Cafundá (Jacarepaguá), tinha uma pedreira abandonada, e lembro que certa vez na época da ditadura, o exercito entrou no meio da noite dentro da mata, e cercou uma casa de dois andares ele levou muita gente presa, a gente não sabia o que estava acontecendo mas diziam que era tudo comunista...
Eu tinha uma casa bonitinha toda montadinha lá no Catonho, e fui expulso dela e
perdi até os moveis e tudo, tive muito problema na justiça, isso me marcou muito. E Na obra eu não morri por sorte, deu um molejo (a terra tremeu) e os eucaliptos (madeiras), que sustentavam o teto, tudo caiu por cima da carregadeira que eu estava trabalhando, e era muita terra, muita mesmo, ai eu corri pra debaixo da maquina, e o engenheiro que estava por perto, me ajudou a sair..tinha que ter muita coragem para trabalhar ali.

Consta na carteira que o Sr. Valtinho Smith foi contratado como servente no dia 19 de abril de 1963, com uma remuneração inicial de CR$ 87,50 por hora e teve sua saída registrada no dia 13 de setembro de 1965.





Outros Personagens que vivenciaram o dia a dia da sua
construção.


Sr. Augusto (aposentado), que cuidava dos carros da construtora e dos engenheiros, nos disse que toda hora tinha de lavar os carros, pois a poeira era muito grande, e os Engenheiros todos "bacanas", queriam sempre ver os carros limpinhos, mas conta que também lavou muita caminhonete suja de sangue, devidos aos inúmeros acidentes um dos piores foi na Janela do Realengo, onde 16 operários perderam sua vida.

Sr. Geraldo (aposentado) - Foi motorista do Consórcio Construtor Guandu, que dirigia primeiramente caminhões e depois foi designado a transportar os Engenheiros, entre os canteiros de obras chamadas de "janelas" e seus lares. Ele nos conta que diversas vezes entrava de ré com caminhões tipo FNM, dentro do tunél apra retirar entulhos, pedras etc...! Isso nos dar a dimensão da boca do tunél. E que quase todos moravam na Zona Sul, e eram muitissimos simpaticos, e não comentavam nada sobre a construção ou algo parecido, eram muito reservados neste aspecto. Uma coisa eu afirmo, tenho muito orgulho de ter feito parte disso tudo e foi emocionante poder visitar isso depois de tantos anos.

Sr. Manoel Laurindo de Oliveira (atualmente é sapateiro no Jardim Novo) - Ele nos conta que seu tio é quem trabalhou na obra, e que na época ainda bem jovem, surgiu uma oportunidade de trabalhar numa cantina na janela do Realengo, onde eram vendido cafezinhos, lanches variados, cigarros, etc., e teve contato com diversos operários e ouvia suas historias diariamente. E ouvi muita coisa mesmo pois todo dia tinha alguém contando algo diferente. Era muito comum alguns operarios trabalharem pouco tempo, por não aguentarem o ritimo de trabalho, viu muitos sairem cegos de uma vista ou mesmo das duas, pois diversas dinamites davam problemas e explodiam depois. Além de alguns desmoranamentos que soterraram diversos homens.

Esta Adutora chega ao seu ponto final na Zona Sul.

Represa dos Macacos - perto da Vista Chinesa e da Mesa do Imperador: Onde termina a adutora...a montante da Represa dos Macacaos (ponto 7), desce pela sua margem direita até encontrar direção geográfica Norte-Sul que passa pela face oriental da Pedra do Camaleão (ponto 8), desce pela mesma para o Sul, cruza a Estrada Dona Castorina. (ver mapa)

link da reportagem do Jornal: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/posts/2010/03/22/obra-prima-da-engenharia-276699.asp

Nota do pesquisador: Temos de reconhecer e parabenizar os políticos corajosos, os engenheiros e técnicos da época, que planejaram e executaram esta maravilha que esta prevista para funcionar até o ano 2000. E principalmente não podemos esquecer dos mais que corajosos trabalhadores que mesmo sem muitas técnicas e equipamentos arcaicos (de ponta para a época), deram seu suor e infelizmente alguns, suas vidas para a realização desta monumental obra.
Em nossas pesquisas encontramos alguns deles que deram depoimentos emocionantes como verão a seguir. Mesmo não sendo todos de Realengo, eles trabalharam aqui e também foi aqui que comecei a pesquisar depois que encontrei um Realenguense que me disse ter trabalhado e depois uma coisa foi puxando a outra, pois desde criança sempre me fascinou olhar aquela ponte perto da Cachoeira do Barata (Realengo) e imaginar o que era, de onde vinha, pra onde ia, como construíram, agora consegui as respostas, e divido com todos que se interessarem.
Muito obrigado aos senhores, e senhoras que me receberam muito bem, tiveram paciência de contar e recontar, me indicaram outros amigos que também fizeram parte do quadro de trabalhadores. Esta pesquisa ainda não esta completa, irei gradativamente acrescentar outros detalhes assim que for descobrindo. Aos que souberem mais detalhes entrem em contato.


ass: Luiz Fortes

domingo, 15 de novembro de 2009

deu em outro Blog...

Você sabe o que significa REALENGO? Qual a origem desse estranho nome?

Dom Pedro I costumava ir para a fazenda de Santa Cruz pela estrada Real de Santa Cruz, que passava pelo Real Engenho, onde muitas vezes pernoitou.

"Engenho" era uma palavra muito grande. Assim a abreviatura usada era "Engo". E ficou "Real Engo" nas placas de orientação utilizadas na época.

Mas essa teoria é contestada por Brasil Gerson em "História das Ruas do Rio".

Na página 405 da 5ª edição deste utilíssimo livro encontramos:

"Não são poucos (e alguns de alta categoria intelectual) os que pretendem ver em Realengo um diminutivo, uma abreviação de Real Engenho. Porém, o manuseio dos documentos antigos, dos pedidos de sesmarias, principalmente, nos convencerá de que essa é uma teoria sem fundamento nesse particular, tal a insistência com que neles se fala de terrenos e campos realengos, destinados à serventia pública, e em maior número para a pastagem do gado por parte dos que não possuíam para isso terras próprias, e esses campos eram tanto onde ficaria sendo o Realengo dos nossos dias como perto da Igreja de Irajá, onde já os antepassados do Juca Lobo da Penha e outros criadores haviam protestado por causa de uma sesmaria dada a Manuel da Costa Figueiredo em terras que não podiam deixar de ser realengas..."

Consultando o Aurélio:

REALENGO - Bras. RS Sem dono; público. Em desordem; entregue às moscas; abandonado: Saiu, deixando o escritório ao realengo. [Do lat. vulg. *regalengu.]


Aquele Abraço

J. Carino

Atravesso o Rio como numa aventura. Deixo para trás uma cidade emparedada e me lanço em direção ao subúrbio. A Avenida Brasil me cobra uma pressa que eu não teria; me obriga a navegar rápido num mar de automóveis; não me deixa olhar com vagar essa estranha transição entre dois mundos que convivem na mesma cidade.

Aos poucos, a luz muda, a paisagem se transforma. Os prédios aglomerados cedem lugar às casas, essas singularidades arquitetônicas hoje cada vez mais escassas. E, no subúrbio, resiste-se à ditadura de uma homegeneização arquitetônica: uma puxadinha aqui, para abrigar mais um parente, um andar a mais para acolher a filha que casou…

Muitas casas, moradias eternamente inacabadas, em que a falta de emboço escreve nos tijolos aparentes a história da permanente falta de dinheiro.

Chego ao meu destino: Realengo. Na larga avenida, os muros altos e compridos a não mais poder escondem os quartéis, lugares sérios e proibidos ao menino que só queria não perder sua pipa ou seu balão.

Sim, ainda há pipas e balões no subúrbio. Essa humanidade profunda contida nas brincadeiras infantis; no cansaço nunca sentido depois das longas “peladas” jogadas em campinho de várzea; no sabor da fruta madura roubada dos quintais; no cheirinho que sobe depois da chuva nas ruas de terra – tudo isso está lá em Realengo, convivendo com o progresso, que invade, célere e inevitável, os redutos suburbanos.

Lá estão as moças bonitas, o papo no bar da esquina, e essa figura tão rara em outros cantos da cidade: o vizinho. Está lá esse ser da casa ao lado, da mesma rua. Esse alguém que empresta ovos e açúcar; que ajuda no mutirão da construção da casa. Essa pessoa que vai entrar na família, virando compadre, virando nora ou genro, chegando e ficando para sempre, dando alma e corpo à amizade.

Realengo está lá, e vale a pena saber que os bairros lá estão, cheinhos de gente muito boa, cuja pele sua no trabalho como escorrem as gotas na garrafa da “loura gelada”.

Volto de alma nova. E cantando com o Gil: Alô, alô, Realengo! Aquele abraço!


J. Carino é professor universitário

fonte: A postagem original é neste link, muito interessante,
http://www.almacarioca.com.br/realengo.htm

sábado, 14 de novembro de 2009

Realengo pelo Professor Sinvaldo Nascimento Souza

A palavra "realengo" tem a sua origem no latim vulgar "realengu", e tanto pode significar aquilo que pertence ou é relativo ao rei ou a realeza ou próprio dele ou dela, como também aquilo que é publico, "sem dono". O saudoso professor Helton Veloso, fundador do Colégio Belizário dos Santos, de Campo Grande, que era também um pesquisador da Historia da Zona Oeste, preferia explicar a denominação do geonomastico como junção da palavra "real" com a abreviatura de "engenho" (Eng°), bastante usual nos séculos passados. Realengo fazia parte da jurisdição da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande desde a sua criação em 1673. Somente em 1926, com a assinatura do Decreto n° 2.479, de 11 de novembro, foi instituído oficialmente o distrito de Realengo.

As terras realengas

As chamadas terras realengas eram públicas. Não podiam ser doadas como foram sesmarias de Cristovão Monteiro, em Santa Cruz, que passaram a propriedade da companhia de Jesus. Eram "realengas", e por isso mesmo destinavam-se à engorda do gado. Ainda assim. "alguns terrenos já haviam sido invadidos por particulares antes de 1660, ano em que os provimentos de Correições definiram como bens do Conselho para uso público e Campo Grande e o Campo de Irajá, conforme Fania Fridman, em seu recente livro "Donos do Rio em nome do Rei - Uma historia fundiária da cidade do Rio de Janeiro" . em co-edição da Zahar com a garamond. " O Alvará é bom que se entenda, era uma espécie de resolução soberana referendada pelo ministro competente a respeito de negócios públicos ou particulares, em geral de efeito temporário. O termo colativo referia-se ao beneficio eclesiático vitalício da então Freguesia Nossa Senhora do Desterro a qual jurisdição estavam inclusas as terras realengas. Estas não poderiam ser alienadas e muito menos transmitidas aos herdeiros, no entanto ficava autorizada a venda em leilão publico com preços estimados judicialmente. Ainda de acordo com Fridman, " pela provisão de 18 de Julho de 1814 e pela portaria de 29 de dezembro de 1815 foram conservadas as casas e terrenos de dez famílias nas terras realengas. Nesta época estabeleceram-se vendas e ranchos até que, em Agosto de 1825, a Câmara, preocupada com os abusos, mandou realizar um vistoria e concordou em manter somente aqueles que pudessem apresentar seus títulos ou que estivessem á beira da estrada, pelo lado direito. Ficou determinado que: 1) seus terrenos não poderiam exceder 30 braças de testada com vinte de fundos; 2)não seriam permitidas novas invasões; 3) houvesse um intervalo de cinquenta braças entre os moradores; 4) este intervalo deveria ser mantido limpo; 5) o foro seria fixado em 200 réis para cada braça de testada. destaquemos que foi mantida a posse de Francisco Joaquim de Menezes , com 65 braças de testada por 50 de fundos, e proibida a utilização para pastagem da parte da sesmaria localizada na Capoeira". O livro de Fania Fridman vem ilustrado com varias plantas de Realengo.
Que nos possibilita visualizar a evolução urbanística daquela área da atual Zona Oeste, que já no inicio da segunda metade do século XIX, iria ocupar um papel destacado no cenário militar. "Em 1857, estas terras, de meia légua e reservadas para pastagem, tornaram-se propriedade da Câmara Municipal. Uma comissão constituída para realizar um planta estabeleceu que todos os foreiros deveriam tirar novas cartas. Foi verificado que 19 prazos possuíam 30 braças de testada, oito com frente variando entre 60 e 130 braças e os demais medindo apenas de 5 a 28 braças. o governo comprou algumas posses para a construção de um aquartelamento militar. o Campo do Marte onde incluía uma Escola de Tiro e a Imperial Academia Militar, estabelecido em 1859. O Realengo foi retalhado, dividindo em quadras regulares estabelecidas ao redor de dois campos e nestas mas os terrenos foram aforados. (...) O Ministério da Guerra construiu um chafariz e encanou a água do Rio Piraquara até o centro do arraial. (...)

“O processo de ocupação transformou o Realengo de Campo Grande em uma zona militar cujo ápice foi o estabelecimento da Escola Preparatória e de Tática e do 1º Batalhão de Engenheiros em 1897. No Largo foram construídas moradias dos operários da Fábrica. Esta mudança de uso, de um povoado agrícola para uma localidade residencial, industrial e de serviços, implicou um processo de urbanização e de valorização fundiária cuja marca foi a de Ter sido empreendido pelo Estado”, acrescenta Fridman.

A Escola de Tiro de Campo Grande

Na verdade deveria chamar-se Escola de tiro do Realengo ( ou pelo menos do Realengo e Campo Grande), uma vez que suas instalações se encontravam nas proximidades do Campo do Marte. Este estabelecimento militar, criado em 1859, fazia parte da pequena rede escolar do Exercito e tinha como finalidade " ensinar o jogo e o tratamento das diferentes armas de fogo e a adestrar oficiais e soldados nas regras práticas do tiro", conforme Decreto 2.42, de 18 de maio de 1858, citado por Jehovah Motta, no livro "formação do Oficial do Exército". O autor desde a metade do século XIX, os nossos chefes militares, ou pelo menos alguns deles, sentiram com acuidade o problema do ensino militar, quiseram no prático e objetivo, bem amarrado a sua destinação especifica" " Assim foi quando imaginaram e criaram a Escola de Tiro de Campo Grande, destinada a fazer tenentes e sargentos conhecedores do armamento e hábeis no tiro, capazes portanto, de como instrutores e monitores, elevar o nível de adestramento da tropa." A Escola de Tiro de Campo Grande encerrou suas atividades em 1865, no mesmo ano em que a Escola Militar da Praia Vermelha ficava reduzida apenas ao curso preparatório, talvez em decorrência aos esforços de guerra, tendo em vista o inicio do conflito com o Paraguai, que somente terminaria cinco anos depois.

Escola Preparatória e de Tática do Realengo

Foi inaugurada em 5 de Junho de 1898. Era destinada ao ensino teórico e prático do curso preparatório para a matricula na Escola Militar do Brasil, sendo frequentada por oficiais e praças de pré do Exército. De acordo com Jehovah Motta, " O pouco que se conseguiu no fortalecimento do ensino técnico-militar e, não correu por conta da Escola Militar do Brasil e sim pelas escolas "preparatórias e de tática" , no Realengo e no Rio Pardo. Não que nestas o "ensino prático" tivesse atingido elevado grau de eficiência, mas de qualquer forma algo se fazia. "O General Leitão de Carvalho foi aluno no Realengo, entre 1898 e 1900, e assim depões. "Sem que atingissem o nivél desejado, as atividades escolares, no 2° ano, melhoraram sensivelmente. Recebendo armamento, o Corpo de Alunos assumiu caráter militar. Começamos a praticar o tiro ao Alvo. Isso sem preparação prévia quanto ao conhecimento do manejo e das qualidades balísticas da arma. O ensino prático pouco a pouco foi tomando forma, com a introdução de algumas novidades, além dos exercícios de ordem unida, completados por marchas e evoluções - mudanças de posição dos elementos constitutivos das unidades, sem objetivo tático - espécie de quadrilha , sem os pares e a música. Uma dessas novidades foi a esgrima de baioneta". (citação de Leitão de Carvalho in "Memórias de um Soldado Legalista v.1. p.22-25). Sobre o prédio onde funcionava a Escola preparatória e de tática do Realengo, Noronha Santos observa: "Funciona em um belo edifício no Campo de Marte, há poucos anos constuido para o quartel de infantaria. Possui vastas acomodações: tem 90,52 m de frente e 101,60m de fundos. O portão principal tem 2,50 m de largura. Situada a direita do leito da estrada de ferro, do lado oposto da estação do Realengo. No edifício da Escola a linha da estrada distam 22.50m.
No pavimento térreo, ficam, para o campo exterior, treze janelas em cada lance, e no pavimento superior, cinco janelas de sacadas. Todo o estabelecimento é iluminado a luz elétrica, existindo no pátio um grande foco de luz. Antes de ser criada a Escola Preparatória e de Tática, esteve aquartelada nesse edifício a Escola de Tiro, extinta em 1897, por ato do governo. As quatro companhias de alunos ocupam igual número de alojamento, ficando do lado direito do edifício a 1ª e 2ª companhias e do lado esquerdo a
3ª e 4ª companhias. Durante a revolta aquartelou no edifício um contingente de guardas nacionais".

O autor das notas do livro " as Freguesias do Rio Antigo vistas por Noronha dos Santos", Paulo Berger, acrescenta que , "com a eclosão , em 14 de novembro de 1904, de um movimento sedicioso politico-militar originário na escola Militar do Brasil da praia Vermelha, por motivo da decretação da vacina obrigatória pelo Governo, e com apoio de grande parte dos alunos da Escola Preparatória e tática do Realengo, houve um colapso nesta instituição de ensino militar, dando-se o seu encerramento."

Posteriormente - acrescenta Berger - , impõe-se a reorganização imediata do ensino militar, e pelo Decreto n° 5.698, de 2 de Outubro de 1905, transforma-se a Escola Preparatória e de Tatica do Realengo em Escola de Artilharia e Engenharia, Escola de Aplicação de Cavalaria e infantaria, e Escola de Aplicação e Engenharia. Em 1911 a Escola de Guerra de Porto Alegre, é transferida para o Realengo, com extinção da Escola de Aplicação de Infantaria e Cavalaria.”

Recordações do Realengo

O General Lobato Filho, autor do livro "A Ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", dedica uma boa parte da sua obra para falar do Realengo, o qual trata como "triste subúrbio", "Ao chegarem ao Realengo começavam as despedidas. Surgia, então, um pouco de sentimentalismo. Aquela despedida aos velhos companheiros do Realengo era feita sob forte emoção e fazia nascer no intimo do novo cadete do curso superior uma grande saudade. Era como se os cadetes, ao deixarem a Escola preparatória, a absolvessem de dotas as maldades que ela lhes houvesse feito. " Daquele momento em diante o novo cadete da Praia Vermelha passava a ter recordações da vida um pouco menos brilhante, mas nem por isso desinteressante, passada nas Escolas Preparatórias. ninguém poderia esquecer, por exemplo, a noite silenciosa, de luar prateado, no Realengo, em que, altas horas, mesmo de madrugada, quebrando a solidão daquele triste subúrbio, vem chegando até a Escola os sons dolentes e muito sentimentais de uma linda serenata (o violão, a flauta e a voz harmoniosa do trovador, ouvidos muito de longe, lá do fim de uma daquelas estradas vindas da Serra do Barata, do lados de Bangu ou de outros lugarejos onde se realizara algo de interessante para a mocidade, e vem se aproximando vagarosamente da Escola, remexendo os corações dos cadetes os quais, muito mais amigos da Álgebra, da geometria e da Trigonometria do que dos violões, das flautas e dos trovadores, terminando os seus estudos da noite, estavam já mergulhados em sono profundo."

Mais adiante, Lobato Filho faz a pro-memória dos passeios pela antiga Zona Rural: "Muitos guardariam também recordações dos adoráveis piqueniques na Caixa D´água ou na velha fazenda do Gericinó que naquele tempo era somente uma velha fazenda, pois ainda não fora transformada no vasto Campo de Instrução. Para esses passeios aproveitavam-se as combinações de dias feriados e domingos e lá saiam, geralmente alta noite, as grandes caravanas conduzindo os enormes volumes chamados "pianos", contendo aprovisionamentos que eram conseguidos na própria Escola, com autorização do Comando, por conta das etapas dos componentes dos piqueniques. Eram gozados em Gericinó dias de vida campestre, livres das formaturas e, sobretudo, do famigerado toque de lavatório das 4 1/2 da madrugada. os piqueniques levavam sempre uma turma de seresteiros."

"Outros guardariam saudosas recordações das Repúblicas espalhadas pelo Realengo, formadas pelos felizardos cadetes que logravam um desarranchamento e permissão para residir fora da Escola. Eles ostentavam nomes impressionantes: Cabana de Arakém, de visitas e alegres palestras nas horas de descanso e aos domingos."

" O Realengo - continua Lobato Filho - não possuía esse benéfico aspecto (referindo-se ao orgulho manifestado pelos cadetes de Rio Pardo, ao reencontrarem seus notáveis professores na Praia Vermelha), pois eram um lugar onde não se formou nunca uma sociedade de famílias civis nem militares, não obstante existirem ai três grandes estabelecimentos: a Escola, a Fabrica de Cartuchos, o 1° Batalhão de Engenharia. Mas os respectivos professores, oficiais e funcionários residiam na cidade e só permaneciam no Realengo durante as suas poucas horas de trabalho. O Realengo era uma espécie de lugar indesejável", acrescenta o autor.

Mesmo diante dos cáusticos comentários sobre o Realengo, o autor de "A ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", reserva algumas passagens do seu livro para falar de passagens pitorescas, durante a sua jornada trienal na antiga Escola Preparatória do Realengo.

Merecem um parágrafo especial, no que se refere ás recordações do Realengo, certos fatos talvez um tanto escabrosos que muitos cadetes haviam de querer varrer do espírito, considerando-os como ocorrências do passado, mas que não deixaram de se apresentar, no momento em que as reminiscências não se escondem.

" Uma dessas coisas um tanto escabrosas era o Miguel das Laranjas ou Miguel das Suissas, com as suas dezenas de cadernos de contas velhas e novas, mas todos sabiam que os seus prejuízos não eram muito avultados pois já havia ele acrescido ao preço do custo uma bem grande percentagem de lucro. Ademais, O Miguel gozava das boas palestras dos cadetes.

Outra, era o Sans Souci, o célebre e restaurante do Mário que depenava os cadetes com os seus preços arbitrários; mas o Sans Souci era uma defesa contra o rancho da Escola." Quem também se refere ao Restaurante Sans Souci, é João de Abreu Lins, no seu livro intitulado "Memórias do Realengo", editado pelo Governo do Estado de São Paulo, em 1984.

" Era um restaurante modesto de subúrbio, localizado próximo da Escola, o qual ficava superlotado de cadetes depois das 17 horas e 30 minutos, após a liberação dos portões da Escola Militar diariamente." "Parecia uma festa àquela hora, as mesas do Sans Souci ficavam cheias de cadetes que ali iam saborear um copo de vitaminas, uma sobremesa, ou mesmo uma bóia diferente do rancho da Escola."
" A algazarra da cadetada se misturava com o som permanente do rádio que ficava no alto tocando as musicas, sucessos carnavalescos de Carmem Miranda, Orlando Silva, Noel Rosa e Francisco Alves.

"Alguns cadetes ficavam de pé na "piruação" e uma vaga nas mesas e todos conversavam animadamente num vozeiro infernal.

" O saguão era ligado a cozinha por uma abertura na parede, por onde iam sendo recolhidos os pratos com as iguarias da casa, entre elas o "completo" que constava de : arroz, batata frita, um suculento bife e em cima dois ovos fritos.
" Esta especiaria da casa era muito apreciada pelos cadetes, e custava naquele tempo apenas 3 mil réis.
" Sempre que o cadete pedia um completo, pedia em seguida o acompanhamento, ou seja meia garrafa e cerveja Malzibier ou uma caneca de vinho rio Grande do Sul".

" O dono do restaurante, Seu Martins", era um português legitimo de grossos bigodes e muito vermelhão que sempre estava atrás da da "registradora" faturando e fazendo o troco.

"Naquele ambiente de descontração os cadetes faziam as suas irreverências, os seus comentários sobre os "frangos", sobre os fatos ocorridos naquele dia nas aulas ou nas instruções, faziam seus planos, seus coméntarios sobre mulheres era a hora do desabafo do cadete." E por falar em mulheres, vale ainda transcrever mais um trecho do livro do -general Lobato Filho, durante o seu " internato" na Escola do Realengo.

" Agora a D. Joaquina ! Mantinha ela com os jovens preparatorianos, não com todos mas com muitos, um comércio de certa mercadoria de que eles não se podiam ir prover na cidade, não só por falta de tempo como porque ali era muito mais cara essa mercadoria indispensável à vida.

“D. Joaquina não tinha empregadas: ela era só na tarefa. Rústica e sem nenhuma compreensão das coisas, a Joaquina parecia Ter idéia de oficializar o seu comércio, pois em certa ocasião, conseguiu iludir os contínuos e chegar até à presença do Comandante, para queixar-se de que era pela "ônzima" vez (11ª) que o cadete Maribondo ia ao seu estabelecimento e não lhe pagava as contas. “Cá está o caderno, Sr. General, saiba V. Excia., que eu vivo disso e está ele a atrapalhar-me o negócio ! (...)
D. Joaquina tinha uma concorrente no mercado clandestino de mercadoria barata e a crédito. Era a Madame Lafitte. A afluência às feiras dessas humanitárias mercadoras (aqueles Bacuraus, como em Recife se denominam as feiras noturnas), era tão volumosa que já a esse tempo, quase formavam filas.

Assim, sob as saudades criadas por mil recordações, iam os novos cadetes, cheios dos projetos, esperanças e sonhos, empreender um prélio acadêmico, na tradicional Escola da Praia Vermelha e todos fixavam um primeiro objetivo - o prêmio de Alferes - aluno, que se achava como que situado no alto de uma escarpa íngreme, áspera e de difícil acesso", conclui Lobato Filho.

A vida dos cadetes do Realengo não era só brincadeira, estudos e irreverências. A Escola em diversos momentos, teve uma presença marcante da historia brasileira, posicionando-se ao lado das forças populares, como em 1904, durante a Revolta da Vacina e em 1922, protestando contra o Governo do presidente Artur Bernardes.

Realengo também serviu como uma espécie de laboratório do Exercito. Tanto para as experiências práticas, como teatro de operações para os treinamentos militares de 1884, sob o comando do Conde D'Eu e outros exercícios semelhantes realizados nas primeiras décadas do período Republicano, como também para adaptar-se às novas teorias militares introduzidas a partir das missões európéias, em particular sob a orientação francesa, prussiana e germânica.

A chamada "Era do Realengo" vai durar até o ano de 1944, quando começa a funcionar o primeiro curso da Academia Militar das Agulhas Negras, no município de Resende.

Sinvaldo do Nascimento Souza

fonte: Região Administrativa de Realengo, confirmado o texto com o próprio autor por email e também no link http://hgpaulo.com/ramaldesantacruz/realg.htm