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terça-feira, 5 de março de 2024

A FÁBRICA DE REALENGO por Luiz Orlando de Almeida

 

foto cedida por Zé Russo (em memoria)
Hoje vamos resgatar detalhes de como eram ocupados os espaços da antiga Fabrica de cartuchos, que atualmente abriga, o condomínio Parque Real, O Colégio Pedro II, o IFRJ e agora o Parque de Realengo Suzana Naspolini.

A FÁBRICA  DE REALENGO

  (por Luiz Orlando de Almeida)

           

Luiz Orlando - foto Luiz Fortes
O antigo Ministério do Exército tinha no seu organograma, vários Departamentos que dirigiam um grande número de Diretorias. A Diretoria de Fabricação e Recuperação tinha sob a sua subordinação várias Fábricas e Arsenais para cumprirem a tarefa de fabricar e recuperar o Material Bélico do Exército. Dentre as Fábricas havia a muito importante e famosa Fabrica de Realengo.
foto Luiz Fortes

 



 A Fabrica de Realengo tinha   a tarefa de fabricar munição  de infantaria,   para todo o  Exército Brasileiro, a chamada  munição para o  armamento   leve, (fuzil, metralhadora, etc.)

 Iniciou suas atividades com sede em Campinho, Cascadura, e mais tarde   foi transferida para Realengo. Depois de estabelecida em nosso bairro,   ocupou algumas das instalações da Antiga Escola Militar de Realengo,   que haviam ficado desocupadas em virtude da transferência da Escola   Militar para Resende quando se transformou na Academia Militar das Agulhas Negras.

Iniciou com o nome de Fábrica de Cartuchos de Infantaria para mais tarde se tornar Fábrica de Realengo. Com um grande número de funcionários de ambos os sexos e de várias categorias, ocupava quatro grandes áreas onde realizava suas atividades. As áreas eram assim denominadas.


foto Luiz Fortes

Área 1, na Rua Bernardo de Vasconcelos, destinava-se mais a parte administrativa, com o gabinete do Diretor, dos chefes dos Departamentos Técnico e Administrativo, as chefias de vários Serviços e também Tesouraria, Almoxarifado, posto Médico etc. nesta área estavam instaladas as antigas oficinas de munição .30 e 7mm, que depois da segunda grande guerra mundial os armamentos que susavam esse tipo de munição foram caindo em desuso. Havia, também, um Armazém Reembolsável e uma padaria que funcionavam nessa área para atendimento aos funcionários.

Luiz Orlando - foto Luiz Fortes
Área 2, na Avenida Santa Cruz, destinava-se a parte social. Nesta área tínhamos o Serviço de Transportes, a Escola Maternal e a Escola de Aprendizagem Industrial que se destinavam aos filhos dos funcionários, o Serviço Social e um grande Refeitório onde todos os funcionários faziam duas refeições diárias: Tomavam o café da manhã e o almoço, um campo para prática de esportes e duas quadras para futebol de salão, voley e basquete.


Área 3, na Rua Oliveira Braga (atual prof. Carlos Wenceslau) era destinada diretamente à produção industrial da fábrica. Várias oficinas formavam essa  grande área. As duas maiores e de Grande importância eram as que fabricavam munições dos calibres 7,62 e o .

foto Luiz Fortes
foto Luiz Fortes
 50 das quais a Fábrica era especialista em todo os Exército Brasileiro. Além das munições acima citadas, havia a fabricação e o carregamento das cápsulas para essas munições e o carregamento de alguns tipos de granadas, cujos corpos eram fabricados na antiga Fábrica do Andaraí. Essa área, a mais extensa das quatro existentes, além do que foi dito acima havia também uma moderna Casa Balística, onde eram feitas as provas para verificação da eficácia da munição produzida, uma grande granja para atendimento dos funcionários, uma seção de desmancho de munição refugada ou que havia perdido a validade para uso e o contingente Especial com um grupo de , sargentos cabos e soldados que eram escalados para a guarda das quatro áreas da fábrica.

Área 4,  na rua Princesa Imperial. Esta um pouco afastada, se localizava no outro lado da linha férrea da estação de Realengo (lado norte), continha vários Paióis e se destinava ao armazenamento de munições e explosivos.

Pela década de oitenta, foi criada a IMBEL, (Indústria de Material Bélico) uma empresa particular, da qual o Exército era um dos acionistas e fiscalizava a produção do quere era fabricado. Todas as fábricas militares passam a pertencer a IMBEL. Depois de vários estudos, as comissões criadas para esse fim verificaram que não era vantajosa a continuação das atividades em algumas Fábricas sendo incluída nesse grupo a fábrica de Realengo. Em consequência a F.R. foi desativada. Os seus funcionários, militares e civis, foram transferidos para outras Organizações Militares do Exército e as áreas com os imóveis tiveram vários destinos. Podemos dizer que a desativação da F.R. deixou muitas saudades aos seus antigos funcionários e também a todo o povo de Realengo que a tinha com muito orgulho e era uma grande tradição no nosso bairro.

Fonte dessa consulta: Capitão R1 Luiz Orlando de Almeida

Histórico: Em 1951, com 14 anos entrou na Escola de aprendizagem Industrial, em 1953, concluiu o curso de Mecânica Industrial da EsAI, em 1954 iniciou suas atividades como funcionários civil da F.R., em 1957, após concurso foi promovido à graduação de #º Sargento do Quadro de Material Bélico, em 1982, já como oficial, e com a desativação da F.R. foi transferido para outra Unidade Militar.

(Solicitamos que além das redes sociais, deixem aqui também seus comentários)

Aqui um depoimento em vídeo, que tive o prazer de registrar com os ex-funcionários da FR. 

Luiz Orlando e Maria Inês. onde relatam como era o cotidiano da fabrica. 



 

domingo, 15 de janeiro de 2023

Obrigado José Soares Ferreira o Zé Russo.

Obrigado José Soares Ferreira o Zé Russo. 

Sua missão na Terra chegou ao fim em 31/12/2022, mas sua estada entre nós foi marcante, pois ensinaste a muitos admiradores de música importantes detalhes.
Conheci Zé Russo, quando eu ainda era adolescente, ele tinha um comércio em Realengo, onde além de consertos eletrônicos vendia discos. *Jettor Eletrônica* eu trabalhava em outra loja de discos a Top-Som Foto discos e os donos Tião e Mauro (na foto) e ele, eram amigos e eu ficava intrigado com aquele homem de grande estatura e porte forte lembrando mesmo um europeu (seria essa a origem do apelido?) .
Pois o Zé apesar desse porte físico, era calmo falava pausado, sem pressa e tinha muito sendo de humor, contava algumas piadas e era sincero..."olha essa marca de som é uma porcaria quer mesmo consertar?"
"Esse disco é péssimo, esse cara não canta nada!" ...ah, ah, ah... só devia falar isso para os amigos, pois do contrário espantaria sua clientela.
O Zé Russo foi um dos grandes incentivadores da música instrumental em Realengo pois tinha contato com diversos músicos que vinham a seu convite tocar de graça no Grêmio de Realengo, nas Segundas instrumentais, conheci vários músicos (como por exemplo o baterista Luiz Carlos (na foto) e Jamil Joanes baixista da Banda Black Rio que vi muitas vezes tocarem aqui em Realengo), ou Robertinho Silva, filho de Bangu e de renome internacional. Lembro que o cantor Carlos Dafé, ao lançar seu primeiro disco pela Warner, convidou-o a ouvir em primeira mão e o Zé me arrastou junto pra Irajá (boas lembranças).
As segundas e depois terças instrumentais tinham o apoio do Beto e Gugu, com quem fui várias vezes ouvir música no grande salão do Zé, lá tinha no mínimo oito caixas de som, aparelhos diversos interligados, gostava de gravar os discos em fitas de rolo, pois a qualidade era bem superior. 
E tinha um detalhe marcante, ele sempre pedia pra sentarmos numa poltrona estrategicamente colocada no centro da sala. Ele explicava que ali era onde você teria a audição de todo o som e sim.. ele estava correto, uma sensação incrível. 
Me ensinou a dar valor ao silêncio aos mínimos detalhes da música, aos instrumentos que não ficam em primeiro plano...ou seja ouvir música pra mim seria como AZ/DZ, (antes e depois) das dicas do Zé Russo.
Lembro que era bem família, volta e meia falava ao telefone com as filhas que já tinham crescido e tinha o maior orgulho delas.
Obrigado por tudo Zé, descanse em paz.

Na foto: Zé Russo, Tiãozinho, Mauro, Luiz Carlos (batera) e eu Luiz (sentado), em uma das muitas audições em sua casa..

Complemento: Se os familiares por um acaso escrevessem em sua lápide: Aqui Jazz... Faria todo o sentido.
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

NO TEMPO DO VINIL! Num balcão de loja de discos

 




NO TEMPO DO VINIL!
Num balcão de loja de discos

Luizinho na Top-Som (eu mesmo)
Meu primeiro emprego... E coincidentemente um local de boas lembranças para muita gente.

Estou falando da Top-Som Foto Discos,  loja de discos e fotos, que ficava na rua General Sezefredo, ao lado da praça Padre Miguel em frente ao ponto de taxi e na época também de caminhões de mudanças.


Ali começou minha vida profissional, tive contato com dois tipos de artes que marcaram minha vida, Musica e Fotos. Fiz muitas amizades e algumas, preservo até hoje graças a Deus.

discos saiam com o selo da loja

 nas capas quanto nos rótulos

Sempre fui apaixonado por musica, ouvia desde criança com meu pai uma variedade de estilos, pois ele tinha o gosto muito eclético (sou igual a ele). Por força do trabalho tinha que colocar para tocar o que era mais apelativo para as vendas, sem vendas, sem lucro, sem salario... e provavelmente sem emprego.

 Luizinho com 14 anos em frente
 a loja - foto Tiãozinho.

Iniciei lá com 14 anos (1974) como encerador do estúdio fotográfico, onde eram tiradas as fotos para documentos. 

E aproveitava para ficar conversando com o balconista na época, Ariovaldo Tadeu. E fui aprendendo a tirar fotos, e também revelar, eu fui ficando, ficando. E por ocasião das férias do Tadeu, os donos, Tiãozinho e Mauro me perguntaram se eu queria ficar cobrindo neste período.  E fiquei super feliz, ia ouvir musica e receber por isso... maravilha!.

Ocorreu de neste mês eu vender mais que o titular da posição, depois analisando com calma certamente calhou de ser um mês bom de vendas, não teria como eu superar um vendedor com mais experiência. Mas eles gostaram, e fiquei como segundo funcionário, mas também na função de retratista e ajudante de fotografo em casamentos, aniversários de 15 anos, formaturas etc... 

Foram anos maravilhosos, conhecia de antemão todos os sucessos que iriam estourar nos rádios, ganhava muitos discos dos divulgadores, além de ingressos para shows, coquetéis de lançamentos, visitas a estúdios nas gravadoras, lembro de ver o Wagner Tiso, na Odeon  (se não me engano em Botafogo) com um aparato de orquestra.

Assisti shows de lançamento de discos das Frenéticas, Novos Baianos entre muitos outros... ingressos para os festivais de MPB, mas um  me dá uma dor de corno até hoje, acabei não indo assistir ao Raul Seixas (lançamento do LP “ o Dia que a terra parou”, era muito tarde na Zona Sul e durante a semana, não tinha como voltar e tinha de trabalhar cedo no dia seguinte.... não se pode ter tudo.

Época boa ganhava um salario mínimo e era feliz e não sabia, não gastava com transporte, (trabalhava no mesmo quarteirão, nem atravessava a rua), almoçava  em casa só tinha despesa com roupa e farras de fim de semana, e até ajudava em casa pagando a conta de luz, pois tava podendo(rs).  O que  sobrava eu comprava muitos discos, claro que diferentes do que escutava todo dia, que eram as mesmas que tocavam no radio e na televisão. Então passei a curtir musicas diferentes, minha mãe dizia “estranhas”. 

MAS QUE UM EMPREGO, ERA A EXTENSÃO DO LAR.

   Tião Fortes (Velho Tião meu pai)
 foto : Luiz Fortes     

Mas o que gostaria de destacar, era a nossa integração, existia a relação Patrão/empregado claro, cobranças na postura, orientavam para não ficar cantando as garotas (era passagem obrigatória de muitos estudantes, Souza Lima, Corsino, Nicaraguá, Gil Vicente, Colegio Paulo Gissoni, Estado de Israel entre outras, depois a Castelo Branco na época ainda Faculdade , era imprescindível  colocar os sucessos, tocar as musicas dos artistas mais vendáveis, etc.

Claro que atendia vários pedidos...as gatinhas queriam ouvir o sucesso...

Mas a amizade com meu pai era anterior a minha chegada a loja, pois foi ele quem construiu o estúdio acima da loja, (velho Tião Fortes era um faz tudo). E essa amizade só foi aumentando, tanto que ele e minha mãe foram padrinhos dos filhos do Tiãozinho Minha mãe foi madrinha de casamento de uma delas. E saíamos algumas vezes aos domingos, para passeios, Paquetá, Mangaratiba, onde acampamos algumas vezes, muitas pescarias e almoços juntos.

Posso dizer com muita emoção era uma continuação da nossa casa.

FORAM QUAE SETE ANOS DE APRENDIZADO.

  Ig. Ns. Conceição- 1979
 foto Wagner Chagas

Trabalhei na Top-Som Foto Discos até ela encerrar as atividades em 31 e maio de 1981 em consequência de um incêndio, que vitimou fatalmente um outro vendedor Edilson (era um domingo e estava de folga ensaiando com o Grupo S.I.M [mas está é uma outra historia]) . Os Bombeiros praticamente na esquina (o quartel ficava a 200m) não tinham água. Muitas pessoas que posteriormente me viam na rua se assustavam... você não morreu ?? tive que explicar isso muitas vezes, passei um bom tempo sem coragem de passar em frente a loja, como disse era como um lar. Mas aos poucos fui superando. Mas aprendi muito, trabalhar com o publico, lhe dá um jogo de cintura enorme, ouvir sem reclamar ( o cliente tem sempre razão), nunca discutir gosto musical, cada um tem o seu e fim de papo. Aturar bêbado e saber que se tocar o que ele quer e facilmente depois educadamente convencer para ele deixar você trabalhar... Era um ponto de ônibus a General Sezefredo na época era mão dupla, tinha ponto dos ônibus, 744, 739, 391 (inicialmente na praça), do 383...todos subindo e descendo. Os funcionários da fabrica de Cartucho (até 1978)se aglomeravam ali, e os soldados também. Era um fluxo de pessoas muito grande, conheci muita gente, e com essa rotatividade e uma péssima memoria, não guardava o nome de muitos, ao contrario até hoje um ou outro me chama e fala que comprava disco lá ou ficava imitando guitarristas ( e bateristas) imaginários na porta.

Ah, e tinha que praticar malabarismo para entender o que o cliente pedia cantando naquele inglês macarrônico... (kkk) ou decifrar o nome da musica escrito em qualquer papel, era difícil, as pessoas ouviam no radio e tascavam no papel o que entendiam... sobrava pra mim.

Essas são boas lembranças, você tem alguma em especial conta aqui nos comentários..

Por, Luizinho  em 10/11/2020

 
Obs: Três coisas aconteceram recentemente que formam uma coincidência enorme.  

1) Encontrei uma foto preto e branca tirada dentro da loja e decidi colorizar ela relembrando as cores que estavam na minha memoria, quatro capas estavam incompreensíveis de se decifrar, então substitui por outras do mesmo ano (1975) e com ela ótimas lembranças vieram a tona. 

2) Tenho me encontrado com os parentes dos donos, principalmente com a filha mais velha do Tiãozinho a Maura, que nasceu no ano que eu comecei na loja.

 3) Encontrei um artigo do blogueiro Marcos Santos, que menciona a loja de discos exatamente nessa época. (segue o link:     http://bocadiurna.blogspot.com/2020/06/rato-de-loja-de-discos-death-on-two-legs.html


Velho Tião, Tiãozinho e Mauro
descrição das fotos:  1) Velho Tião , Tiãozinho e Mauro numa barca a caminho de Paquetá (foto Luiz fortes) 

2) Velho Tião na loja 3) Eu e uma estudante amiga até hoje, Selma Terzi. 4) Zé Russo (dono de outra Loja de discos e eletrônica Jetor Discos onde hoje é a Faculdade São José, Tiãozinho, Luizinho, Mauro e Luiz Carlos Batera (baterista da Banda Black Rio) na casa do Zé Russo onde íamos escutar boas musicas ao fim do expediente sempre que possivél. 5) Lateral da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Exatamente a posição que avistava nestes 7 anos . foto Wagner Chagas 1979.


 

Eu e Selma Terzi

Zé Russo, Tiãozinho, eu, Mauro e Luiz Carlos
Zé Russo, Tiãozinho. eu, Mauro e Luiz Carlos

 



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

É bonito isso? canta Lilico, respondendo ao Aquele Abraço do Gilberto Gil.

Lilico na capa de seu disco: De Bangu, Realengo , Padre Miguel
É BONITO ISSO? Resposta do Lilico para a musica Aquele Abraço.

Humorista Realenguense, Olivio Henrique Fortes era uma celebridade nos anos 60/70, e criou diversos bordões que eram sucesso na boca do povo. E um deles é a Expressão Alô, alô Realengo, Aquele Abraço!, pois cresceu aqui e participou do Teatro na igreja Nossa Senhora da Conceição, ainda no tempo de Padre Miguel. E compôs esta musica em resposta ao grande sucesso de Gilberto Gil que usou seu bordão sem autorização.


É BONITO ISSO?
-De Lilico

Este samba vai pra todos.
Pra Paulinho Celestino, 
pras crianças que estudam, 
pro Rei Pelé 
e pra Gilberto Gil. (olha o breque)

O Rio de Janeiro continua lindo, você disse, (Lindo)
O Rio de Janeiro continua sendo, você disse, (Lindo)
 Nesse disse me disse, verdade você não disse!
Chacrinha tem talento, nunca foi palhaço,
Você pegou “Aquele meu Abraço”,
Se a Bahia já lhe deu, régua e compasso,
Realengo também deu tudo o que eu faço
Eu com você nunca tive compromisso,
E ao meu povo eu pergunto
É bonito isso?

Alô, Torcida do Flamengo: É bonito isso?
Alô, moçada da Mangueira: É bonito isso?
Alô, moçada da Salgueiro: É bonito isso?
Alô, moçada do Império: É bonito isso?
E Mocidade Independente: É bonito isso?
E ao meu povo brasileiro: É bonito isso?
Foi em Janeiro, Fevereiro e Março que eu lancei lá na TV aquele meu Abraço.
Não é dinheiro, que eu, não ligo isso.
Eu só pergunto as crianças: É bonito isso?
Alô Criança que estuda: É bonito isso?
Alô Santa Catarina: É bonito isso?
E Alô povo de São Paulo: É bonito isso?
Alô Minas Gerais: É bonito isso?
Você me tirou do teu compasso,
A Bahia é testemunha que é meu Aquele Abraço,
Não quero briga, que eu, eu não sou disso,
Eu só pergunto aos baianos: É bonito isso?
Alô Bahia que eu adoro: É bonito isso?
Alô Sergipe, Alô Recife: É bonito isso?
E Alagoas, Paraíba: É bonito isso?
Alô, Espirito Santo: É bonito isso?
Alô, torcida do Corinthians: É bonito isso?
Alô, torcida do Atlético: É bonito isso?
Olha o Breque!

O Rio de Janeiro continua lindo você disse, (É bonito isso?)
O Rio de Janeiro continua sendo você disse, (Tô invocado hoje, legal.)
 Nesse disse me disse, na verdade você não disse!
Chacrinha tem talento, nunca foi palhaço,
Você pegou “Aquele meu Abraço”,
Se a Bahia já lhe deu, régua e compasso,
Realengo também deu tudo o que eu faço
Eu com você nunca tive compromisso,
E ao meu povo eu pergunto
Se É bonito isso?

Alô, moçada de Bangu: É bonito isso?
Alô, povo brasileiro: É bonito isso?
Alô, motorista de taxi: É bonito isso?
Alô, Hélio Ribeiro: É bonito isso?
Alô, Rio Grande do Sul: É bonito isso?
Alô, Rio Grande do Norte: É bonito isso?
Salve Belém do Pará!

Alô, criançada brasileira: É bonito isso?
Comigo não Compadre!
Alô, Caetano Veloso: É bonito isso?
Salve a Gal Costa: É bonito isso?
Alô Roberto Carlos, Aquele Abraço! É bonito isso?
É bonito isso? É Bonito isso?
E Terezinha do Chacrinha ( Olha o Chacrinha buzinando as meninas... )
Continua sacudindo a pança....

(está é a resposta bem humorada do Lilico, ao Samba do Gilberto Gil “ Aquele Abraço, onde usou a sua expressão. Alô, Alô, Realengo, Aquele Abraço!  E não lhe pediu autorização ou lhe incluiu como co-autor...) em tempo: Decisões na justiça foram favoráveis ao Gil.



#Realengo200 anos






segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Realengo e o Cristo Redentor: Moradores contribuíram para sua construção!



Revista "O Semeador" de 1929 elaborada pelo próprio Padre Miguel, revela
detalhes das doações recolhidas em Realengo em prol da construção do Cristo
Redentor.

Como todos nós sabemos a imagem do Cristo Redentor está localizada no bairro do Alto da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro. Situa-se no topo do Morro do Corcovado, a 709 metros acima do nível do mar. Foi inaugurada às 19h e 15min do dia 12 de outubro de 1931, depois de cerca de cinco anos de obras.

Recentemente, por ocasião da comemoração do centenário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Realengo, conseguimos levantar alguns documentos históricos para exposição e, dentre eles, encontramos um material que nos foi apresentado pelos fiéis guardiões Luiz Orlando de Almeida e Icléa Santos, onde se retrata um pouco da história da evangelização e mobilização católica em nossa região nos anos 20 e 30, inclusive sobre a construção do Corcovado


O Semeador agosto de 1929


Luiz Orlando, quando começou a frequentar a Igreja Nossa Senhora da Conceição de Realengo, era ainda um menino e via o Monsenhor Miguel de Santa Maria Mochon incansável em suas ações religiosas, educativas, culturais etc. Teve ainda em 1957 o privilégio de ter em mãos diversos documentos da Igreja, quando fez parte da comissão que providenciou o traslado dos restos mortais do mesmo, do cemitério do Murundú para a urna que se encontra dentro da Igreja; e preservou consigo alguns exemplares que estavam sobrando,

Icléa Santos, coordenadora das Obras das Vocações Sacerdotais, que inclusive colabora até hoje na preservação da memória de nossa Paróquia, resguardou uma pasta repleta de fotos e documentos que sua falecida cunhada Ilda Pereira dos Santos, que foi catequista nos anos 30, possuía.

Texto de Sebastião Leme
Dentre essas relíquias encontramos em uma revista chamada "O Semeador", no volume 3, editada em agosto de 1929, reportagem sobre a participação de fiéis de arquidioceses e Paróquias de todo o país, através de doações, para a construção do Cristo Redentor no Corcovado, incluindo aí a Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Realengo que, através do trabalho de suas zeladoras, colaborou ativamente na arrecadação de fundos a fim de viabilizar a criação desse grande monumento em homenagem a Jesus Cristo.

Nessa revista a capa traz o Titulo " O Cristo no Corcovado" e em seu interior podemos ler um belo relato a respeito do local de sua construção. Na página 12 encontramos um poema de Sebastião Leme chamado "A Montanha de Cristo" fazendo referência à obra, enquanto que na página 14 pode-se ler o valor que cada Paróquia coletou em Réis ( o dinheiro da época) além dos donativos obtidos pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição para contribuir para a referida construção. Certamente, após a publicação da revista, deve ter havido uma sensibilização para que outros paroquianos passassem também a participar com doações em dinheiro para a construção dessa obra que é hoje considerada uma das "7 maravilhas do mundo moderno", além de ser conhecida como o símbolo da cidade do Rio de Janeiro.
Aqui alguns dos paroquianos que contribuíram e estão listados nesta edição de agosto de 1929 de O Semeador. - D. Faustina Duarte Guimarães, Antônio de Andrade e Silva, D. Alcide Mattos, Augusta S. Ferreira, Cecília Leite Alvarez, Alzira de Souza, Ambrosina Gomes, Zilda Leyraud Ribeiro, Maria do Carmo Virgens Lima, Florinda Rosa de Oliveira, Alzira Rodrigues Marques, Estephania Fonseca, Maria do Carmo P. O’Reilly, Edith Leyraud, Guilermina Cesar de Oliveira, Auta de Araújo Mello, Hermínia da Silva, Snr. Manoel Guina, D. Constança Bruce, D. Izolette Cavalcanti Coelho.


 
Então fica aqui registrado a contribuição que Realengo teve na construção deste monumento.

Esta pesquisa foi realizada por: Luiz Fortes, que teve o privilégio de ter estes documentos em mãos na época do Centenário da Paróquia Ns. da Conceição de Realengo, do qual foi um dos integrantes da Comissão deste evento.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O BARBEIRO DA ESCOLA MILITAR DO REALENGO

Postamos hoje mais uma colaboração do Prof. Sinvaldo


  O bairro de Realengo tem suas histórias, crônicas e memórias. Tem também seus personagens pitorescos, monumentos significativos, homens e mulheres notáveis.

 



As memórias e crônicas da Escola Militar de Realengo aparecem entremeadas de situações jocosas e apelidos bizarros. Um deles, o “Lhufas”, que na verdade se chamava Aristides, era uma das figuras mais queridas daquela academia.
Encarregado do corte de cabelos de todo o corpo de cadetes, Aristides estava sempre pronto para resolver toda sorte de dificuldades. Era o verdadeiro quebra-galho de todas as horas, oferecendo, desde pequenos aviamentos emergenciais, como botões, agulhas, linhas, esparadrapo, sabonete, creme e lâminas de barbear, pasta dentifrícia, cadarços e pentes de bolso, até sua mochila repleta de guloseimas, disputadas a pau e pedra, pelos esfomeados cadetes, após longas marchas e cansativos exercícios hípicos.
Segundo Hilnor Canguçu Taulois de Mesquita, que estudou na Escola Militar de Realengo, e foi declarado aspirante a oficial da Arma de Infantaria em 22 de novembro de 1937, o “Lhufas”, que era baixinho, de tez parda, cabelos crespos já grisalhos e começando a rarear, foi a figura mais popular de toda a Escola.
Além de quebra-galho, de esbanjar simpatia e da cordialidade como tratava indistintamente a todos, o barbeiro Aristides era um piadista de verve acentuada. Sempre que chegava ao alojamento, os cadetes queriam logo ouvir o seu repertório inesgotável de anedotas inteligentes, picantes e saborosíssimas.
Por ser encarregado da barbearia dos cadetes, lhe era franqueada a presença nas manobras, acampamentos, marchas e exercícios de longa duração, realizados pela Escola Militar de Realengo. “Lá ia também o Lhufas, de culote e camisa de brim cáqui, acompanhando o Batalhão de Infantaria, marchando conosco, transportando enorme mochila...”
Hilnor de Mesquita, na obra intitulada “Memórias do Realengo”, organizada por João de Abreu Lins, recorda um episódio ocorrido nas manobras de Taubaté, em 1936.
“Estávamos acampados e não sei como, correu a notícia de que havia nas imediações, uma “venda” que oferecia uma “pinga” verdadeiramente deliciosa.
“Sair do estacionamento, não era possível. Mas lá estava o providencial “Lhufas”, a quem vários cadetes entregaram os cantis, para que os enchesse de “pinga”. Ao passar por uma porteira junto à qual papeavam alguns “frangos”, o prestativo barbeiro foi interpelado por um dos tenentes:
“Aonde vai, Lhufas, com todos esses cantis?”
“Seu tenente, os cadetes não me dão uma folga. Vou encher estes cantis numa bica de água fresquinha, que existe aqui perto...”
“Ao regressar o Aristides, lá continuavam os oficiais, no seu “P.P.” junto à porteira. Cada um deles pediu um cantil, dele tomando um gole... de deliciosa água fresca, que era o que realmente continham os cantis.
Subindo a encosta, o Lhufas – já perto do acampamento – esvaziou uma por uma as vasilhas. E, ao passar de novo pelo grupo de oficiais, lamuriou-se dizendo:
“Pelo jeito, não vou descansar tão cedo... Agora outros também querem água... Só vou folgar quando os cadetes recomeçarem o exercício; espero que seja logo, se os senhores me ajudarem”.
“Ao voltar, desta vez com os cantis cheios de “água que passarinho não bebe”, o Lhufas já não encontrou na porteira o grupo de desconfiados “frangos”, pois estes, da mesma forma que os cadetes, haviam atendido ao chamamento da corneta, que a todos estridentemente convocava para dar início aos trabalhos do dia...”
E assim, o fígaro da Escola Militar de Realengo, ia se tornando amigo de todos. A ponto de construir sua casa no bairro, com a ajuda mensal e espontânea de todos os cadetes do 3º ano, que contribuíram com 1 mil réis, abatidos do soldo na hora de receber o pagamento.
Hilnor, que, anos depois, voltaria à Escola Militar do Realengo já como oficial superior, reencontraria o barbeiro Aristides octogenário.
“Recordo-o, porém, como um homem bom e prestativo, inteligente e espirituoso, modesto... mas que saiba, no fundo de sua alma, ser grato para com aqueles que mostraram ser seus amigos”, concluiu Hilnor Canguçu de Mesquita.

Sinvaldo do Nascimento Souza
Historiador


terça-feira, 16 de março de 2010

Adutora Veiga Brito ou Túnel do Lacerda



Pesquisa realizada por diversos meses de 2009 à 2010, desta maravilhosa obra que fica escondida da população e mesmo quando aparece, poucos sabem que está em funcionamento ou para que se presta, mas que é comprovadamente de vital importancia para o dia a dia de muitos cariocas.
(no slide show a direita, tem algumas reproduções do Google, por onde ele percorre.)
Essa Adutora, é em sua maior parte subterranea, ou encravada em montanhas sendo visivél somente em Senador Camará (Viegas), no Realengo (Barata) e no Catonho. (fotos de Luiz Fortes)



















História do Abastecimento do RJ
No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Em 1957, foi criada a superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN) e, em 1961, ocorreu um caos no abastecimento da cidade a partir de uma ocorrência na Elevatória de Alto Recalque da Antiga Adutora do Guandu. Neste mesmo ano, o Departamento de Águas foi incorporado a SURSAN e a administração pública teve de recorrer a um empréstimo externo para realizar obras, através de um contrato de, aproximadamente, 90 milhões de dólares com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Várias obras de construção de reservatórios foram feitas com este recurso e criou-se a Companhia Estadual de Águas da Guanabara (CEDAG). O Governo do Estado concedeu a CEDAG, a partir de 1966, o direito de cobrar as contas de água. A CEDAG remodelou seus reservatórios, substituiu tubulações, montou seu cadastro próprio de consumidores, equipou-se com computadores da mais alta tecnologia para aquele momento e iniciou a implantação da telemetria em seu controle do sistema adutor. Até o ano de 1975, a CEDAE conseguiu superar seus problemas, ocupando o lugar da Empresa de Saneamento do Brasil mais avançada.


O Planejamento

Durante o mandato do prefeito Hildebrando de Góes, o engenheiro José Franco Henriques, Diretor do Departamento de Águas, sugeriu a construção de uma terceira adutora de grande diâmetro, com capacidade para 225 milhões de litros por dia, a Guandu-Leblon, utilizando as águas do rio Guandu, já previstas pelo engenheiro Henrique de Novaes. No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Sistema Guandu
Esse sistema utiliza uma captação direta das águas do rio Guandu, no município de Nova Iguaçu situada a aproximadamente 50 Km a oeste da cidade do Rio. Iniciada nos anos 50, a realização das obras se estabeleceu ao longo dos anos subseqüentes com, inicialmente, a implantação de uma estação de tratamento e a construção da adutora “Henrique de Novaes” (1.750mm de diâmetro), seguindo-se pelo “Túnel-canal do Guandu” (concluído em 1966) a fim de alimentar a parte sul da cidade em grande desenvolvimento. Esse túnel, atualmente chamado de adutora Veiga Brito, aduz água até o bairro do Jardim Botânico, onde termina no reservatório dos Macacos e, ao longo de seu trajeto, interliga-se aos outros dois sistemas através de sub-adutoras.

Sub-sistema Lameirão - o restante da água (50%) é aduzido para a elevatória do Lameirão através de um túnel subterrâneo com 11 Km de extensão.
Na elevatória do Lameirão, com 7 grupos motos-bombas com potências de 4.500Hp e 9.000Hp a água é bombeada 110m de altura para alcançar um outro nível com 34Km de extensão.
Ao longo do trajeto deste nível, várias adutoras estão conectadas para fazer a distribuição para os diversos bairros do Rio de Janeiro.
A Estação de Tratamento dispõe também de um laboratório de controle de qualidade que realiza análises físico-químicas e bacteriológicas periodi¬camente controlando cada fase do processo e garantindo assim os padrões de potabilidade exi¬gidos pelas Organizações de Saúde.

Encontrei estas informações neste endereço, mas atualmente ele está inativo
fonte : http://aguasdeprata.com.br/aguasdeprata/?page_id=14



O Ex- Governador Carlos Lacerda Visitando as obras dentro do Túnel.



-Reprodução do Site da Cedae. *observem a espessura do concreto.



obs: Os Ex funcionários contam que entrava um caminhão FNM dentro deles.

Fonte http://www.cedae.com.br/ (clicar em "mapa do site" - Sistema Lameirão)



Por onde ele passa deixa historias – Jacarepaguá :

Em 1954, nas ruas Luís Beltrão, Baronesa, Marangá e Capitão Menezes, realizaram-se escavações para colocações de enormes manilhas, com diâmetro de 1 metro e 75 centímetros, que foi parte da obra da Adutora Henrique Novaes, cujos percurso total é do Rio Guandu até a represa dos Macacos, onde abastece de água toda a Zona Sul. A adutora, na sua passagem, também fornece água para outras localidades, inclusive à região da Praça Seca, através do reservatório do Morro da Reunião, no Tanque. Quando a escavação da gigantesca vala chegou na esquina da Rua Cândido Benício, o trânsito foi desviado. Mas os usuários dos bondes tinha que fazer baldeação. Os bondes vinham de Cascadura até em frente ao antigo Chopão. Ali os passageiros saltavam e pegavam outro bonde estacionado no meio da praça, a fim de continuarem a viagem à Freguesia ou Taquara. Houve muitos acidentes durante a construção da adutora na Praça Seca. O mais grave foi a morte de um operário, que trabalhava no fundo do valão na Rua Baronesa, em frente ao terreno do General Lauro Dias Barreto, quando houve um desmoronamento de terra em cima dele. A propriedade do General Barreto era onde existe os imóveis da Rua Baronesa números 716, 729, 730 (a vila) e 750 (a Academia Corpus). O terreno era bem grande, com um casarão no centro. Tinha duas frentes: na Rua Baronesa e na Rua Barão.
Há outra adutora do Guandu na região, que percorre totalmente a Rua Albano. Foi realizada no Governo de Carlos Lacerda e inaugurada em 1965 pelo então presidente do Departamento de Águas e Esgotos (atual CEDAE) Veiga Brito. Ao contrário da que passa pela Rua Baronesa, a adutora da Rua Albano foi escavada em túnel, cujas dimensões médias são de quatro metros de largura por três de altura. Ela também abastece a Zona Sul e tem diversas interligações no trajeto. Uma delas é na Rua Urucuia, com saída para a Henrique Novaes (Rua Baronesa), para o Juramento e para a Barra da Tijuca. No final da Rua Albano, desvia em direção à Rua Barão, onde atravessa o Morro Inácio Dias. No local, a partir de 1963, surgiram os primeiros barracos da atual Favela São José, levantados pelos operários durante a construção do túnel.


Ex-funcionários do Consórcio Construtor Guandu, relembram o dia a dia no canteiro de obras com saudades, emoção e muito orgulho..


Depoimento de Antonio Medeiros do Prado Natural de Minas Gerais.
-Que trabalhou na construção da Adutora do Guandu na parte de Senador Camará (Viegas) e no Realengo.


Cheguei ao Rio vindo de Minas Gerais no ano de 1965, tinha 22 anos e pouco, e comecei a trabalhar na obra desta adutora, no dia 16 de Janeiro do mesmo ano, e trabalhei quase um ano e estava ainda na perfuração, eu fui trabalhar na cabeceira me mandaram logo para a furação. (ajudante de perfuração). Era uma zoada (barulho) tão grande que eu pensava de não aguentar mas eu precisava trabalhar e fui trabalhar de ajudante direto na perfuração, dai eu fui ficando mais antigo e pedi para ser transferido pra turma da concretagem e era menos barulho e ai eu trabalhei até o fim de novembro de 1965, ficando quase 11 meses e no dia que eu sai foram mais de 50 despedidos e eram sempre assim de 50 em 50. Já tinham perfurado tudo, já estava livre e não tinha mais calor, já estava bom de trabalhar com tudo concretado , só foi ficando a turma da limpeza e não tinha mais perigo. Mas no inicio foi muito perigoso e eu não morri foi de sorte. Tinha um boledo do escoramento de madeira ai aquele escoramento quebrava, e descia era pedra, um dia eu quase que morri com uma pedra muito grande que caiu quase em cima de mim, começou a pingar eu sai correndo e caiu. Eu trabalhava uma semana de dia e outra a noite. Tinha turno direto era dia e noite , e tinha um placa bem grande que dizia " A Janela não pode Parar", saia uma turma entrava outra, mais ou menos 1.500 homens se revezando só nesta janela, e isso aqui (apontando para o terreno no Realengo) era só alojamento para tudo que era canto, era muita gente mesmo. A turma do dia trabalhava de 7 às 7, e as janelas como eram chamadas as bocas do túnel (adutora) 90 no Viegas, 110 no Realengo, que foi onde eu trabalhei a maior parte do tempo, eu comecei na 90, e fui transferido para a 110, trabalhei na "montante" e na "juzante", eu não sei explicar por que tinha este nome?, mas era como eles a chamavam e nos direcionavam para trabalhar, vai para a montante da 110, ou para a juzante da 110 que eram os lados definidos. Mas da maneira que ia furando a rocha, ia passando a turma para a outra direção quem estava na montante ia para a jusante, até ir encontrando a outra janela 110, 120, 130, 140. isso vai muito longe, além do Catonho. Nós nos apresentávamos no escritório central na rua da Maravilha em Bangu e dali distribuía para as janelas, lembro que tinha os caminhões que levavam os trabalhadores, da seguinte forma, janela 90, caminhão tal, janela 120, caminhão tal e assim por diante, eu acho que a ultima era 240, que fica pra lá depois de Jacarepaguá.Tinha colegas meus que trabalhavam pesado lá. Ali na rua Maravilha era onde que ficavam os caminhões que iam distribuindo os operários. Sr. Antonio exibe orgulhoso sua carteira e trabalho.


Esse Túnel vem do Guandu e passa no Lameirão (Santíssimo), e vai atravessando essas montanhas.

A firma chamava-se: "Consorcio Construtor Guandu”, e parece que a outra firma era Serv. Engenharia, e minha carteira é assinada pelo consorcio, e eu ganhava CR$ 175,00 por hora e o salário era CR$ 42.000,00, tenho a carteira guardada, que serviu para me aposentar ainda para comprovar. Tinha muito risco de vida, dava muito acidente, morria muita gente, pedra caia, boledo (espécie de massa com barro e pedras sem muita resistência) caia e matava, bonde matava , era explosão né, e ali em Realengo mesmo teve uma explosão, antes de eu entrar, eu comecei la no dia 16 de Janeiro eu comecei aqui e logo fui pra lá, e as pessoas falavam dessa explosão. E ficava gente cega, com perna quebrada, tinha um bonde que levava a gente para dentro do túnel, este bonde ajudava a trazer a sujeira e fazia toda a limpeza. Aquelas borbonetas era a linha de trem dentro do túnel, pois conforme ia furando íamos colocando os dormentes e os trilhos era o chamado trenzinho, e lá dentro tinha as escavadeiras para poder encher o trenzinho e as vezes ele desencarrilhava, as vezes o chefe queria que você entrasse no bonde eu não entrava na hora do almoço por que aconteceu o bonde se perdeu uma vez, eu não entrava e eu não andava naquele bonde era longe pra burro, pois ele trazia gente com perna quebrada todo machucada era longe e eu preferia andar um quilometro para chegar na cabeceira mais rápido, pois eram vários quilômetros andando, e tem uma coisa quando faltava luz ficava escuro mais escuro e não se enxergava nada. Colocavam as dinamites e a fiação para acionar eletricamente os explosivos, e o fio ia lá fora na boca do túnel, a gente saia de dentro do túnel e ligavam a chave que detonava as dinamites. E tinha uma ventoinha (tipo de exaustor) para puxar a poeira e tinha um cano que levava o ar comprimido que era para tocar as bombas, tocar os martelos de ar comprimido, tipo britadeiras. E subia uma fumaceira uma poeirada, que deixava as lâmpadas toda embaçada era difícil trabalhar naquele troço, mas como pagavam muito bem era muito bom, nem se compara com esse salário de hoje. Acabava de comer e voltava direto, já comia bem perto na boca do túnel e voltava um turno de 7 as 7, e eu não dormia no alojamento preferia voltar pra casa, o caminhão levava a gente para a rua maravilha que deixava em casa novamente. Eu morava na época em Campo Grande eu não dormia no alojamento pois havia muito roubo, e muita sujeira pois trabalhava só homem, O caminhão levava a gente pra Campo Grande, encerrava o expediente tomávamos banho rapidinho e em mia hora já estávamos voltando pra casa. Desde que sai de lá....nunca mais voltei lá, estou tendo a oportunidade de voltara aqui hoje. mais de 40 anos.

Esse túnel é muito longo deve ter pra mais de 50 quilômetros, eu tinha um colega chamado Seu Agenor que trabalhou na janela 140. Tinha turma especifica para cada posição, ele é circular e tinha a turma da abobada, a a turma das paredes e a turma do piso, conforme ia fazendo o piso ia tirando o trilho e já podia entra os caminhões.

Olha só a cota d água (altura onde era previsto passar água) onde era marcado para passar a água, ali era 1,80 m de altura, então como tinha coisa ainda pra cima, era mais de 2,50m mais ou menos.

Foi feito um trançado de vergalhão redondo, tudo ferragens muito forte foi um troço muito bem reforçado, é um serviço muito bem feito, depois da concretagem veio com a pintura ai foi a época que eu sai, já tava na pintura fresquinho bom de trabalhar lá dentro, aquele vento indo de um lado para outro e eu tive que sair, o contador chama fulano, fulano, fulano uns 50, rua da maravilha (o escritório em Bangu). Ai ia recebendo o dinheiro, e disseram pra gente que a firma tava falindo, e naquele tempo eu não entendia nada e disseram que não teríamos direito a indenização pois não existia fundo de garantia nesta época e falaram que a firma tava falindo eles só pagaram o salário do mês, as ferias e 13° e eu não recebi mais nada a não ser isso.

Os Operários

A maioria vinha tudo de fora do Norte, Nordeste, Minas Gerais capixaba, muito capixaba mineiro, lá bem do interior e daqui do Rio ninguém queria não. No dia que eu entrei, nós entramos uma turma grande quando eles entraram com a pá voltavam e diziam eu "vou embora agora", entrava outro e dizia a mesma coisa " vou me embora agora" . Lá na rua Maravilha, tinha uma fila enorme, pra poder se inscrever e outra enorme para indenizar. Qual essa fila? Essa é para fichar, e essa outra? Essa é para receber os direitos, todo dia que você fosse era um filão enorme. No dia que eu me inscrevi eu entrei na fila uma oito ou nove da manha, quando eu fui ser fichado era de tardezinha. Mas já ia trabalhar com a carteira assinada na mão, "amanhã aqui tal hora, para pegar o caminhão e ir para a janela que vai trabalhar", ou seja, você vai pra janela, tal. Era assim que funcionava e só dava gente de fora, o pessoal daqui mesmo não queria, queria só pra trabalhar no escritório, sala de maquinas não queria o brabo, não ia pra guerra não, lá não era mole não. Eu vou te contar eu só fiquei por que eu vim pra e qui não tinha dinheiro pra mim voltar, o meu dinheiro não dava pra voltar pra Minas. Mas eu vim pra trabalhar nem pensava que ia ter um serviço mole e eu era do interior já acostumado com serviço pesado né. Mas valeu a pena, graças a Deus eu não morri, pois morreu muita gente nosso serviço era muito perigoso entrava 100, 200 e ficava somente uns 20 ou 30 que tinha coragem de encarar o trabalho. Quando chegamos lá pela primeira era uma barulheira danada, o barulho de bomba d´agua puxando , bomba a ar que faz uma zoada enorme e agente tinha que conversar por sinais , que hora são? apontava-se para o pulso, tá na hora do rango, fazendo sinal com os dedos para dentro da boca, pois não dava para ouvir nada, fulano ta morrendo, o que tava acontecendo, se tava caindo qualquer coisa, tinha que ir lá e balançar o cara, falar nem adiantava, o barulho não dava pra ouvir, nunca batíamos papo durante o trabalho, só na hora da comida podíamos conversar tínhamos que usar só sinais. O almoço era 11 horas, e acabava de almoçar o encarregado tava logo em cima.

E era serviço pesado pesado pra caramba e perigoso, mas eu me sentia um herói. diante de tanta gente que eu vi se acidentar do meu lado, nesta época eu tava já na parte do concreto. Tínhamos de encher aquela padiola, areia de ponta de pedra na betoneira para fazer concreto. Então um bonde vinha e quando o bonde vinha e invés do cara passar pro espaço maior ele correu pro lado errado, ai o bonde espremeu ele contra a parede e morreu ali mesmo, o coração dele chegou até a sair...ficou com a boca aberta, acabou com o cara! Eu tava trabalhando na turma da noite, a família só ficou sabendo porque nós éramos colega de trabalho, e eu sempre fui comunicativo e perguntava onde é que você mora?, " Ah eu moro lá em Senador Camará" . lá naquela rua fulano de tal...eu era colega dele, colega assim de trabalho, sabia até o nome dele e tal, e nas horas vagas batia papo, e quando ele morreu...rapaz eu fiquei tão espantado, que saber uma coisa eu vou é me embora, vou ficar aqui não. Ai o cara falou assim: " Alguém conhece ele?". O Encarregado e eu falei mais ou menos devo conhecer a família dele. Ai eu vim de madrugada, sai de madrugada cedinho pra Camara, entrei na rua , não sei se é rua Tamburiu ai era bem cedinho e vi um colega dele vindo, ai eu falei o João morreu lá no tunel, ai o sujeito foi avisar o pessoal dele lá. Eu nem fui no enterro, pois fiquei tão traumatizado, fiquei dois dias sem trabalhar, ai os colegas disseram que nada Antonio, "isso acontece sempre ai, tem acidente sempre", realmente quebrar perna machucar eu vi muito acontecia sempre mas morrer mesmo eu só vi um. Eu sei que ná época do fogo (explosão) lá no Realengo, quando eles estavam perfurando morreram 17 de uma levada só. Isso eu ouvi falar pois foi antes de eu ser contratado ai eu perguntei :"Voce não ta com medo não?" não isso faz três meses já. "Acontece sempre?" Não aconteceu por descuido e tal! Ai você passava pelos escoramentos de eucalipto, chegava tá envergado assim, a terra cedendo, pedrinhas e água pingando do teto, e a gente perguntando : E isso ai não cai não? " As Vezes acontece" ,parecia uma mina de carvão dessas que a gente via no cinema. Depois fomos fazendo a Mas depois que ia fazendo a cambota de ferro e fazendo o concreto, foi diminuindo o perigo, tava já escorado, mas antes o escoramento provisório de madeira aquilo é que era perigoso, ia apodrecendo. Lembro do Engenheiro que eu trabalhei com ele Doutor Mario, na época eu tinha 23 ele devia ter os seus uns 35 anos, e trabalhei com um chefe chamado Murilo, muito bacana também, tinha hora que dava sono lá dentro né um lugar escuro ninguém falava com ninguém, e a jornada de 7 as 7 era puxada e cansativa, e agente catava um cantinho e tirava um cochilo, ai ele vinha acordava e dizia "vai trabalhar, não fica ai não" , não brigava não, era bem consciente e bacana, ele sabia que era horrível, tinha que ter coragem pra encarar aquilo, eu encarei como muitos encararam. Até porque trabalhar do lado de fora era sopa, quem trabalhava lá fora era profissional e ganhava muito bem, eu não era profissional na época eu entrei como ajudante. E o barulho era tanto, parecia que ia estourar os miolos, que eu pedi pra vim mais pra trás pra ficar mais longe da perfuração.
Os caminhões entravam e o que botava as pedras era umas escavadeiras e depois a turma da limpeza completava, com as pedras pequenas e terras, e era uma poeirada danada uma fumaceira. Tinha às vezes um cheiro de gás que sai da terra, e as pessoas iam direto pro hospital intoxicadas. Foi feito um túnel mais largo para que fosse possível trabalhar melhor e eu acho que com o tempo, a terra deve ter completado este espaço, com escombros naturais. e a armação era bem grossa, ficou uma parede bastante reforçada, uma obra de qualidade, tanto que até hoje ela resiste bem ai, e era um concreto especial, levava sika e era levado lá pra dentro a base de ar comprimido, uma maquina injetora levava o concreto pra dentro e ia socando tudo, e nós íamos pra outro trecho e quando eu tava saindo, vi chegando a turma da pintura aplicando uma tinta protetora de cor preta. Eu tenho muito orgulho de ter participado desta obra, cheguei novo e encarei o desafio, uma vez fiquei muito doente nós trabalhávamos sem camisa pois dava brotoeja por causa do calor, e eu todo suado cheguei na boca do túnel
vi um clarão e levei uma rajada de vento nos peito que eu perdi a voz na hora. Fui pro caminhão já muito mal, roquinho peguei o caminhão e chegando no meu barraco, lembrei do que minha mãe me falava que cravo era muito bom pra isso, e eu passei numa vendinha chovendo todo molhava
e comprei alguns e soquei e fiz um chá e já no outro dia amanheci falando mas fiquei de molho em casa, dois dias sem trabalhar, ai quando eu voltei o encarregado perguntou se eu tinha ido ao medico, eu disse que não, mas ele disse que era bom ir, então fui até a SAMU que era um posto de saúde em Realengo.
Quando a janelas 90 e a 110 se encontraram fizeram um grande churrasco e teve até o presença do Governador Carlos Lacerda, fez até um discurso e toda vez que uma se encontrava com a outra, tinha um churrasco.
E era muita fartura muito churrasco, matavam bois e mais bois, eram pedaços enormes de três quilos mais ou menos, ai comiamos a parte que tava bem assada e guardávamos a parte interna que não tava muito boa embrulhávamos e levávamos para casa o pedaço e dava pruns três dias e distribuíam muito chope, mas muito chope mesmo .
E eu afirmo que tinha a janela 100, que ficava em Bangu e o meu primo Oswaldo trabalhava nela, a 90 (Viegas), encontrava com a 100 (Bangu) que encontrava com 110 (Realengo), 120 Catonho , 130 Boiúna, 140 Cafúnda e assim por diante.

Eu tinha um colega chamado Genival irmão do Zé Alves que trabalhou no escritório da rua Maraviha, acho que ele esta morando lá pros lados de Campo Grande. Ele poderia dar boas informações.
=================================================== Depoimento de Felix Daniel Zampieiri
natural do Espirito Santo

Funcionário do Consórcio Construtor Guandu, eu trabalhei mais especificamente só dentro das salas de maquinas eu era responsável por um gerador de luz elétrica, dois compressores GM, e um Atilas Coop, minha função era operar as maquinas que fabricava aquele o ar comprimido que ia pelo tubo. minha profissão era compressorista, como consta na minha carteira. data de admissão 21/01/1964, CR$ 87,50 por hora 18 /12 1965 ficando 1 ano e 11 meses na firma, e a função do ar era para na hora da detonação dentro do das bocas da cabeceira (túnel) jogar o ar e tinha do lado de fora dois exaustores que puxavam o ar e toda a poeirada, na montante e na juzante as duas funcionavam juntas, uma detonava primeiro e jogavam para ela, e mais tarde a outra ai um encarregdo vinha e avisava, para virar para a outra boca, e este ar comprimido servia também para os marteletes, furar as pedras, para se colocar as dinamites e também se colocar escoramentos de pedra madeira, era
escorado com uns parafusos, e as vezes caiam pedras nos funcionários. Para retirarem dos entulhos eles faziam um trilho deste de trem, tinha uma locomotivazinha que puxava umas caçambas, que o operador puxava e uns caminhões eram carregados com estes entulhos. Eu servia no quartel aqui em Deodoro, e um fiz o curso de cabo fiquei lá um tempo seis meses depois eu dei baixa e um conterrâneo que já trabalhava aqui falou comigo e eu disse que queira entrar nela, ele me disse vai lá que eles tava dando vaga.





Eu tinha desejo de ser mecânico e fiquei como compressorista, eu qeria ter entrado como contador, pois trabalhava no almoxarifado, mas não deu pra mim. E era engraçado, funcionava tudo a diesel, ai vinha um carro pipa e despejava num tanque enorme o óleo diesel, que azia a geração dos motores e o serviço era noturno e diurno, e tinha dois a noite e dois pela manha, e eu morava aqui perto. Tinha gente de tudo que é lado do Brasil. As explosões eram detonadas eletricamente, e acionava aqui fora e era muito forte o barulho. Acontecia de algumas dinamites que não explodiam e vinha o desentupidor de minas, era perigoso.
Eu tinha uns vinte anos e depois falaram de levar a gente pra Amazônia, levaram nada, eu fiquei até acabar isso, e a minha indenização deram faltando, pois a firma foi dada como que tinha ido a falência, e ainda fui ferrado. Mas mesmo assim eu tenho orgulho de ter contribuído com esta grande obra, foi um marco do Governo Carlos Lacerda disseram que ele visitou mas deve ter sido de dia eu nunca vi ele não. Eu trabalhei só na janela 90 na montante e juzante, foi ali que eu vi dinheiro, eu mandava dinheiro pro meu pai na roça no Espírito Santo eu guardei um dinheiro bom, eu sei que na indenização nos fomos lá pro ministério do trabalho e teve uma conversação, o doutor lá com a gente e disse se vocês não sabem fiquem sabendo que havendo termino de obra, concordata ou falência a empresa só paga 70%, mas vocês podem botar na justiça também, ai conforme meu amigo Fernando que morava ai, era chefe do Encanador, o dinheiro é mais prudente o dele foi CR$ 802,00 e o meu CR$ 345,00, ele foi o primeiro eu fui o segundo ele assinou eu tava atrás e assinei também, teve um o paraibinha, que não quis assinar e ia botar na justiça. Sei que no dia do Acidente lá no Realengo, não teve trabalho aqui, só ouvimos falar que muita gente morreu. Aqui na janela 90 não teve acidente grave.
Uma coisa que todos gostavam, era que nunca faltava ou atrasava o pagamento. Tinha umas vendinhas que o pessoal podia almoçar, ou lanchar alguma coisa. Eu almoçava de marmita, morava aqui perto me estabeleci ali na casa de um nordestino que tinha uma família grande, e pagava um garoto, que levava ela quentinha lá em cima na hora certa pra mim.

===================================================

Depoimento de Valtinho Smith
Natural de Cachoeira de Santa Leopoldina - Espírito Santo



Comecei a trabalhar na construção da adutora com 23 anos, na função de operador de locomotiva e segunda função operador de carregadeira, as locomotivas eram uma Toyota modificada para locomotiva, tinham mais ou menos dois metros e puxavam uns vagões de quatro metros que buscavam só pedras, e eram quatro vagões de uma vez que entravam de ré e saiam de frente. Ai eu trazia pra fora do túnel outros funcionários soltavam os vagões e despejavam num barranco que tinha mais ou menos seis metros de altura, às vezes quando as pedras eram muito grandes eles amarravam umas correntes na linha para que os vagões não caíssem no barranco. A locomotiva era liberada e eu depois eu ia para outro canto e pegava o desvio (os técnicos abriam a linha) e outros funcionários engatavam outros vagões vazios. Lembro que eu não tinha lugar certo pra trabalhar, trabalhei nas janelas do Pau da Fome, depois fui pro Catonho, nesta eu trabalhei mais um tempo, mas se precisava de um operador aqui no Viegas ou no Realengo, e nós íamos e tínhamos de voltar pra lá novamente, pois só tinha dois funcionários era um por turno, quando fazia uma explosão encaminhavam a gente, independente do horário de trabalho eles chamavam a gente em casa, pois era um serviço especializado, pegava as dezoito da noite as seis da manhã uma semana e na outra semana invertia, eu trabalhei lá três anos (eu e meu irmão já falecido), até acabar ai o encarregado chamado Felipe, chegou pra mim e disse eu vou te dispensar, pois quando acabar você vai perder o aviso prévio, ele foi legal comigo.

Uma lembrança triste foi quando ocorreu um acidente e um funcionário acabou morrendo, eu tava emprestado na Janela do Realengo e como de costume o trem ia entrando no túnel sempre de ré, e não sei o que houve pois tava de costas e era muito escuro e os vagões tiravam minha visão, não sei como ocorreu um operário morreu esmagado fui levado pra delegacia para prestar esclarecimentos, e depois fui liberado era na 24ª DP. em Bangu. (não existia delegacia em Realengo). Ficou provado que eu não tive intenção e que ele não respeitou o sinal de liberar o trilho, mas mesmo assim são coisas que marcam, fiquei muito tempo não dormindo direito, acordando no meio da noite. Mas eu e Deus sabemos que não tive culpa. Tinha muitos acidentes transportei nos vagões muita gente machucada.
Obs: sobre este acidente -Em conversas nos intervalos os operários ouviram que este funcionário estava dormindo e acordou com o trem vindo e pulou pro lado errado.

Eu vim pro Rio de Janeiro, já de olho neste serviço, pois um parente encarregado de outra firma tinha vindo e disse que seria um bom serviço e bom salário. E os cariocas não queriam serviço pesado, logo pediam para sair, e alguns ficavam fumando maconha por lá. Nós viemos oito pessoas de ônibus, lá de Minas.

Lembro de ter trabalhado em varias janelas, 90, 100, 110 e no Boiúna, na Estrada Pau da Fome, Cafundá (Jacarepaguá), tinha uma pedreira abandonada, e lembro que certa vez na época da ditadura, o exercito entrou no meio da noite dentro da mata, e cercou uma casa de dois andares ele levou muita gente presa, a gente não sabia o que estava acontecendo mas diziam que era tudo comunista...
Eu tinha uma casa bonitinha toda montadinha lá no Catonho, e fui expulso dela e
perdi até os moveis e tudo, tive muito problema na justiça, isso me marcou muito. E Na obra eu não morri por sorte, deu um molejo (a terra tremeu) e os eucaliptos (madeiras), que sustentavam o teto, tudo caiu por cima da carregadeira que eu estava trabalhando, e era muita terra, muita mesmo, ai eu corri pra debaixo da maquina, e o engenheiro que estava por perto, me ajudou a sair..tinha que ter muita coragem para trabalhar ali.

Consta na carteira que o Sr. Valtinho Smith foi contratado como servente no dia 19 de abril de 1963, com uma remuneração inicial de CR$ 87,50 por hora e teve sua saída registrada no dia 13 de setembro de 1965.





Outros Personagens que vivenciaram o dia a dia da sua
construção.


Sr. Augusto (aposentado), que cuidava dos carros da construtora e dos engenheiros, nos disse que toda hora tinha de lavar os carros, pois a poeira era muito grande, e os Engenheiros todos "bacanas", queriam sempre ver os carros limpinhos, mas conta que também lavou muita caminhonete suja de sangue, devidos aos inúmeros acidentes um dos piores foi na Janela do Realengo, onde 16 operários perderam sua vida.

Sr. Geraldo (aposentado) - Foi motorista do Consórcio Construtor Guandu, que dirigia primeiramente caminhões e depois foi designado a transportar os Engenheiros, entre os canteiros de obras chamadas de "janelas" e seus lares. Ele nos conta que diversas vezes entrava de ré com caminhões tipo FNM, dentro do tunél apra retirar entulhos, pedras etc...! Isso nos dar a dimensão da boca do tunél. E que quase todos moravam na Zona Sul, e eram muitissimos simpaticos, e não comentavam nada sobre a construção ou algo parecido, eram muito reservados neste aspecto. Uma coisa eu afirmo, tenho muito orgulho de ter feito parte disso tudo e foi emocionante poder visitar isso depois de tantos anos.

Sr. Manoel Laurindo de Oliveira (atualmente é sapateiro no Jardim Novo) - Ele nos conta que seu tio é quem trabalhou na obra, e que na época ainda bem jovem, surgiu uma oportunidade de trabalhar numa cantina na janela do Realengo, onde eram vendido cafezinhos, lanches variados, cigarros, etc., e teve contato com diversos operários e ouvia suas historias diariamente. E ouvi muita coisa mesmo pois todo dia tinha alguém contando algo diferente. Era muito comum alguns operarios trabalharem pouco tempo, por não aguentarem o ritimo de trabalho, viu muitos sairem cegos de uma vista ou mesmo das duas, pois diversas dinamites davam problemas e explodiam depois. Além de alguns desmoranamentos que soterraram diversos homens.

Esta Adutora chega ao seu ponto final na Zona Sul.

Represa dos Macacos - perto da Vista Chinesa e da Mesa do Imperador: Onde termina a adutora...a montante da Represa dos Macacaos (ponto 7), desce pela sua margem direita até encontrar direção geográfica Norte-Sul que passa pela face oriental da Pedra do Camaleão (ponto 8), desce pela mesma para o Sul, cruza a Estrada Dona Castorina. (ver mapa)

link da reportagem do Jornal: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/posts/2010/03/22/obra-prima-da-engenharia-276699.asp

Nota do pesquisador: Temos de reconhecer e parabenizar os políticos corajosos, os engenheiros e técnicos da época, que planejaram e executaram esta maravilha que esta prevista para funcionar até o ano 2000. E principalmente não podemos esquecer dos mais que corajosos trabalhadores que mesmo sem muitas técnicas e equipamentos arcaicos (de ponta para a época), deram seu suor e infelizmente alguns, suas vidas para a realização desta monumental obra.
Em nossas pesquisas encontramos alguns deles que deram depoimentos emocionantes como verão a seguir. Mesmo não sendo todos de Realengo, eles trabalharam aqui e também foi aqui que comecei a pesquisar depois que encontrei um Realenguense que me disse ter trabalhado e depois uma coisa foi puxando a outra, pois desde criança sempre me fascinou olhar aquela ponte perto da Cachoeira do Barata (Realengo) e imaginar o que era, de onde vinha, pra onde ia, como construíram, agora consegui as respostas, e divido com todos que se interessarem.
Muito obrigado aos senhores, e senhoras que me receberam muito bem, tiveram paciência de contar e recontar, me indicaram outros amigos que também fizeram parte do quadro de trabalhadores. Esta pesquisa ainda não esta completa, irei gradativamente acrescentar outros detalhes assim que for descobrindo. Aos que souberem mais detalhes entrem em contato.


ass: Luiz Fortes