quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Brasão de Realengo.

Hoje apresentamos uma das criadoras do Emblema Heráldico


  Almira Damasceno e o Brasão de Realengo

Almira Alves Damasceno Nasceu em Bangu, mas veio ainda bebe para Realengo, e afirma que: Durante toda minha vida Realengo penetrou no meu sangue e dou a minha vida por este bairro, com ele eu cresci e progredi junto com minha família e meus entes queridos.

Tive a oportunidade de ser a pioneira em criar em toda a Zona Oeste a orientação educacional a partir do maternal com o Jardim Escola Disneylândia. Penso que devo ter contribuído na formação de muitos jovens. Tive também o privilégio de lecionar na Escola Estado de Israel, que foi o meu primeiro emprego público, depois fui Subdiretora da Escola Nicarágua, e a seguir fui técnica de áudio visual, para as escolas do município aqui do bairro e juntamente com a nossa chefe distrital na época Prof.ª Vanísia da Silva. Como se não bastasse vim também a ocupar durante oito meses o cargo de sub Prefeita e foi um período curto, mas muito profícuo, porque eu tinha uma luta diária em que eu empunhava uma caneta e um caderno para poder relacionar os problemas e saía às ruas para conferir e catalogar postes sem luz buracos nas ruas que eu solicitava o imediato conserto. E neste período contribui com a reforma da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Realengo que tinha a frente o Padre Luiz Carlos, que sabe da nossa luta para reurbanizar a Praça Padre Miguel onde fica a Igreja. Agradeço o apoio da comunidade, pois recebo até hoje agradecimentos pela minha dedicação.

 Fico muito satisfeita pelo interesse de vocês em preservarem a memória do bairro. E ao resgatarem este Brasão que poucos sabem da existência que e foi criado em conjunto com o Professor Carlos Wenceslau, Almira Damasceno e Marinês Seabra (desenhista).
Brasão de Realengo - Emblema Heráldico

Emblema Heráldico – Realengo – Descrição das cores: Azul - Lealdade (Manto de Nossa Senhora); Branco – Paz; Cinza – autoridade do Príncipe D. João; Elementos –Cabeça de Boi – Pastagem (vindos do Arquipélago dos Açores); Cana de Açúcar e Laranja – Principais produções do povoamento na época do Brasil Colônia, na Zona Oeste.
Este relato foi também publicado no Jornal Realengo em Pauta de Agosto de 2011. Na coluna Nossa Gente /Nossa História.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O BARBEIRO DA ESCOLA MILITAR DO REALENGO

Postamos hoje mais uma colaboração do Prof. Sinvaldo


  O bairro de Realengo tem suas histórias, crônicas e memórias. Tem também seus personagens pitorescos, monumentos significativos, homens e mulheres notáveis.

 



As memórias e crônicas da Escola Militar de Realengo aparecem entremeadas de situações jocosas e apelidos bizarros. Um deles, o “Lhufas”, que na verdade se chamava Aristides, era uma das figuras mais queridas daquela academia.
Encarregado do corte de cabelos de todo o corpo de cadetes, Aristides estava sempre pronto para resolver toda sorte de dificuldades. Era o verdadeiro quebra-galho de todas as horas, oferecendo, desde pequenos aviamentos emergenciais, como botões, agulhas, linhas, esparadrapo, sabonete, creme e lâminas de barbear, pasta dentifrícia, cadarços e pentes de bolso, até sua mochila repleta de guloseimas, disputadas a pau e pedra, pelos esfomeados cadetes, após longas marchas e cansativos exercícios hípicos.
Segundo Hilnor Canguçu Taulois de Mesquita, que estudou na Escola Militar de Realengo, e foi declarado aspirante a oficial da Arma de Infantaria em 22 de novembro de 1937, o “Lhufas”, que era baixinho, de tez parda, cabelos crespos já grisalhos e começando a rarear, foi a figura mais popular de toda a Escola.
Além de quebra-galho, de esbanjar simpatia e da cordialidade como tratava indistintamente a todos, o barbeiro Aristides era um piadista de verve acentuada. Sempre que chegava ao alojamento, os cadetes queriam logo ouvir o seu repertório inesgotável de anedotas inteligentes, picantes e saborosíssimas.
Por ser encarregado da barbearia dos cadetes, lhe era franqueada a presença nas manobras, acampamentos, marchas e exercícios de longa duração, realizados pela Escola Militar de Realengo. “Lá ia também o Lhufas, de culote e camisa de brim cáqui, acompanhando o Batalhão de Infantaria, marchando conosco, transportando enorme mochila...”
Hilnor de Mesquita, na obra intitulada “Memórias do Realengo”, organizada por João de Abreu Lins, recorda um episódio ocorrido nas manobras de Taubaté, em 1936.
“Estávamos acampados e não sei como, correu a notícia de que havia nas imediações, uma “venda” que oferecia uma “pinga” verdadeiramente deliciosa.
“Sair do estacionamento, não era possível. Mas lá estava o providencial “Lhufas”, a quem vários cadetes entregaram os cantis, para que os enchesse de “pinga”. Ao passar por uma porteira junto à qual papeavam alguns “frangos”, o prestativo barbeiro foi interpelado por um dos tenentes:
“Aonde vai, Lhufas, com todos esses cantis?”
“Seu tenente, os cadetes não me dão uma folga. Vou encher estes cantis numa bica de água fresquinha, que existe aqui perto...”
“Ao regressar o Aristides, lá continuavam os oficiais, no seu “P.P.” junto à porteira. Cada um deles pediu um cantil, dele tomando um gole... de deliciosa água fresca, que era o que realmente continham os cantis.
Subindo a encosta, o Lhufas – já perto do acampamento – esvaziou uma por uma as vasilhas. E, ao passar de novo pelo grupo de oficiais, lamuriou-se dizendo:
“Pelo jeito, não vou descansar tão cedo... Agora outros também querem água... Só vou folgar quando os cadetes recomeçarem o exercício; espero que seja logo, se os senhores me ajudarem”.
“Ao voltar, desta vez com os cantis cheios de “água que passarinho não bebe”, o Lhufas já não encontrou na porteira o grupo de desconfiados “frangos”, pois estes, da mesma forma que os cadetes, haviam atendido ao chamamento da corneta, que a todos estridentemente convocava para dar início aos trabalhos do dia...”
E assim, o fígaro da Escola Militar de Realengo, ia se tornando amigo de todos. A ponto de construir sua casa no bairro, com a ajuda mensal e espontânea de todos os cadetes do 3º ano, que contribuíram com 1 mil réis, abatidos do soldo na hora de receber o pagamento.
Hilnor, que, anos depois, voltaria à Escola Militar do Realengo já como oficial superior, reencontraria o barbeiro Aristides octogenário.
“Recordo-o, porém, como um homem bom e prestativo, inteligente e espirituoso, modesto... mas que saiba, no fundo de sua alma, ser grato para com aqueles que mostraram ser seus amigos”, concluiu Hilnor Canguçu de Mesquita.

Sinvaldo do Nascimento Souza
Historiador


terça-feira, 16 de março de 2010

Adutora Veiga Brito ou Túnel do Lacerda



Pesquisa realizada por diversos meses de 2009 à 2010, desta maravilhosa obra que fica escondida da população e mesmo quando aparece, poucos sabem que está em funcionamento ou para que se presta, mas que é comprovadamente de vital importancia para o dia a dia de muitos cariocas.
(no slide show a direita, tem algumas reproduções do Google, por onde ele percorre.)
Essa Adutora, é em sua maior parte subterranea, ou encravada em montanhas sendo visivél somente em Senador Camará (Viegas), no Realengo (Barata) e no Catonho. (fotos de Luiz Fortes)



















História do Abastecimento do RJ
No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Em 1957, foi criada a superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN) e, em 1961, ocorreu um caos no abastecimento da cidade a partir de uma ocorrência na Elevatória de Alto Recalque da Antiga Adutora do Guandu. Neste mesmo ano, o Departamento de Águas foi incorporado a SURSAN e a administração pública teve de recorrer a um empréstimo externo para realizar obras, através de um contrato de, aproximadamente, 90 milhões de dólares com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Várias obras de construção de reservatórios foram feitas com este recurso e criou-se a Companhia Estadual de Águas da Guanabara (CEDAG). O Governo do Estado concedeu a CEDAG, a partir de 1966, o direito de cobrar as contas de água. A CEDAG remodelou seus reservatórios, substituiu tubulações, montou seu cadastro próprio de consumidores, equipou-se com computadores da mais alta tecnologia para aquele momento e iniciou a implantação da telemetria em seu controle do sistema adutor. Até o ano de 1975, a CEDAE conseguiu superar seus problemas, ocupando o lugar da Empresa de Saneamento do Brasil mais avançada.


O Planejamento

Durante o mandato do prefeito Hildebrando de Góes, o engenheiro José Franco Henriques, Diretor do Departamento de Águas, sugeriu a construção de uma terceira adutora de grande diâmetro, com capacidade para 225 milhões de litros por dia, a Guandu-Leblon, utilizando as águas do rio Guandu, já previstas pelo engenheiro Henrique de Novaes. No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu, já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade de 1,2 milhões de litros por dia. O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e, por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão, considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Sistema Guandu
Esse sistema utiliza uma captação direta das águas do rio Guandu, no município de Nova Iguaçu situada a aproximadamente 50 Km a oeste da cidade do Rio. Iniciada nos anos 50, a realização das obras se estabeleceu ao longo dos anos subseqüentes com, inicialmente, a implantação de uma estação de tratamento e a construção da adutora “Henrique de Novaes” (1.750mm de diâmetro), seguindo-se pelo “Túnel-canal do Guandu” (concluído em 1966) a fim de alimentar a parte sul da cidade em grande desenvolvimento. Esse túnel, atualmente chamado de adutora Veiga Brito, aduz água até o bairro do Jardim Botânico, onde termina no reservatório dos Macacos e, ao longo de seu trajeto, interliga-se aos outros dois sistemas através de sub-adutoras.

Sub-sistema Lameirão - o restante da água (50%) é aduzido para a elevatória do Lameirão através de um túnel subterrâneo com 11 Km de extensão.
Na elevatória do Lameirão, com 7 grupos motos-bombas com potências de 4.500Hp e 9.000Hp a água é bombeada 110m de altura para alcançar um outro nível com 34Km de extensão.
Ao longo do trajeto deste nível, várias adutoras estão conectadas para fazer a distribuição para os diversos bairros do Rio de Janeiro.
A Estação de Tratamento dispõe também de um laboratório de controle de qualidade que realiza análises físico-químicas e bacteriológicas periodi¬camente controlando cada fase do processo e garantindo assim os padrões de potabilidade exi¬gidos pelas Organizações de Saúde.

Encontrei estas informações neste endereço, mas atualmente ele está inativo
fonte : http://aguasdeprata.com.br/aguasdeprata/?page_id=14



O Ex- Governador Carlos Lacerda Visitando as obras dentro do Túnel.



-Reprodução do Site da Cedae. *observem a espessura do concreto.



obs: Os Ex funcionários contam que entrava um caminhão FNM dentro deles.

Fonte http://www.cedae.com.br/ (clicar em "mapa do site" - Sistema Lameirão)



Por onde ele passa deixa historias – Jacarepaguá :

Em 1954, nas ruas Luís Beltrão, Baronesa, Marangá e Capitão Menezes, realizaram-se escavações para colocações de enormes manilhas, com diâmetro de 1 metro e 75 centímetros, que foi parte da obra da Adutora Henrique Novaes, cujos percurso total é do Rio Guandu até a represa dos Macacos, onde abastece de água toda a Zona Sul. A adutora, na sua passagem, também fornece água para outras localidades, inclusive à região da Praça Seca, através do reservatório do Morro da Reunião, no Tanque. Quando a escavação da gigantesca vala chegou na esquina da Rua Cândido Benício, o trânsito foi desviado. Mas os usuários dos bondes tinha que fazer baldeação. Os bondes vinham de Cascadura até em frente ao antigo Chopão. Ali os passageiros saltavam e pegavam outro bonde estacionado no meio da praça, a fim de continuarem a viagem à Freguesia ou Taquara. Houve muitos acidentes durante a construção da adutora na Praça Seca. O mais grave foi a morte de um operário, que trabalhava no fundo do valão na Rua Baronesa, em frente ao terreno do General Lauro Dias Barreto, quando houve um desmoronamento de terra em cima dele. A propriedade do General Barreto era onde existe os imóveis da Rua Baronesa números 716, 729, 730 (a vila) e 750 (a Academia Corpus). O terreno era bem grande, com um casarão no centro. Tinha duas frentes: na Rua Baronesa e na Rua Barão.
Há outra adutora do Guandu na região, que percorre totalmente a Rua Albano. Foi realizada no Governo de Carlos Lacerda e inaugurada em 1965 pelo então presidente do Departamento de Águas e Esgotos (atual CEDAE) Veiga Brito. Ao contrário da que passa pela Rua Baronesa, a adutora da Rua Albano foi escavada em túnel, cujas dimensões médias são de quatro metros de largura por três de altura. Ela também abastece a Zona Sul e tem diversas interligações no trajeto. Uma delas é na Rua Urucuia, com saída para a Henrique Novaes (Rua Baronesa), para o Juramento e para a Barra da Tijuca. No final da Rua Albano, desvia em direção à Rua Barão, onde atravessa o Morro Inácio Dias. No local, a partir de 1963, surgiram os primeiros barracos da atual Favela São José, levantados pelos operários durante a construção do túnel.


Ex-funcionários do Consórcio Construtor Guandu, relembram o dia a dia no canteiro de obras com saudades, emoção e muito orgulho..


Depoimento de Antonio Medeiros do Prado Natural de Minas Gerais.
-Que trabalhou na construção da Adutora do Guandu na parte de Senador Camará (Viegas) e no Realengo.


Cheguei ao Rio vindo de Minas Gerais no ano de 1965, tinha 22 anos e pouco, e comecei a trabalhar na obra desta adutora, no dia 16 de Janeiro do mesmo ano, e trabalhei quase um ano e estava ainda na perfuração, eu fui trabalhar na cabeceira me mandaram logo para a furação. (ajudante de perfuração). Era uma zoada (barulho) tão grande que eu pensava de não aguentar mas eu precisava trabalhar e fui trabalhar de ajudante direto na perfuração, dai eu fui ficando mais antigo e pedi para ser transferido pra turma da concretagem e era menos barulho e ai eu trabalhei até o fim de novembro de 1965, ficando quase 11 meses e no dia que eu sai foram mais de 50 despedidos e eram sempre assim de 50 em 50. Já tinham perfurado tudo, já estava livre e não tinha mais calor, já estava bom de trabalhar com tudo concretado , só foi ficando a turma da limpeza e não tinha mais perigo. Mas no inicio foi muito perigoso e eu não morri foi de sorte. Tinha um boledo do escoramento de madeira ai aquele escoramento quebrava, e descia era pedra, um dia eu quase que morri com uma pedra muito grande que caiu quase em cima de mim, começou a pingar eu sai correndo e caiu. Eu trabalhava uma semana de dia e outra a noite. Tinha turno direto era dia e noite , e tinha um placa bem grande que dizia " A Janela não pode Parar", saia uma turma entrava outra, mais ou menos 1.500 homens se revezando só nesta janela, e isso aqui (apontando para o terreno no Realengo) era só alojamento para tudo que era canto, era muita gente mesmo. A turma do dia trabalhava de 7 às 7, e as janelas como eram chamadas as bocas do túnel (adutora) 90 no Viegas, 110 no Realengo, que foi onde eu trabalhei a maior parte do tempo, eu comecei na 90, e fui transferido para a 110, trabalhei na "montante" e na "juzante", eu não sei explicar por que tinha este nome?, mas era como eles a chamavam e nos direcionavam para trabalhar, vai para a montante da 110, ou para a juzante da 110 que eram os lados definidos. Mas da maneira que ia furando a rocha, ia passando a turma para a outra direção quem estava na montante ia para a jusante, até ir encontrando a outra janela 110, 120, 130, 140. isso vai muito longe, além do Catonho. Nós nos apresentávamos no escritório central na rua da Maravilha em Bangu e dali distribuía para as janelas, lembro que tinha os caminhões que levavam os trabalhadores, da seguinte forma, janela 90, caminhão tal, janela 120, caminhão tal e assim por diante, eu acho que a ultima era 240, que fica pra lá depois de Jacarepaguá.Tinha colegas meus que trabalhavam pesado lá. Ali na rua Maravilha era onde que ficavam os caminhões que iam distribuindo os operários. Sr. Antonio exibe orgulhoso sua carteira e trabalho.


Esse Túnel vem do Guandu e passa no Lameirão (Santíssimo), e vai atravessando essas montanhas.

A firma chamava-se: "Consorcio Construtor Guandu”, e parece que a outra firma era Serv. Engenharia, e minha carteira é assinada pelo consorcio, e eu ganhava CR$ 175,00 por hora e o salário era CR$ 42.000,00, tenho a carteira guardada, que serviu para me aposentar ainda para comprovar. Tinha muito risco de vida, dava muito acidente, morria muita gente, pedra caia, boledo (espécie de massa com barro e pedras sem muita resistência) caia e matava, bonde matava , era explosão né, e ali em Realengo mesmo teve uma explosão, antes de eu entrar, eu comecei la no dia 16 de Janeiro eu comecei aqui e logo fui pra lá, e as pessoas falavam dessa explosão. E ficava gente cega, com perna quebrada, tinha um bonde que levava a gente para dentro do túnel, este bonde ajudava a trazer a sujeira e fazia toda a limpeza. Aquelas borbonetas era a linha de trem dentro do túnel, pois conforme ia furando íamos colocando os dormentes e os trilhos era o chamado trenzinho, e lá dentro tinha as escavadeiras para poder encher o trenzinho e as vezes ele desencarrilhava, as vezes o chefe queria que você entrasse no bonde eu não entrava na hora do almoço por que aconteceu o bonde se perdeu uma vez, eu não entrava e eu não andava naquele bonde era longe pra burro, pois ele trazia gente com perna quebrada todo machucada era longe e eu preferia andar um quilometro para chegar na cabeceira mais rápido, pois eram vários quilômetros andando, e tem uma coisa quando faltava luz ficava escuro mais escuro e não se enxergava nada. Colocavam as dinamites e a fiação para acionar eletricamente os explosivos, e o fio ia lá fora na boca do túnel, a gente saia de dentro do túnel e ligavam a chave que detonava as dinamites. E tinha uma ventoinha (tipo de exaustor) para puxar a poeira e tinha um cano que levava o ar comprimido que era para tocar as bombas, tocar os martelos de ar comprimido, tipo britadeiras. E subia uma fumaceira uma poeirada, que deixava as lâmpadas toda embaçada era difícil trabalhar naquele troço, mas como pagavam muito bem era muito bom, nem se compara com esse salário de hoje. Acabava de comer e voltava direto, já comia bem perto na boca do túnel e voltava um turno de 7 as 7, e eu não dormia no alojamento preferia voltar pra casa, o caminhão levava a gente para a rua maravilha que deixava em casa novamente. Eu morava na época em Campo Grande eu não dormia no alojamento pois havia muito roubo, e muita sujeira pois trabalhava só homem, O caminhão levava a gente pra Campo Grande, encerrava o expediente tomávamos banho rapidinho e em mia hora já estávamos voltando pra casa. Desde que sai de lá....nunca mais voltei lá, estou tendo a oportunidade de voltara aqui hoje. mais de 40 anos.

Esse túnel é muito longo deve ter pra mais de 50 quilômetros, eu tinha um colega chamado Seu Agenor que trabalhou na janela 140. Tinha turma especifica para cada posição, ele é circular e tinha a turma da abobada, a a turma das paredes e a turma do piso, conforme ia fazendo o piso ia tirando o trilho e já podia entra os caminhões.

Olha só a cota d água (altura onde era previsto passar água) onde era marcado para passar a água, ali era 1,80 m de altura, então como tinha coisa ainda pra cima, era mais de 2,50m mais ou menos.

Foi feito um trançado de vergalhão redondo, tudo ferragens muito forte foi um troço muito bem reforçado, é um serviço muito bem feito, depois da concretagem veio com a pintura ai foi a época que eu sai, já tava na pintura fresquinho bom de trabalhar lá dentro, aquele vento indo de um lado para outro e eu tive que sair, o contador chama fulano, fulano, fulano uns 50, rua da maravilha (o escritório em Bangu). Ai ia recebendo o dinheiro, e disseram pra gente que a firma tava falindo, e naquele tempo eu não entendia nada e disseram que não teríamos direito a indenização pois não existia fundo de garantia nesta época e falaram que a firma tava falindo eles só pagaram o salário do mês, as ferias e 13° e eu não recebi mais nada a não ser isso.

Os Operários

A maioria vinha tudo de fora do Norte, Nordeste, Minas Gerais capixaba, muito capixaba mineiro, lá bem do interior e daqui do Rio ninguém queria não. No dia que eu entrei, nós entramos uma turma grande quando eles entraram com a pá voltavam e diziam eu "vou embora agora", entrava outro e dizia a mesma coisa " vou me embora agora" . Lá na rua Maravilha, tinha uma fila enorme, pra poder se inscrever e outra enorme para indenizar. Qual essa fila? Essa é para fichar, e essa outra? Essa é para receber os direitos, todo dia que você fosse era um filão enorme. No dia que eu me inscrevi eu entrei na fila uma oito ou nove da manha, quando eu fui ser fichado era de tardezinha. Mas já ia trabalhar com a carteira assinada na mão, "amanhã aqui tal hora, para pegar o caminhão e ir para a janela que vai trabalhar", ou seja, você vai pra janela, tal. Era assim que funcionava e só dava gente de fora, o pessoal daqui mesmo não queria, queria só pra trabalhar no escritório, sala de maquinas não queria o brabo, não ia pra guerra não, lá não era mole não. Eu vou te contar eu só fiquei por que eu vim pra e qui não tinha dinheiro pra mim voltar, o meu dinheiro não dava pra voltar pra Minas. Mas eu vim pra trabalhar nem pensava que ia ter um serviço mole e eu era do interior já acostumado com serviço pesado né. Mas valeu a pena, graças a Deus eu não morri, pois morreu muita gente nosso serviço era muito perigoso entrava 100, 200 e ficava somente uns 20 ou 30 que tinha coragem de encarar o trabalho. Quando chegamos lá pela primeira era uma barulheira danada, o barulho de bomba d´agua puxando , bomba a ar que faz uma zoada enorme e agente tinha que conversar por sinais , que hora são? apontava-se para o pulso, tá na hora do rango, fazendo sinal com os dedos para dentro da boca, pois não dava para ouvir nada, fulano ta morrendo, o que tava acontecendo, se tava caindo qualquer coisa, tinha que ir lá e balançar o cara, falar nem adiantava, o barulho não dava pra ouvir, nunca batíamos papo durante o trabalho, só na hora da comida podíamos conversar tínhamos que usar só sinais. O almoço era 11 horas, e acabava de almoçar o encarregado tava logo em cima.

E era serviço pesado pesado pra caramba e perigoso, mas eu me sentia um herói. diante de tanta gente que eu vi se acidentar do meu lado, nesta época eu tava já na parte do concreto. Tínhamos de encher aquela padiola, areia de ponta de pedra na betoneira para fazer concreto. Então um bonde vinha e quando o bonde vinha e invés do cara passar pro espaço maior ele correu pro lado errado, ai o bonde espremeu ele contra a parede e morreu ali mesmo, o coração dele chegou até a sair...ficou com a boca aberta, acabou com o cara! Eu tava trabalhando na turma da noite, a família só ficou sabendo porque nós éramos colega de trabalho, e eu sempre fui comunicativo e perguntava onde é que você mora?, " Ah eu moro lá em Senador Camará" . lá naquela rua fulano de tal...eu era colega dele, colega assim de trabalho, sabia até o nome dele e tal, e nas horas vagas batia papo, e quando ele morreu...rapaz eu fiquei tão espantado, que saber uma coisa eu vou é me embora, vou ficar aqui não. Ai o cara falou assim: " Alguém conhece ele?". O Encarregado e eu falei mais ou menos devo conhecer a família dele. Ai eu vim de madrugada, sai de madrugada cedinho pra Camara, entrei na rua , não sei se é rua Tamburiu ai era bem cedinho e vi um colega dele vindo, ai eu falei o João morreu lá no tunel, ai o sujeito foi avisar o pessoal dele lá. Eu nem fui no enterro, pois fiquei tão traumatizado, fiquei dois dias sem trabalhar, ai os colegas disseram que nada Antonio, "isso acontece sempre ai, tem acidente sempre", realmente quebrar perna machucar eu vi muito acontecia sempre mas morrer mesmo eu só vi um. Eu sei que ná época do fogo (explosão) lá no Realengo, quando eles estavam perfurando morreram 17 de uma levada só. Isso eu ouvi falar pois foi antes de eu ser contratado ai eu perguntei :"Voce não ta com medo não?" não isso faz três meses já. "Acontece sempre?" Não aconteceu por descuido e tal! Ai você passava pelos escoramentos de eucalipto, chegava tá envergado assim, a terra cedendo, pedrinhas e água pingando do teto, e a gente perguntando : E isso ai não cai não? " As Vezes acontece" ,parecia uma mina de carvão dessas que a gente via no cinema. Depois fomos fazendo a Mas depois que ia fazendo a cambota de ferro e fazendo o concreto, foi diminuindo o perigo, tava já escorado, mas antes o escoramento provisório de madeira aquilo é que era perigoso, ia apodrecendo. Lembro do Engenheiro que eu trabalhei com ele Doutor Mario, na época eu tinha 23 ele devia ter os seus uns 35 anos, e trabalhei com um chefe chamado Murilo, muito bacana também, tinha hora que dava sono lá dentro né um lugar escuro ninguém falava com ninguém, e a jornada de 7 as 7 era puxada e cansativa, e agente catava um cantinho e tirava um cochilo, ai ele vinha acordava e dizia "vai trabalhar, não fica ai não" , não brigava não, era bem consciente e bacana, ele sabia que era horrível, tinha que ter coragem pra encarar aquilo, eu encarei como muitos encararam. Até porque trabalhar do lado de fora era sopa, quem trabalhava lá fora era profissional e ganhava muito bem, eu não era profissional na época eu entrei como ajudante. E o barulho era tanto, parecia que ia estourar os miolos, que eu pedi pra vim mais pra trás pra ficar mais longe da perfuração.
Os caminhões entravam e o que botava as pedras era umas escavadeiras e depois a turma da limpeza completava, com as pedras pequenas e terras, e era uma poeirada danada uma fumaceira. Tinha às vezes um cheiro de gás que sai da terra, e as pessoas iam direto pro hospital intoxicadas. Foi feito um túnel mais largo para que fosse possível trabalhar melhor e eu acho que com o tempo, a terra deve ter completado este espaço, com escombros naturais. e a armação era bem grossa, ficou uma parede bastante reforçada, uma obra de qualidade, tanto que até hoje ela resiste bem ai, e era um concreto especial, levava sika e era levado lá pra dentro a base de ar comprimido, uma maquina injetora levava o concreto pra dentro e ia socando tudo, e nós íamos pra outro trecho e quando eu tava saindo, vi chegando a turma da pintura aplicando uma tinta protetora de cor preta. Eu tenho muito orgulho de ter participado desta obra, cheguei novo e encarei o desafio, uma vez fiquei muito doente nós trabalhávamos sem camisa pois dava brotoeja por causa do calor, e eu todo suado cheguei na boca do túnel
vi um clarão e levei uma rajada de vento nos peito que eu perdi a voz na hora. Fui pro caminhão já muito mal, roquinho peguei o caminhão e chegando no meu barraco, lembrei do que minha mãe me falava que cravo era muito bom pra isso, e eu passei numa vendinha chovendo todo molhava
e comprei alguns e soquei e fiz um chá e já no outro dia amanheci falando mas fiquei de molho em casa, dois dias sem trabalhar, ai quando eu voltei o encarregado perguntou se eu tinha ido ao medico, eu disse que não, mas ele disse que era bom ir, então fui até a SAMU que era um posto de saúde em Realengo.
Quando a janelas 90 e a 110 se encontraram fizeram um grande churrasco e teve até o presença do Governador Carlos Lacerda, fez até um discurso e toda vez que uma se encontrava com a outra, tinha um churrasco.
E era muita fartura muito churrasco, matavam bois e mais bois, eram pedaços enormes de três quilos mais ou menos, ai comiamos a parte que tava bem assada e guardávamos a parte interna que não tava muito boa embrulhávamos e levávamos para casa o pedaço e dava pruns três dias e distribuíam muito chope, mas muito chope mesmo .
E eu afirmo que tinha a janela 100, que ficava em Bangu e o meu primo Oswaldo trabalhava nela, a 90 (Viegas), encontrava com a 100 (Bangu) que encontrava com 110 (Realengo), 120 Catonho , 130 Boiúna, 140 Cafúnda e assim por diante.

Eu tinha um colega chamado Genival irmão do Zé Alves que trabalhou no escritório da rua Maraviha, acho que ele esta morando lá pros lados de Campo Grande. Ele poderia dar boas informações.
=================================================== Depoimento de Felix Daniel Zampieiri
natural do Espirito Santo

Funcionário do Consórcio Construtor Guandu, eu trabalhei mais especificamente só dentro das salas de maquinas eu era responsável por um gerador de luz elétrica, dois compressores GM, e um Atilas Coop, minha função era operar as maquinas que fabricava aquele o ar comprimido que ia pelo tubo. minha profissão era compressorista, como consta na minha carteira. data de admissão 21/01/1964, CR$ 87,50 por hora 18 /12 1965 ficando 1 ano e 11 meses na firma, e a função do ar era para na hora da detonação dentro do das bocas da cabeceira (túnel) jogar o ar e tinha do lado de fora dois exaustores que puxavam o ar e toda a poeirada, na montante e na juzante as duas funcionavam juntas, uma detonava primeiro e jogavam para ela, e mais tarde a outra ai um encarregdo vinha e avisava, para virar para a outra boca, e este ar comprimido servia também para os marteletes, furar as pedras, para se colocar as dinamites e também se colocar escoramentos de pedra madeira, era
escorado com uns parafusos, e as vezes caiam pedras nos funcionários. Para retirarem dos entulhos eles faziam um trilho deste de trem, tinha uma locomotivazinha que puxava umas caçambas, que o operador puxava e uns caminhões eram carregados com estes entulhos. Eu servia no quartel aqui em Deodoro, e um fiz o curso de cabo fiquei lá um tempo seis meses depois eu dei baixa e um conterrâneo que já trabalhava aqui falou comigo e eu disse que queira entrar nela, ele me disse vai lá que eles tava dando vaga.





Eu tinha desejo de ser mecânico e fiquei como compressorista, eu qeria ter entrado como contador, pois trabalhava no almoxarifado, mas não deu pra mim. E era engraçado, funcionava tudo a diesel, ai vinha um carro pipa e despejava num tanque enorme o óleo diesel, que azia a geração dos motores e o serviço era noturno e diurno, e tinha dois a noite e dois pela manha, e eu morava aqui perto. Tinha gente de tudo que é lado do Brasil. As explosões eram detonadas eletricamente, e acionava aqui fora e era muito forte o barulho. Acontecia de algumas dinamites que não explodiam e vinha o desentupidor de minas, era perigoso.
Eu tinha uns vinte anos e depois falaram de levar a gente pra Amazônia, levaram nada, eu fiquei até acabar isso, e a minha indenização deram faltando, pois a firma foi dada como que tinha ido a falência, e ainda fui ferrado. Mas mesmo assim eu tenho orgulho de ter contribuído com esta grande obra, foi um marco do Governo Carlos Lacerda disseram que ele visitou mas deve ter sido de dia eu nunca vi ele não. Eu trabalhei só na janela 90 na montante e juzante, foi ali que eu vi dinheiro, eu mandava dinheiro pro meu pai na roça no Espírito Santo eu guardei um dinheiro bom, eu sei que na indenização nos fomos lá pro ministério do trabalho e teve uma conversação, o doutor lá com a gente e disse se vocês não sabem fiquem sabendo que havendo termino de obra, concordata ou falência a empresa só paga 70%, mas vocês podem botar na justiça também, ai conforme meu amigo Fernando que morava ai, era chefe do Encanador, o dinheiro é mais prudente o dele foi CR$ 802,00 e o meu CR$ 345,00, ele foi o primeiro eu fui o segundo ele assinou eu tava atrás e assinei também, teve um o paraibinha, que não quis assinar e ia botar na justiça. Sei que no dia do Acidente lá no Realengo, não teve trabalho aqui, só ouvimos falar que muita gente morreu. Aqui na janela 90 não teve acidente grave.
Uma coisa que todos gostavam, era que nunca faltava ou atrasava o pagamento. Tinha umas vendinhas que o pessoal podia almoçar, ou lanchar alguma coisa. Eu almoçava de marmita, morava aqui perto me estabeleci ali na casa de um nordestino que tinha uma família grande, e pagava um garoto, que levava ela quentinha lá em cima na hora certa pra mim.

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Depoimento de Valtinho Smith
Natural de Cachoeira de Santa Leopoldina - Espírito Santo



Comecei a trabalhar na construção da adutora com 23 anos, na função de operador de locomotiva e segunda função operador de carregadeira, as locomotivas eram uma Toyota modificada para locomotiva, tinham mais ou menos dois metros e puxavam uns vagões de quatro metros que buscavam só pedras, e eram quatro vagões de uma vez que entravam de ré e saiam de frente. Ai eu trazia pra fora do túnel outros funcionários soltavam os vagões e despejavam num barranco que tinha mais ou menos seis metros de altura, às vezes quando as pedras eram muito grandes eles amarravam umas correntes na linha para que os vagões não caíssem no barranco. A locomotiva era liberada e eu depois eu ia para outro canto e pegava o desvio (os técnicos abriam a linha) e outros funcionários engatavam outros vagões vazios. Lembro que eu não tinha lugar certo pra trabalhar, trabalhei nas janelas do Pau da Fome, depois fui pro Catonho, nesta eu trabalhei mais um tempo, mas se precisava de um operador aqui no Viegas ou no Realengo, e nós íamos e tínhamos de voltar pra lá novamente, pois só tinha dois funcionários era um por turno, quando fazia uma explosão encaminhavam a gente, independente do horário de trabalho eles chamavam a gente em casa, pois era um serviço especializado, pegava as dezoito da noite as seis da manhã uma semana e na outra semana invertia, eu trabalhei lá três anos (eu e meu irmão já falecido), até acabar ai o encarregado chamado Felipe, chegou pra mim e disse eu vou te dispensar, pois quando acabar você vai perder o aviso prévio, ele foi legal comigo.

Uma lembrança triste foi quando ocorreu um acidente e um funcionário acabou morrendo, eu tava emprestado na Janela do Realengo e como de costume o trem ia entrando no túnel sempre de ré, e não sei o que houve pois tava de costas e era muito escuro e os vagões tiravam minha visão, não sei como ocorreu um operário morreu esmagado fui levado pra delegacia para prestar esclarecimentos, e depois fui liberado era na 24ª DP. em Bangu. (não existia delegacia em Realengo). Ficou provado que eu não tive intenção e que ele não respeitou o sinal de liberar o trilho, mas mesmo assim são coisas que marcam, fiquei muito tempo não dormindo direito, acordando no meio da noite. Mas eu e Deus sabemos que não tive culpa. Tinha muitos acidentes transportei nos vagões muita gente machucada.
Obs: sobre este acidente -Em conversas nos intervalos os operários ouviram que este funcionário estava dormindo e acordou com o trem vindo e pulou pro lado errado.

Eu vim pro Rio de Janeiro, já de olho neste serviço, pois um parente encarregado de outra firma tinha vindo e disse que seria um bom serviço e bom salário. E os cariocas não queriam serviço pesado, logo pediam para sair, e alguns ficavam fumando maconha por lá. Nós viemos oito pessoas de ônibus, lá de Minas.

Lembro de ter trabalhado em varias janelas, 90, 100, 110 e no Boiúna, na Estrada Pau da Fome, Cafundá (Jacarepaguá), tinha uma pedreira abandonada, e lembro que certa vez na época da ditadura, o exercito entrou no meio da noite dentro da mata, e cercou uma casa de dois andares ele levou muita gente presa, a gente não sabia o que estava acontecendo mas diziam que era tudo comunista...
Eu tinha uma casa bonitinha toda montadinha lá no Catonho, e fui expulso dela e
perdi até os moveis e tudo, tive muito problema na justiça, isso me marcou muito. E Na obra eu não morri por sorte, deu um molejo (a terra tremeu) e os eucaliptos (madeiras), que sustentavam o teto, tudo caiu por cima da carregadeira que eu estava trabalhando, e era muita terra, muita mesmo, ai eu corri pra debaixo da maquina, e o engenheiro que estava por perto, me ajudou a sair..tinha que ter muita coragem para trabalhar ali.

Consta na carteira que o Sr. Valtinho Smith foi contratado como servente no dia 19 de abril de 1963, com uma remuneração inicial de CR$ 87,50 por hora e teve sua saída registrada no dia 13 de setembro de 1965.





Outros Personagens que vivenciaram o dia a dia da sua
construção.


Sr. Augusto (aposentado), que cuidava dos carros da construtora e dos engenheiros, nos disse que toda hora tinha de lavar os carros, pois a poeira era muito grande, e os Engenheiros todos "bacanas", queriam sempre ver os carros limpinhos, mas conta que também lavou muita caminhonete suja de sangue, devidos aos inúmeros acidentes um dos piores foi na Janela do Realengo, onde 16 operários perderam sua vida.

Sr. Geraldo (aposentado) - Foi motorista do Consórcio Construtor Guandu, que dirigia primeiramente caminhões e depois foi designado a transportar os Engenheiros, entre os canteiros de obras chamadas de "janelas" e seus lares. Ele nos conta que diversas vezes entrava de ré com caminhões tipo FNM, dentro do tunél apra retirar entulhos, pedras etc...! Isso nos dar a dimensão da boca do tunél. E que quase todos moravam na Zona Sul, e eram muitissimos simpaticos, e não comentavam nada sobre a construção ou algo parecido, eram muito reservados neste aspecto. Uma coisa eu afirmo, tenho muito orgulho de ter feito parte disso tudo e foi emocionante poder visitar isso depois de tantos anos.

Sr. Manoel Laurindo de Oliveira (atualmente é sapateiro no Jardim Novo) - Ele nos conta que seu tio é quem trabalhou na obra, e que na época ainda bem jovem, surgiu uma oportunidade de trabalhar numa cantina na janela do Realengo, onde eram vendido cafezinhos, lanches variados, cigarros, etc., e teve contato com diversos operários e ouvia suas historias diariamente. E ouvi muita coisa mesmo pois todo dia tinha alguém contando algo diferente. Era muito comum alguns operarios trabalharem pouco tempo, por não aguentarem o ritimo de trabalho, viu muitos sairem cegos de uma vista ou mesmo das duas, pois diversas dinamites davam problemas e explodiam depois. Além de alguns desmoranamentos que soterraram diversos homens.

Esta Adutora chega ao seu ponto final na Zona Sul.

Represa dos Macacos - perto da Vista Chinesa e da Mesa do Imperador: Onde termina a adutora...a montante da Represa dos Macacaos (ponto 7), desce pela sua margem direita até encontrar direção geográfica Norte-Sul que passa pela face oriental da Pedra do Camaleão (ponto 8), desce pela mesma para o Sul, cruza a Estrada Dona Castorina. (ver mapa)

link da reportagem do Jornal: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/posts/2010/03/22/obra-prima-da-engenharia-276699.asp

Nota do pesquisador: Temos de reconhecer e parabenizar os políticos corajosos, os engenheiros e técnicos da época, que planejaram e executaram esta maravilha que esta prevista para funcionar até o ano 2000. E principalmente não podemos esquecer dos mais que corajosos trabalhadores que mesmo sem muitas técnicas e equipamentos arcaicos (de ponta para a época), deram seu suor e infelizmente alguns, suas vidas para a realização desta monumental obra.
Em nossas pesquisas encontramos alguns deles que deram depoimentos emocionantes como verão a seguir. Mesmo não sendo todos de Realengo, eles trabalharam aqui e também foi aqui que comecei a pesquisar depois que encontrei um Realenguense que me disse ter trabalhado e depois uma coisa foi puxando a outra, pois desde criança sempre me fascinou olhar aquela ponte perto da Cachoeira do Barata (Realengo) e imaginar o que era, de onde vinha, pra onde ia, como construíram, agora consegui as respostas, e divido com todos que se interessarem.
Muito obrigado aos senhores, e senhoras que me receberam muito bem, tiveram paciência de contar e recontar, me indicaram outros amigos que também fizeram parte do quadro de trabalhadores. Esta pesquisa ainda não esta completa, irei gradativamente acrescentar outros detalhes assim que for descobrindo. Aos que souberem mais detalhes entrem em contato.


ass: Luiz Fortes

domingo, 15 de novembro de 2009

deu em outro Blog...

Você sabe o que significa REALENGO? Qual a origem desse estranho nome?

Dom Pedro I costumava ir para a fazenda de Santa Cruz pela estrada Real de Santa Cruz, que passava pelo Real Engenho, onde muitas vezes pernoitou.

"Engenho" era uma palavra muito grande. Assim a abreviatura usada era "Engo". E ficou "Real Engo" nas placas de orientação utilizadas na época.

Mas essa teoria é contestada por Brasil Gerson em "História das Ruas do Rio".

Na página 405 da 5ª edição deste utilíssimo livro encontramos:

"Não são poucos (e alguns de alta categoria intelectual) os que pretendem ver em Realengo um diminutivo, uma abreviação de Real Engenho. Porém, o manuseio dos documentos antigos, dos pedidos de sesmarias, principalmente, nos convencerá de que essa é uma teoria sem fundamento nesse particular, tal a insistência com que neles se fala de terrenos e campos realengos, destinados à serventia pública, e em maior número para a pastagem do gado por parte dos que não possuíam para isso terras próprias, e esses campos eram tanto onde ficaria sendo o Realengo dos nossos dias como perto da Igreja de Irajá, onde já os antepassados do Juca Lobo da Penha e outros criadores haviam protestado por causa de uma sesmaria dada a Manuel da Costa Figueiredo em terras que não podiam deixar de ser realengas..."

Consultando o Aurélio:

REALENGO - Bras. RS Sem dono; público. Em desordem; entregue às moscas; abandonado: Saiu, deixando o escritório ao realengo. [Do lat. vulg. *regalengu.]


Aquele Abraço

J. Carino

Atravesso o Rio como numa aventura. Deixo para trás uma cidade emparedada e me lanço em direção ao subúrbio. A Avenida Brasil me cobra uma pressa que eu não teria; me obriga a navegar rápido num mar de automóveis; não me deixa olhar com vagar essa estranha transição entre dois mundos que convivem na mesma cidade.

Aos poucos, a luz muda, a paisagem se transforma. Os prédios aglomerados cedem lugar às casas, essas singularidades arquitetônicas hoje cada vez mais escassas. E, no subúrbio, resiste-se à ditadura de uma homegeneização arquitetônica: uma puxadinha aqui, para abrigar mais um parente, um andar a mais para acolher a filha que casou…

Muitas casas, moradias eternamente inacabadas, em que a falta de emboço escreve nos tijolos aparentes a história da permanente falta de dinheiro.

Chego ao meu destino: Realengo. Na larga avenida, os muros altos e compridos a não mais poder escondem os quartéis, lugares sérios e proibidos ao menino que só queria não perder sua pipa ou seu balão.

Sim, ainda há pipas e balões no subúrbio. Essa humanidade profunda contida nas brincadeiras infantis; no cansaço nunca sentido depois das longas “peladas” jogadas em campinho de várzea; no sabor da fruta madura roubada dos quintais; no cheirinho que sobe depois da chuva nas ruas de terra – tudo isso está lá em Realengo, convivendo com o progresso, que invade, célere e inevitável, os redutos suburbanos.

Lá estão as moças bonitas, o papo no bar da esquina, e essa figura tão rara em outros cantos da cidade: o vizinho. Está lá esse ser da casa ao lado, da mesma rua. Esse alguém que empresta ovos e açúcar; que ajuda no mutirão da construção da casa. Essa pessoa que vai entrar na família, virando compadre, virando nora ou genro, chegando e ficando para sempre, dando alma e corpo à amizade.

Realengo está lá, e vale a pena saber que os bairros lá estão, cheinhos de gente muito boa, cuja pele sua no trabalho como escorrem as gotas na garrafa da “loura gelada”.

Volto de alma nova. E cantando com o Gil: Alô, alô, Realengo! Aquele abraço!


J. Carino é professor universitário

fonte: A postagem original é neste link, muito interessante,
http://www.almacarioca.com.br/realengo.htm

sábado, 14 de novembro de 2009

Realengo pelo Professor Sinvaldo Nascimento Souza

A palavra "realengo" tem a sua origem no latim vulgar "realengu", e tanto pode significar aquilo que pertence ou é relativo ao rei ou a realeza ou próprio dele ou dela, como também aquilo que é publico, "sem dono". O saudoso professor Helton Veloso, fundador do Colégio Belizário dos Santos, de Campo Grande, que era também um pesquisador da Historia da Zona Oeste, preferia explicar a denominação do geonomastico como junção da palavra "real" com a abreviatura de "engenho" (Eng°), bastante usual nos séculos passados. Realengo fazia parte da jurisdição da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande desde a sua criação em 1673. Somente em 1926, com a assinatura do Decreto n° 2.479, de 11 de novembro, foi instituído oficialmente o distrito de Realengo.

As terras realengas

As chamadas terras realengas eram públicas. Não podiam ser doadas como foram sesmarias de Cristovão Monteiro, em Santa Cruz, que passaram a propriedade da companhia de Jesus. Eram "realengas", e por isso mesmo destinavam-se à engorda do gado. Ainda assim. "alguns terrenos já haviam sido invadidos por particulares antes de 1660, ano em que os provimentos de Correições definiram como bens do Conselho para uso público e Campo Grande e o Campo de Irajá, conforme Fania Fridman, em seu recente livro "Donos do Rio em nome do Rei - Uma historia fundiária da cidade do Rio de Janeiro" . em co-edição da Zahar com a garamond. " O Alvará é bom que se entenda, era uma espécie de resolução soberana referendada pelo ministro competente a respeito de negócios públicos ou particulares, em geral de efeito temporário. O termo colativo referia-se ao beneficio eclesiático vitalício da então Freguesia Nossa Senhora do Desterro a qual jurisdição estavam inclusas as terras realengas. Estas não poderiam ser alienadas e muito menos transmitidas aos herdeiros, no entanto ficava autorizada a venda em leilão publico com preços estimados judicialmente. Ainda de acordo com Fridman, " pela provisão de 18 de Julho de 1814 e pela portaria de 29 de dezembro de 1815 foram conservadas as casas e terrenos de dez famílias nas terras realengas. Nesta época estabeleceram-se vendas e ranchos até que, em Agosto de 1825, a Câmara, preocupada com os abusos, mandou realizar um vistoria e concordou em manter somente aqueles que pudessem apresentar seus títulos ou que estivessem á beira da estrada, pelo lado direito. Ficou determinado que: 1) seus terrenos não poderiam exceder 30 braças de testada com vinte de fundos; 2)não seriam permitidas novas invasões; 3) houvesse um intervalo de cinquenta braças entre os moradores; 4) este intervalo deveria ser mantido limpo; 5) o foro seria fixado em 200 réis para cada braça de testada. destaquemos que foi mantida a posse de Francisco Joaquim de Menezes , com 65 braças de testada por 50 de fundos, e proibida a utilização para pastagem da parte da sesmaria localizada na Capoeira". O livro de Fania Fridman vem ilustrado com varias plantas de Realengo.
Que nos possibilita visualizar a evolução urbanística daquela área da atual Zona Oeste, que já no inicio da segunda metade do século XIX, iria ocupar um papel destacado no cenário militar. "Em 1857, estas terras, de meia légua e reservadas para pastagem, tornaram-se propriedade da Câmara Municipal. Uma comissão constituída para realizar um planta estabeleceu que todos os foreiros deveriam tirar novas cartas. Foi verificado que 19 prazos possuíam 30 braças de testada, oito com frente variando entre 60 e 130 braças e os demais medindo apenas de 5 a 28 braças. o governo comprou algumas posses para a construção de um aquartelamento militar. o Campo do Marte onde incluía uma Escola de Tiro e a Imperial Academia Militar, estabelecido em 1859. O Realengo foi retalhado, dividindo em quadras regulares estabelecidas ao redor de dois campos e nestas mas os terrenos foram aforados. (...) O Ministério da Guerra construiu um chafariz e encanou a água do Rio Piraquara até o centro do arraial. (...)

“O processo de ocupação transformou o Realengo de Campo Grande em uma zona militar cujo ápice foi o estabelecimento da Escola Preparatória e de Tática e do 1º Batalhão de Engenheiros em 1897. No Largo foram construídas moradias dos operários da Fábrica. Esta mudança de uso, de um povoado agrícola para uma localidade residencial, industrial e de serviços, implicou um processo de urbanização e de valorização fundiária cuja marca foi a de Ter sido empreendido pelo Estado”, acrescenta Fridman.

A Escola de Tiro de Campo Grande

Na verdade deveria chamar-se Escola de tiro do Realengo ( ou pelo menos do Realengo e Campo Grande), uma vez que suas instalações se encontravam nas proximidades do Campo do Marte. Este estabelecimento militar, criado em 1859, fazia parte da pequena rede escolar do Exercito e tinha como finalidade " ensinar o jogo e o tratamento das diferentes armas de fogo e a adestrar oficiais e soldados nas regras práticas do tiro", conforme Decreto 2.42, de 18 de maio de 1858, citado por Jehovah Motta, no livro "formação do Oficial do Exército". O autor desde a metade do século XIX, os nossos chefes militares, ou pelo menos alguns deles, sentiram com acuidade o problema do ensino militar, quiseram no prático e objetivo, bem amarrado a sua destinação especifica" " Assim foi quando imaginaram e criaram a Escola de Tiro de Campo Grande, destinada a fazer tenentes e sargentos conhecedores do armamento e hábeis no tiro, capazes portanto, de como instrutores e monitores, elevar o nível de adestramento da tropa." A Escola de Tiro de Campo Grande encerrou suas atividades em 1865, no mesmo ano em que a Escola Militar da Praia Vermelha ficava reduzida apenas ao curso preparatório, talvez em decorrência aos esforços de guerra, tendo em vista o inicio do conflito com o Paraguai, que somente terminaria cinco anos depois.

Escola Preparatória e de Tática do Realengo

Foi inaugurada em 5 de Junho de 1898. Era destinada ao ensino teórico e prático do curso preparatório para a matricula na Escola Militar do Brasil, sendo frequentada por oficiais e praças de pré do Exército. De acordo com Jehovah Motta, " O pouco que se conseguiu no fortalecimento do ensino técnico-militar e, não correu por conta da Escola Militar do Brasil e sim pelas escolas "preparatórias e de tática" , no Realengo e no Rio Pardo. Não que nestas o "ensino prático" tivesse atingido elevado grau de eficiência, mas de qualquer forma algo se fazia. "O General Leitão de Carvalho foi aluno no Realengo, entre 1898 e 1900, e assim depões. "Sem que atingissem o nivél desejado, as atividades escolares, no 2° ano, melhoraram sensivelmente. Recebendo armamento, o Corpo de Alunos assumiu caráter militar. Começamos a praticar o tiro ao Alvo. Isso sem preparação prévia quanto ao conhecimento do manejo e das qualidades balísticas da arma. O ensino prático pouco a pouco foi tomando forma, com a introdução de algumas novidades, além dos exercícios de ordem unida, completados por marchas e evoluções - mudanças de posição dos elementos constitutivos das unidades, sem objetivo tático - espécie de quadrilha , sem os pares e a música. Uma dessas novidades foi a esgrima de baioneta". (citação de Leitão de Carvalho in "Memórias de um Soldado Legalista v.1. p.22-25). Sobre o prédio onde funcionava a Escola preparatória e de tática do Realengo, Noronha Santos observa: "Funciona em um belo edifício no Campo de Marte, há poucos anos constuido para o quartel de infantaria. Possui vastas acomodações: tem 90,52 m de frente e 101,60m de fundos. O portão principal tem 2,50 m de largura. Situada a direita do leito da estrada de ferro, do lado oposto da estação do Realengo. No edifício da Escola a linha da estrada distam 22.50m.
No pavimento térreo, ficam, para o campo exterior, treze janelas em cada lance, e no pavimento superior, cinco janelas de sacadas. Todo o estabelecimento é iluminado a luz elétrica, existindo no pátio um grande foco de luz. Antes de ser criada a Escola Preparatória e de Tática, esteve aquartelada nesse edifício a Escola de Tiro, extinta em 1897, por ato do governo. As quatro companhias de alunos ocupam igual número de alojamento, ficando do lado direito do edifício a 1ª e 2ª companhias e do lado esquerdo a
3ª e 4ª companhias. Durante a revolta aquartelou no edifício um contingente de guardas nacionais".

O autor das notas do livro " as Freguesias do Rio Antigo vistas por Noronha dos Santos", Paulo Berger, acrescenta que , "com a eclosão , em 14 de novembro de 1904, de um movimento sedicioso politico-militar originário na escola Militar do Brasil da praia Vermelha, por motivo da decretação da vacina obrigatória pelo Governo, e com apoio de grande parte dos alunos da Escola Preparatória e tática do Realengo, houve um colapso nesta instituição de ensino militar, dando-se o seu encerramento."

Posteriormente - acrescenta Berger - , impõe-se a reorganização imediata do ensino militar, e pelo Decreto n° 5.698, de 2 de Outubro de 1905, transforma-se a Escola Preparatória e de Tatica do Realengo em Escola de Artilharia e Engenharia, Escola de Aplicação de Cavalaria e infantaria, e Escola de Aplicação e Engenharia. Em 1911 a Escola de Guerra de Porto Alegre, é transferida para o Realengo, com extinção da Escola de Aplicação de Infantaria e Cavalaria.”

Recordações do Realengo

O General Lobato Filho, autor do livro "A Ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", dedica uma boa parte da sua obra para falar do Realengo, o qual trata como "triste subúrbio", "Ao chegarem ao Realengo começavam as despedidas. Surgia, então, um pouco de sentimentalismo. Aquela despedida aos velhos companheiros do Realengo era feita sob forte emoção e fazia nascer no intimo do novo cadete do curso superior uma grande saudade. Era como se os cadetes, ao deixarem a Escola preparatória, a absolvessem de dotas as maldades que ela lhes houvesse feito. " Daquele momento em diante o novo cadete da Praia Vermelha passava a ter recordações da vida um pouco menos brilhante, mas nem por isso desinteressante, passada nas Escolas Preparatórias. ninguém poderia esquecer, por exemplo, a noite silenciosa, de luar prateado, no Realengo, em que, altas horas, mesmo de madrugada, quebrando a solidão daquele triste subúrbio, vem chegando até a Escola os sons dolentes e muito sentimentais de uma linda serenata (o violão, a flauta e a voz harmoniosa do trovador, ouvidos muito de longe, lá do fim de uma daquelas estradas vindas da Serra do Barata, do lados de Bangu ou de outros lugarejos onde se realizara algo de interessante para a mocidade, e vem se aproximando vagarosamente da Escola, remexendo os corações dos cadetes os quais, muito mais amigos da Álgebra, da geometria e da Trigonometria do que dos violões, das flautas e dos trovadores, terminando os seus estudos da noite, estavam já mergulhados em sono profundo."

Mais adiante, Lobato Filho faz a pro-memória dos passeios pela antiga Zona Rural: "Muitos guardariam também recordações dos adoráveis piqueniques na Caixa D´água ou na velha fazenda do Gericinó que naquele tempo era somente uma velha fazenda, pois ainda não fora transformada no vasto Campo de Instrução. Para esses passeios aproveitavam-se as combinações de dias feriados e domingos e lá saiam, geralmente alta noite, as grandes caravanas conduzindo os enormes volumes chamados "pianos", contendo aprovisionamentos que eram conseguidos na própria Escola, com autorização do Comando, por conta das etapas dos componentes dos piqueniques. Eram gozados em Gericinó dias de vida campestre, livres das formaturas e, sobretudo, do famigerado toque de lavatório das 4 1/2 da madrugada. os piqueniques levavam sempre uma turma de seresteiros."

"Outros guardariam saudosas recordações das Repúblicas espalhadas pelo Realengo, formadas pelos felizardos cadetes que logravam um desarranchamento e permissão para residir fora da Escola. Eles ostentavam nomes impressionantes: Cabana de Arakém, de visitas e alegres palestras nas horas de descanso e aos domingos."

" O Realengo - continua Lobato Filho - não possuía esse benéfico aspecto (referindo-se ao orgulho manifestado pelos cadetes de Rio Pardo, ao reencontrarem seus notáveis professores na Praia Vermelha), pois eram um lugar onde não se formou nunca uma sociedade de famílias civis nem militares, não obstante existirem ai três grandes estabelecimentos: a Escola, a Fabrica de Cartuchos, o 1° Batalhão de Engenharia. Mas os respectivos professores, oficiais e funcionários residiam na cidade e só permaneciam no Realengo durante as suas poucas horas de trabalho. O Realengo era uma espécie de lugar indesejável", acrescenta o autor.

Mesmo diante dos cáusticos comentários sobre o Realengo, o autor de "A ultima noite da Escola Militar da Praia Vermelha", reserva algumas passagens do seu livro para falar de passagens pitorescas, durante a sua jornada trienal na antiga Escola Preparatória do Realengo.

Merecem um parágrafo especial, no que se refere ás recordações do Realengo, certos fatos talvez um tanto escabrosos que muitos cadetes haviam de querer varrer do espírito, considerando-os como ocorrências do passado, mas que não deixaram de se apresentar, no momento em que as reminiscências não se escondem.

" Uma dessas coisas um tanto escabrosas era o Miguel das Laranjas ou Miguel das Suissas, com as suas dezenas de cadernos de contas velhas e novas, mas todos sabiam que os seus prejuízos não eram muito avultados pois já havia ele acrescido ao preço do custo uma bem grande percentagem de lucro. Ademais, O Miguel gozava das boas palestras dos cadetes.

Outra, era o Sans Souci, o célebre e restaurante do Mário que depenava os cadetes com os seus preços arbitrários; mas o Sans Souci era uma defesa contra o rancho da Escola." Quem também se refere ao Restaurante Sans Souci, é João de Abreu Lins, no seu livro intitulado "Memórias do Realengo", editado pelo Governo do Estado de São Paulo, em 1984.

" Era um restaurante modesto de subúrbio, localizado próximo da Escola, o qual ficava superlotado de cadetes depois das 17 horas e 30 minutos, após a liberação dos portões da Escola Militar diariamente." "Parecia uma festa àquela hora, as mesas do Sans Souci ficavam cheias de cadetes que ali iam saborear um copo de vitaminas, uma sobremesa, ou mesmo uma bóia diferente do rancho da Escola."
" A algazarra da cadetada se misturava com o som permanente do rádio que ficava no alto tocando as musicas, sucessos carnavalescos de Carmem Miranda, Orlando Silva, Noel Rosa e Francisco Alves.

"Alguns cadetes ficavam de pé na "piruação" e uma vaga nas mesas e todos conversavam animadamente num vozeiro infernal.

" O saguão era ligado a cozinha por uma abertura na parede, por onde iam sendo recolhidos os pratos com as iguarias da casa, entre elas o "completo" que constava de : arroz, batata frita, um suculento bife e em cima dois ovos fritos.
" Esta especiaria da casa era muito apreciada pelos cadetes, e custava naquele tempo apenas 3 mil réis.
" Sempre que o cadete pedia um completo, pedia em seguida o acompanhamento, ou seja meia garrafa e cerveja Malzibier ou uma caneca de vinho rio Grande do Sul".

" O dono do restaurante, Seu Martins", era um português legitimo de grossos bigodes e muito vermelhão que sempre estava atrás da da "registradora" faturando e fazendo o troco.

"Naquele ambiente de descontração os cadetes faziam as suas irreverências, os seus comentários sobre os "frangos", sobre os fatos ocorridos naquele dia nas aulas ou nas instruções, faziam seus planos, seus coméntarios sobre mulheres era a hora do desabafo do cadete." E por falar em mulheres, vale ainda transcrever mais um trecho do livro do -general Lobato Filho, durante o seu " internato" na Escola do Realengo.

" Agora a D. Joaquina ! Mantinha ela com os jovens preparatorianos, não com todos mas com muitos, um comércio de certa mercadoria de que eles não se podiam ir prover na cidade, não só por falta de tempo como porque ali era muito mais cara essa mercadoria indispensável à vida.

“D. Joaquina não tinha empregadas: ela era só na tarefa. Rústica e sem nenhuma compreensão das coisas, a Joaquina parecia Ter idéia de oficializar o seu comércio, pois em certa ocasião, conseguiu iludir os contínuos e chegar até à presença do Comandante, para queixar-se de que era pela "ônzima" vez (11ª) que o cadete Maribondo ia ao seu estabelecimento e não lhe pagava as contas. “Cá está o caderno, Sr. General, saiba V. Excia., que eu vivo disso e está ele a atrapalhar-me o negócio ! (...)
D. Joaquina tinha uma concorrente no mercado clandestino de mercadoria barata e a crédito. Era a Madame Lafitte. A afluência às feiras dessas humanitárias mercadoras (aqueles Bacuraus, como em Recife se denominam as feiras noturnas), era tão volumosa que já a esse tempo, quase formavam filas.

Assim, sob as saudades criadas por mil recordações, iam os novos cadetes, cheios dos projetos, esperanças e sonhos, empreender um prélio acadêmico, na tradicional Escola da Praia Vermelha e todos fixavam um primeiro objetivo - o prêmio de Alferes - aluno, que se achava como que situado no alto de uma escarpa íngreme, áspera e de difícil acesso", conclui Lobato Filho.

A vida dos cadetes do Realengo não era só brincadeira, estudos e irreverências. A Escola em diversos momentos, teve uma presença marcante da historia brasileira, posicionando-se ao lado das forças populares, como em 1904, durante a Revolta da Vacina e em 1922, protestando contra o Governo do presidente Artur Bernardes.

Realengo também serviu como uma espécie de laboratório do Exercito. Tanto para as experiências práticas, como teatro de operações para os treinamentos militares de 1884, sob o comando do Conde D'Eu e outros exercícios semelhantes realizados nas primeiras décadas do período Republicano, como também para adaptar-se às novas teorias militares introduzidas a partir das missões európéias, em particular sob a orientação francesa, prussiana e germânica.

A chamada "Era do Realengo" vai durar até o ano de 1944, quando começa a funcionar o primeiro curso da Academia Militar das Agulhas Negras, no município de Resende.

Sinvaldo do Nascimento Souza

fonte: Região Administrativa de Realengo, confirmado o texto com o próprio autor por email e também no link http://hgpaulo.com/ramaldesantacruz/realg.htm

Trio Ternura

Um grupo vocal de Realengo, que deveriam estar no livro de recordes! Afirmamos isto, porque quem teve a honra de receber o prêmio de vencedor duas vezes seguida nos festivais da canção?
Eles tiveram esta honra..primeiro acompanhando Tony Tornado, na interpretação de " Br3 " e depois sozinhos no ano seguinte com Kyrie.

BR-3 e Tony Tornado - 1970


V FIC - 1970
BR-3, fez mais do que vencer. Confirmou o prestígio da dupla Antonio Adolfo e Tibério Gaspar que há vários festivais ameaçava o primeiro lugar e lançou Tony Tornado.





Acompanhado pelo Trio Ternura, Tonylevantou o público do Maracanãzinho e venceu a maratona da canção.


Trio Ternura - 1971

Uma canção de Marcelo Silva e Paulinho Soares, representou o Brasil no VI FIC. Kyrie, foi interpretada pelo Trio Ternura (Jurema, Jussara e Robson) e com um estilo meio barroco, se destacou por ser considerada bastante diferente das concorrentes internacionais.
O trio se apresentando Kirye no VI FIC.



Em um momento da carreira eles tiveram o privilégio de serem produzidos por um jovem talento da nossa MPB, Rauzito que depois se transformaria no fenômeno Raul Seixas.

vejam aqui a discografia do Trio Ternura.

http://www.jovemguarda.com.br/discografia-trio-ternura.php


Entramos em contato por email com as cantoras, Jussara e Jurema e contam que atualmente trabalham com Ana Carolina.

Mas pedem que uma coisa deve constar no resgate historico de Realengo: O pai delas Humberto Silva (falecido recentemente), é um dos compositores desta musica abaixo, que muito embalou os carnavais de outrora.

ATÉ QUARTA FEIRA
(H. Silva e Paulo Sete - 1968)

Este ano não vai ser
Igual aquele que passou
Eu não brinquei
Você também não brincou
Aquela fantasia que comprei
Ficou guardada
A sua também, ficou pendurada
Este ano, meu bem, tá combinado
Nós vamos brincar separados
Este ano, meu bem, tá combinado
Nós vamos brincar separados
Se por acaso meu bloco
Encontrar o seu
Não tem problema, ninguém morreu
São três dia de folia e brincadeira
Você pra lá, eu pra cá
Até 4ª Feira
Lá, lá, lá, lá, lá, lá,....

fonte: emails trocados com Jussara e Jurema e dados do blog: http://festivaisdacancao.blogspot.com/

Cique neste link e veja a reportagem deles no caderno Zona Oeste de O Globo e Extra.
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/posts/2010/03/15/dupla-que-ainda-espalha-ternura-273799.asp

E se desejarem contato com Jusaara Lourenço , ex integrante do Trio, ela é seguidora do Blog e do Facebook  Pró Realengo.

As Pastorinhas de Realengo


Um livro que resgata uma atividade cultural.
AS PASTORINHAS DE REALENGO
autora : Ermelinda Azevedo Paz
FUNARTE / Concurso Silvio Romero 1983
MENÇÃO HONROSA / UFRJ / PROED - Rio de Janeiro 1987


INTRODUÇÃO
O nosso interesse neste grupo de Pastorinhas residiu no fato de havermos morado durante vinte anos em Realengo e termos tido a oportunidade de assistir a seus ensaios e presentações, quando da sua última geração, fazendo parte daquela comunidade e tendo ali, durante estes anos, toda nossa vida social. Conhecíamos todos os integrantes da terceira e última geração. Eram amigas de escola, brincadeiras, jogos, sendo todas da vizinhança.
Quando nos mudamos de Realengo, as Pastorinhas já haviam parado há cerca de dois anos e não sabíamos o quão importante eram, não tínhamos conhecimento de que aquilo que víamos e fazíamos sempre no período de Natal era um folguedo folclórico, um auto natalino, cuja preservação era da maior importância. Com nossas colegas ocorria o mesmo, as Pastorinhas eram uma diversão local. Desconheciam o que vinha a significar folclore, raízes, cultura popular, etc.
Só depois de quatro anos longe de lá tomamos conhecimento do que significavam as Pastorinhas, do ponto de vista social e cultural.
Começamos a pensar em toda aquela realeza nos seus mínimos detalhes e concluímos que aquilo não poderia ficar no desconhecimento, não poderia morrer com sua extinção, sem que ninguém, fora os de lá, soubesse que existiu. Era rico demais, muito importante para ficar apenas na recordação de cada um que ali assistiu ou representou. E foi vislumbrando a possibilidade de, através deste trabalho, ver despertado o interesse para o grupo, embora extinto, de autoridades, Departamentos ou Secretaria de Cultura, que nos pusemos de volta ao passado.
Sentimo-nos na obrigação de fazer alguma coisa, já que éramos os únicos a poder fazê-lo e, então, chamamos a nós o dever de reconstruir tudo a que assistimos.
Procuramos todas as pessoas, as amigas, Dona Guidinha, gravamos todas as músicas, copiamos todos os textos, fizemos e gravamos várias entrevistas e voltamos muito a Realengo para esclarecer fatos pois, à medida que o trabalho ia crescendo, novas idéias iam brotando e constatamos que não poderíamos somente falar das Pastorinhas. Seria necessário também falar do lugar, das pessoas, para que quem nunca assistiu ou soube de sua existência pudesse ter o máximo de dados, visando a possibilidade de construir uma imagem mental à altura do que era feito.
Nosso objetivo em parte foi cumprido, está aqui nas páginas que se seguem. Fica faltando agora o troco que as pessoas de lá bem merecem. Que sejam ajudadas a remontar e a levar ao conhecimento de muitos a preciosidade que até o momento foi privilégio de poucos.

obs: livro disponivél para download em arquivo PDF neste link.
http://usuarios.uninet.com.br/~ermepaz/livros/pastorinhas.pdf

Historias perdidas no tempo. Pioneiros da Aviação.


ASCENÇÃO DE BALÃO - Realengo - 1908
Hoje saimos do eixo Zona Sul - Centro da Cidade e vamos parar, na época, longínqua Realengo na área militar, onde atualmente ainda é.

A foto é um registro desconhecido por muitos dos momentos antes da ascenção do balão pilotado pelo Tenente Justino da Fonseca.

O tenente Justino tinha a ideia de dotar o Exercito Brasileiro de um nucleo de aeroestação, para isso eram necessarios balões. Viajou à Europa para adquirir o material necessário para o Parque de Aeroestação. Especializou-se em navegação aérea e participou de eventos.

De volta ao Brasil, marcou uma demonstração de vôo às autoridade (foto acima), para o dia 20 de maio de 1908 defronte a Escola de Artilharia e Engenharia, em Realengo.

O vôo começou bem com o balão tentando alcançar os previstos 200 metros quando um dos cabos de retenção arrebentou e o balão perdeu o controle alcançando o que se estima uns 1000 metos quando foi levado por correntes de vento à Serra do Barata. O tenente tentou controlar a decida abrindo a valvula de gás mas houve também problemas e a queda foi inevitavel.

O tenente Justino foi a primeira vitima da aviação no Brasil. Foi enterrado no Caju, e hoje seus restos mortais se encontram no Mausoléu dos Aviadores no Cemitério São João Batista.

fonte: http://www.flickr.com/photos/carioca_da_gema/67937531/

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Uma homenagem a Augusto Severo

Pioneiro da aviação mundial teve seu nome em rua santista, em 1902

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Nascido em Macaíba (interior do Rio Grande do Norte) em 11 de janeiro de 1864, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão é considerado o "Mártir da Tecnologia Aeronáutica", por ser um dos pioneiros nessa atividade e ter falecido em um acidente aéreo em Paris, em 12 de maio de 1902.

Era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão, tendo 12 irmãos, destacando-se Pedro Velho (que proclamou a república no Rio Grande do Norte, estado de que foi o primeiro governador) e Alberto Maranhão (presidente desse estado de 1900 a 1904 e deputado federal de 1927 a 1929). O próprio Augusto também foi deputado federal, e conseguiu no Congresso que o governo concedesse uma verba de cem contos de réis para apoiar as experiências de Alberto Santos Dumont.

No Campo de Tiro do Realengo, no Rio de Janeiro, era em 1894 testado o Bartholomeu de Gusmão

Foto: Musée de L'Air Le Bourget

Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania, seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em homenagem ao pioneiro santista), construído em 1893 em Paris pela casa Lachambre & Machuron, a mesma que produziu vários balões para Santos Dumont. Tinha estrutura de bambu (por falta de recursos para fazê-la em alumínio), e estrutura rígida, antecedendo de 14 anos a experiência do conde Zepellin no lago Constança (na Suíça). Em 14 de fevereiro de 1894, foram feitos os primeiros testes de ascensão, mas a barca se partiu, danificando a estrutura. O insucesso e o fim da Revolta da Armada, no qual o governo brasileiro pretendia empregar o aparelho, levaram ao abandono do mesmo.

Augusto Severo voltou a Paris em 1902 para acompanhar a construção de um novo dirigível, o Pax, que se elevou no ar pela primeira vez em 12 de maio daquele ano, em testes com o aparelho preso ao solo, no parque aerostático parisiense de Vaugirard. Após dez minutos de evoluções, a 400 m de altura, uma explosão rapidamente destruiu o aparelho, causando a morte imediata do aeronauta e do mecânico Sachê. No local da queda, na Avenue du Maine, existe uma placa de mármore em memória de ambos.

Investigações posteriores indicaram que a falta de recursos financeiros para o projeto levara a algumas substituições que o próprio Augusto Severo considerava perigosas. A barca, projetada originalmente em alumínio, foi feita em bambu, mais pesado, o que tornou necessário aumentar a quantidade de hidrogênio no balão. Uma das válvulas de segurança para compensar o aquecimento do hidrogênio estava sobre o motor, que por sua vez era movido a petróleo, em lugar do motor elétrico previsto no projeto. O hidrogênio comprimido, saindo em jato sobre o motor aquecido, teria causado a explosão fatal.

Na proa, Augusto Severo comanda o balão Pax, tendo na popa o mecânico Sachet

Foto: Musée de L'Air Le Bourget

Matéria publicada no Almanaque de Santos - 1971 (editado pela Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP, em fins de 1970) pelo então jornalista responsável, Olao Rodrigues, registra a homenagem santista a esse pioneiro:

Augusto Severo

Foto publicada nos sites

Inventa Brasil (desativado) e Pioneiros do Ar

Augusto Severo, como se sabe, morreu tragicamente no dia 12 de maio de 1902, quando realizava experiência com o seu balão Pax, em Paris. Subindo do Parque Vaugirand (N.E.: o nome, embora também seja encontrado em outras publicações, é corretamente grafado Vaugirard), o aeróstato incendiou-se a uma altura de 400 metros, precipitando no espaço o arrojado aeronauta e seu companheiro Sachet, mecânico francês, que dirigia as manobras.

Em sua primeira sessão ordinária, após a deplorável tragédia que roubou à Pátria e à humanidade ilustre brasileiro mártir da ciência, a Câmara Municipal de Santos aprovou, por unanimidade, no dia 22 daquele mês e ano, indicação do dr. Francisco Malta Cardoso, então intendente municipal.

Segundo a propositura, a Edilidade contribuía com a quantia de um conto de réis "na subscrição que for iniciada para aliviar a pobreza da desolada família desse nosso ilustre patrício; que a uma das ruas da Cidade, a primeira que se abrir, seja dado o nome de Augusto Severo". E assim nasceu a Rua Augusto Severo, em pleno centro urbano, que vai da Rua General Câmara à confluência da Rua 15 de Novembro e Praça Barão do Rio Branco.

Cartão postal francês, com a partida do Pax e as fotos de Severo e Sachet

Foto publicada nos sites Inventa Brasil (desativado) e Pioneiros do Ar

Augusto Severo em Paris, tendo à sua direita Álvaro Reis (filho do engenheiro Manuel Pereira Reis, que devia também subir no Pax). À sua esquerda, o mecânico Sachet

Foto publicada no site O Pioneiro Esquecido, que reproduz livro de Augusto Fernandes com a biografia daquele pioneiro potiguar


fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0058q.htm